CAPÍTULO 06

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Por um momento Ellen quase esqueceu de que havia alguém a esperando em casa, o que a fez se sentir horrível por não ter voltado antes para dar toda a atenção que Inquilino merecia. No entanto, quando chamou pelo gatinho ao pôr os pés em casa, ela se surpreendeu por não o encontrar em lugar nenhum. Rapidamente concluindo que era uma péssima tutora ao notar a janela do outro quarto da casa aberta. Talvez ele só tenha dado uma volta... Ellen disse a si mesma se agarrando àquela ideia o máximo que podia.

Ellen suspirou, encarando os potinhos de Inquilino e já sentindo falta de sua presença naquela casa que ainda não era seu lar.

Lar... Era o que ela planejava montar com Nelson meses atrás, antes de seu namoro ir por água abaixo por culpa exclusivamente dele.

Aquele babaca de uma figa! Ela bufou, dando um passo para sair daquele quarto entulhado de coisas, mas parando de repente ao deixar seus olhos fixarem-se sobre uma tela em branco esquecida no meio daquele caos. E então ela lembrou daquele momento exato em que Thomas sorriu. Mesmo ela não sabendo bem o motivo daquela cena em específico estar rodeando sua mente. Talvez o ângulo ou até mesmo a luz daquela ocasião a tenham feito lembrar de como gostava de observar o mundo — e as pequenas coisas dele — para retratar nas suas telas.

Ela respirou fundo, colocando a tela quadrada de 50cm sobre o cavalete de madeira de pinus natural. Pegou o grafite mais claro que dispunha em cima da escrivaninha para fazer o esboço do que sua mente imaginava naquele momento.

Ellen mordeu os lábios, concentrando-se em colocar suas ideias sobre a superfície da tela... Mas ela não conseguiu. A vontade inconsciente desapareceu antes mesmo que a ponta do lápis traçasse qualquer coisa.

Por que eu ainda tento? Ela riu sem humor, coçando a nuca e deixando que outra coisa preenchesse seus pensamentos. E ela já tinha uma em mente: tomar um bom banho. E foi o que ela fez, agradecendo mentalmente por ter feito aquilo assim que saiu do chuveiro e pôde exalar um cheiro bom que não fosse de roupa recém vomitada. Ela conseguiu rir consigo mesma enquanto deixava sua blusa e calça jeans afundar num balde cheio de água com sabão. Ellen quase despejou todo o amaciante nas suas roupas, mas se deteve a tempo de guardar um pouco para o moletom preto que recebera emprestado de Thomas.

— Ele é um cara legal. — Ela disse, molhando a peça e esfregando-a com cuidado. — Tomara que esse casaco não seja caro. — Fez uma careta ao pensar aquilo.

Seu celular apitou em algum canto da casa, anunciando que ela recebia uma enxurrada de mensagens. Quem pode ser? Ellen pensou consigo mesma, terminando de lavar o moletom e o estendendo no varal da área de serviço.

Ela esfregou as mãos na calça verde de tecido que, em conjunto com a regata branca, dava a impressão de que ela havia acabado de sair da aula de educação física da escola. Como se ela fizesse educação física na escola, afinal, Ellen era mestre em arrumar desculpas quando estudava para não frequentar aquelas aulas.

"Elle, você não sabe da maior!" Dizia a mensagem recém chegada das outras cinco conversas não lidas.

"Eu vi que aquele B-A-B-A-C-A do Nelson tá com aquele V-A-C-A da Marcela (que a gente nem pode mais considerar como parente) num final de semana romântico aí em Mesópolis. Isso é verdade? Por favor, me diz que eu tô delirando!" Escreveu Viviane, a única prima que Ellen podia considerar como uma amiga no meio de sua família.

"E antes que você pergunte como eu fiquei sabendo, saiba que a Marcela estava postando fotos sem parar no Instagram dela." Viviane escreveu antes que Ellen se questionasse de como a prima sempre estava por dentro de tudo o que acontecia. "Você cruzou com eles?"

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