Dusky entrou de volta em sua cabana, depois de Bestial se negar a ir embora, e infelizmente, os dois entraram também. Ele sentiu o cheiro de Rebbeca no corpo dos dois e rosnou. Tudo estava em ebulição em seu corpo, de tal forma que sua mente estava confusa, ele parecia estar focado apenas em Rebbeca, ele a ouvia, sentia seu cheiro e até seu humor. Ela estava triste. Ele estava furioso. Sorte dos dois imbecis que eles eram tão pouco desafio para ele, que não era difícil se impedir de machucá-los. Toda a confusão que a luta que seu corpo e sua razão travavam porém, o faria destroçar os dois se ele perdesse o controle, então, Dusky respirou fundo.
"Bestial eu entendo que esteja aqui, mas qual seu interesse nessa história, Honest? Por que Rebbeca lhe pediu ajuda? Ou melhor, por que ela pediu a ajuda de Simple?" Dusky os amava, como todos, mas Dusky sabia o que eles estavam se tornando, ele sentia que quanto mais afastados eles estivessem da Reserva, melhor.
"Nós passamos as férias de dezembro na administração, acabamos todos como uma grande família." Ele disse, com um tom malandro, talvez sorrindo. Bestial trocou o peso do corpo de um pé para outro, Dusky viu que ele não gostou nada de ouvir isso. O cheiro de Bestial estava misturado ao cheiro de Mônica, isso indicava que ele e a irmã de Rebbeca poderiam estar se vinculando. Honest era um filhote, mas estava com o corpo adulto já, o que despertaria ciúme num macho normal, em Bestial isso seria um pouco pior. Mas não era problema de Dusky. Rebbeca sentiu carinho por ele, então ele não era uma ameaça para Dusky.
"E o que você acha que pode fazer?" Dusky se sentou e se enrolou numa manta. Estranho como o cheiro de Ann ainda o acalmava, mas também era a única coisa que o retia ali naquela cabana fria e sem vida.
"Posso te ajudar a frear um pouco seus instintos. É isso o que está impedindo você e Rebbeca de ficarem juntos, ou não?" Ele disse, seu rosto sério, compenetrado. Ele parecia bem seguro de conseguir isso, mas Dusky não queria ter esperanças, ele estava cansado.
"Não é só isso, e eu consegui me segurar bastante bem nesses mais de vinte e três anos de liberdade, sem você aparecer aqui achando que eu seria sua cobaia." Dusky disse, mas ele continuou o encarando. Dusky sentiu seus olhos presos ao brilho duro e frio dos olhos dourados daquele filhote, mesmo sem o enxergar de verdade. Isso lhe dava um sentimento ruim, sentir o quanto aquele filhote poderia ser mal, se fosse necessário. Dusky era forte, era quase indestrutível, mas Dusky tinha um coração frágil, mole, segundo Blue. Essa era a sua fraqueza e com o passar dos anos isso se tornou uma virtude. A bondade era frágil, custosa de manter e difícil de desenvolver, Dusky sempre quis ser bom, então trabalhou toda a sua vida nisso. Os leãozinhos estavam no limiar entre bondade e maldade, os dois extremos tinham suas vantagens, mas a maldade era mais satisfatória, infelizmente. As vezes ser bom era quase a mesma coisa que ser bobo, ingênuo. Só depois de muito tempo a bondade dava seus frutos, exigia paciência, afinal procurar satisfação não era o alvo. Ser bom por simplesmente ser bom já era uma dádiva.
"Então Rebbeca pode vir?" Bestial disse, ele era uma alma mais simples, mais direta.
"Não." Essa pequena palavra saiu rasgando por sua garganta, doendo, machucando. Nem mesmo depois das mortes de Blue e Ann, Dusky tinha se deparado com tal dor. Ele não sabia como digerir isso, não sabia como se portar, ou o que falar com Rebbeca. E isso era o pior. Eles viveriam fazendo sexo todos os momentos? E os filhotes que viessem? E o filhote que poderia já estar dentro dela? Como seria isso? Ele estava ficando louco com ela a poucos quilômetros dele, mas sabia que enlouqueceria de vez com ela ao seu lado. E isso era a parte prática da situação deles. Havia outra perspectiva dessa situação e isso era o que o impedia. Dusky olhou para o leãozinho e deixou ele perceber seu dilema.
"Você tem de aprender. Tem de se controlar. Lembra de todo o problema de Bells? Eu poderia ajudar." Honest continuava com o olhar fixo nele, mas Dusky sentiu compaixão e isso ajudou um pouco. Bells levou um tempo para poder ter controle de sua violência no sexo, e venceu a batalha. Bells era bom, era puro. Dusky não.
"Com drogas?" Ele indagou, Honest não desviou o olhar. Dusky não iria aceitar ter seu corpo sacudido por reações artificiais, planejadas, esperadas. Não. Ele não arriscaria. O celular de Honest tocou, ele não atendeu e estendeu para Dusky. Dusky pegou o aparelho, o examinou.
"Aperte o verde." Honest disse, Dusky fez o que ele disse e colocou o aparelho ao ouvido. Bestial franziu as sobrancelhas. Dusky não era totalmente cego, ele não sabia disso?
"Dusky." A voz idêntica a de Honest o cumprimentou. Ainda que ele não estivesse ali, Dusky sentiu quem era.
"Candid." Ele, sempre ele.
"Pode confiar em nós. Vamos te ajudar, eu prometo." Ele disse, Dusky sentiu verdade, mas não era tão simples.
"Vocês querem me drogar, eu nunca aceitarei isso." Dusky respondeu.
"Não, não queremos te drogar. Provavelmente nenhuma droga faria efeito em você, sabe disso não é?" Dusky se levantou. A compulsão por Rebbeca estava confundindo a mente dele mais do que ele tinha percebido. Seu corpo era resistente a muitas drogas. Ele ficou assim depois de todas as experiências, ele não era normal. O que aqueles pestinhas estavam propondo então?
"Seu corpo é imune, Dusky, mas sua mente pode ser manipulada. Pense nisso, podemos ajudar, nada muito forte, só uma contenção ou uma rotina. O que acha? Rebbeca cumpre bem regras pré-estabelecidas, isto está na mente dela, o cio nada mais é do que isso. Quando dizemos que queremos ajudar é isso que estamos propondo." A voz dele soou em seus ouvidos, Dusky rosnou. Era muito o que eles pediam. Dusky desligou o aparelho e entregou a Honest.
"Dusky. Eu sei que pode parecer que eu tenho um interesse pessoal nessa história e tenho, mas se você visse Rebbeca, ela está..." Bestial começou, Dusky se virou para ele rilhando os dentes.
"Eu sou cego, idiota, esqueceu?" Ele perguntou, Bestial abriu mais os olhos, ou pareceu que ele fez isso, ele tinha cabelos marrons, olhos azuis e pele bronzeada, pelo menos isso parecia a Dusky, o que fazia com que Dusky não enxergasse ele bem. Ou era só por nunca ter reparado ou ter se ligado a ele de alguma forma, pois as feições bonitas de Honest iluminadas pelo fogo de seus cabelos eram facilmente discernidas pelos olhos cegos de Dusky.
Honest riu, Bestial fechou o semblante, suas sobrancelhas grossas se mexeram.
"Acho que entendeu o que eu quis dizer." Uma boa resposta. Onde será que ele estava quando Minerva veio a Reserva pela primeira vez? Ele parecia menos idiota que Pride.
"Eu não vou deixar vocês mexerem com a minha mente. Muito menos com a de Rebbeca." Ele disse lhes dando as costas, ficando a frente da claridade da janela. A luz o cegava e isso era bom, muito bom. E o lembrava de Ann. A cabana tinha de ficar às claras para ela enxergar. Ela costurava e falava. Falava das irmãs, de Livie, da riqueza e glamour da sua vida anterior. Ele não podia deixá-la. Ele não podia seguir em frente como se ela não tivesse existido.
"Não mexeríamos com a mente dela, Dusky. Candid disse isso?" Honest perguntou.
Candid não tinha dito. Ou tinha? Dusky fechou os olhos.
"Não vão mexer na minha cabeça." Ele repetiu.
"Eu concordo. Mas precisamos levar uma resposta para Rebbeca, Dusky." Bestial se levantou. Por estar perto da janela, Dusky apenas viu um grande borrão em pé. E sentiu as emoções dele, é claro. Desejo por sua fêmea, saudade dela, impaciência por estar ali, longe dela, vontade de fazê-la feliz. O incômodo por ela estar preocupada.
Dusky sentia a bondade nele, ainda que ele fosse selvagem e que essa selvageria rugisse contra o controle, brigasse por ser livre da sua prisão dentro dele. Bestial tinha tido sucesso em conter sua besta, ainda que ela parecesse estar à borda. Mônica era forte como Rebbeca, essa força dela deve ter atraído o vínculo. Mas ela era teimosa, controladora e decidida. Isso talvez fizesse a relação deles estar sempre quente, sempre em ebulição, o que deveria ser delicioso, mas também perigoso. Dusky suspirou. Ele estava cansado disso, de sentir os outros, de decifrá-los. Isso não o atraía mais, mas não conseguia ignorar.
"Eu não posso tê-la. Não agora. Não quero esquecer Ann. Rebbeca atrai meu corpo, mas minha mente não quer deixar Ann, não quer esquecê-la. Como ela dizia, ela entrava onde não a queriam e ficava lá. Eu ri disso uma vez, mas agora eu entendo. Faz muito pouco tempo, ela ainda parece estar aqui. Se estou na sala, eu finjo que ela ainda não acordou, se estou no quarto, eu digo a mim mesmo que ela já se levantou. Está muito cedo ainda."
Ele se sentou e colocou a cabeça entre as mãos. Seu cabelo estava comprido, Kevin ofereceu cortá-lo, nem isso, Dusky era capaz de permitir, Ann adorava seu cabelo.
"Eu pensei que você pudesse estar vinculado a Rebbeca." Honest disse.
"Eu não sei. Nunca senti um desejo tão poderoso, uma ligação tão forte. Mas ela já morava aqui a algum tempo, eu não a percebi antes. O cheiro dela não me deixava louco como agora deixa. Eu nunca me senti assim, mas não quero outra fêmea, eu sinto a falta de Ann, Leãozinho." Ele disse.
"Você já conhecia Rebbeca?" Bestial perguntou, Dusky bufou.
"Dusky conhece todos aqui, Bestial. Como você não sabe disso? Ele ouve tudo, sente o cheiro de todos, conhece todos e ainda sente as emoções de todos. Se esqueceu?" Dusky elevou sua cabeça e olhou no rosto de Bestial. Ele estava barrando a luz da janela, Dusky viu os olhos dele, pensativos.
"Eu... Isso não está em nenhum relatório ou ficha sobre os moradores daqui." Ele disse.
"Você vem mesmo muito pouco aqui." Honest disse.
Bestial acenou. Dusky o conhecia desde a liberdade. Mas ele passou muito tempo trabalhando para que tanto a Reserva como Homeland, se tornasse o melhor lugar que seu povo pudesse ter, e Dusky era grato, então explicou:
"Quando eu vim pra cá, ninguém sabia muito como eu era, muitos pensavam que eu precisava de proteção por ser pequeno. Isso era bom. Depois, eu e Blue nos tornamos companheiros, e começaram a nos tratar como os mais velhos daqui, eu era mais velho que todos, é claro,mas Blue não. Ríamos muito disso. Vinham pedir conselhos, apartavámos brigas, essas coisas. Mas aí, Valiant começou a ter filhotes, filhotes bons, eram nosso maior presente. Ele deveria ter parado, mas depois de um bom tempo, vieram vocês." Ele encarou Honest, Honest sorriu, eles eram quem eram e Dusky os amava, isso era um fato.
"E ao contrário de seus irmãos, que corriam por aqui, traziam caça ou paravam apenas para um beijo, vocês ficavam todo o dia fazendo perguntas. Aprontando e fugindo pra cá, tiraram Silent daqui, descobriram o túnel e o cúmulo foi Candid fechar os olhos e aceitar morrer no lugar de Blue. Eu e vocês estamos ligados depois disso, os outros não me conhecem como vocês, Leãozinho." Dusky estava se desviando, então, voltou a encarar o borrão que era Bestial:
"Nenhum relatório idiota pode nos descrever, Bestial. Até por que eu mudei tanto nos últimos anos, que eu mesmo não me reconheço as vezes."
"Você então quer que eu entre em casa e diga o quê a Rebbeca?" Bestial disse. Direto, simples. Ele só queria a irmã, para isso Rebbeca tinha de ficar bem e Dusky era a chave para isso, no entender dele. Ele estava errado, porém. Não era tão simples.
"Diga a ela para me esquecer. Eu sinto muito se isso te deixa numa situação desconfortável, mas é só o que você pode dizer." Dusky disse.
"Não. Eu não posso dizer isso. Ela é frágil, não lida bem com o sofrimento. Por favor, Dusky!" Bestial ficou de joelhos.
Dusky sentiu raiva. Bestial estava de joelhos, mas não por Rebbeca, e sim por ele próprio. E Rebbeca era uma inocente, uma pequena alegria em meio a sua vida triste. Ela estar sofrendo por ele, só o fazia querer se afastar ainda mais.
"Levante-se, ou quebrarei suas pernas." O telefone de Honest tocou, ele atendeu, mas Dusky sabia muito bem quem era, então disse:
"Não vou falar com ele." Bestial se levantou. Era uma humilhação muito grande um alfa como ele se ajoelhar, isso dizia que ele já estava perdido para o vínculo, uma felicidade, ou uma pena, Dusky, porém não se importava. Honest fez alguma coisa e a voz arrogante do irmão mais velho dele soou por toda a cabana.
"E estou longe, Dusky, estou muito ocupado, sabia? Deixe Candid sugestionar você e eu te dou Dom Vickers. Ou eu mesmo virei e vou sugestioná-lo contra a sua vontade. Você escolhe." Ele desligou.
"Quem é Dom Vickers?" Bestial perguntou. Honest encarou Dusky e Dusky fechou os olhos. Ele inspirou fundo e fez o que ele odiava fazer, mas só fazia em casos especiais. Esse era um caso especial. Ele abriu os olhos, olhou em volta da cabana, acariciou a manta, se encantou com o desenho e as cores dos tecidos costurados juntos, era um rico trabalho, sua Ann era uma artista. Ele suspirou e olhou nos olhos de Honest.
"Isso é verdade?" Ele perguntou, mas os olhos do leãozinho baixaram. Ele era insolente, cruel, até um pouco malvado,mas não tinha a essência de Simple. De toda a Reserva, Simple foi o único que o olhou nos olhos, depois de Dusky se forçar a enxergar, quando seus olhos brilhavam, um azul, outro verde.
"Eu não sei." Ele disse. Dusky olhou em volta para todas as coisas bonitas que Ann fez na amada cabana deles e piscou de volta, abraçando a dor que o levaria para o inferno.
"Se for verdade, eu aceito Rebbeca aqui, sem sugestão. Mas depois de arrancar a coluna daquele filho da puta, enquanto ele grita como o covarde que é." A dor veio e Dusky os deixou na sala. A cama, as mantas de Ann lhe fariam companhia em seu tormento.
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BESTIAL
FanficO que de errado poderia acontecer em duas semanas? Foi o que Bestial pensou ao ter de ficar no zoológico da Reserva por causa de uma reportagem. Era por uma boa causa, não tinha nada a ver com os lindos olhos azuis de uma determinada fêmea. Bestial...