Deve ser amor |✔

CAPÍTULO 10

Eu beijei Thomas, ela repetiu a si mesma enquanto tentava dormir naquela noite, mas as lembranças de horas atrás insistiam em invadir sua mente tão tarde da noite. Suspirou, sentando-se na cama e sendo imediatamente consolada pelo gato que escolheu justo aquela noite para fazer companhia ao invés de desbravar a vizinhança adormecida.

Ellen não conseguia parar de pensar naquela situação complicada que se metera agora por culpa exclusivamente sua. Onde já se viu sair beijando as pessoas aleatoriamente no intuito de fugir de problemas? Ela mordeu os lábios, massageando as têmporas ao refletir mais uma vez em como aquele seu impulso foi tão idiota.

Ou não completamente, pensou consigo mesma, recordando que após aquele beijo roubado (que mais foi um encostar de lábios demorado), Nelson não continuou o percurso para falar o que quer que ele estivesse pensando em dizer. Aquilo pelo menos a livrou de encarar de frente — mais uma vez — o seu passado.

No entanto, ela tinha que enfrentar outro problema agora: com que cara ela iria encarar o seu vizinho de bairro e colega de trabalho? Como iria se sentir menos constrangida sabendo que a probabilidade de esbarrar com Tom era tão alta e assustadora quanto a de ela não ganhar na loteria?

Ela grunhiu, encolhendo-se na cama enquanto seu cérebro insistia em passar e repassar a expressão confusa de Thomas quando ela se afastou dele e acenou para o motorista de ônibus, sem dizer uma palavra sequer. Nem um novo pedido de desculpas por algo tão ousado — e inesperado — ou uma despedida envergonhada. Não, ela não fez nada disso. Ela só fugiu. Ellen só correu para o mais longe que podia para não encarar as consequências tão prematuramente.

— Merda... — Ela murmurou, cobrindo o rosto com o travesseiro ao se lembrar que, no dia seguinte, não teria como fugir daquilo.

*

— Caramba, em que dimensão você tá, hein, Tom? — Diego bufou, irritado pelo irmão perder pela quinta vez consecutiva e estarem presos na mesma fase em Overcooked. — Eu disse Tomate, não cogumelo. Tomate!

Thomas apenas soltou o ar com força dos pulmões, avisando silenciosamente de que não estava em um bom dia. E como poderia ficar? Horas atrás ele estava tentando ser gentil com Ellen porque ele estava começando a gostar verdadeiramente de sua companhia e, do nada, ela simplesmente o beijou. O beijou sem nenhuma explicação, como se estivesse quase tentando ficar invisível do resto do mundo. E, de certa forma, ela estava. Mas não para o mundo inteiro, mas sim para o mesmo homem que a fez se sentir tão mal naquele dia.

— Se você não queria jogar, podia ter me dito, cara.

— E quem disse que eu quero jogar essa droga? — Largou o controle no sofá, testando o coração do irmão com aquele gesto irritado. Ele se levantou, limpando a garganta e pegando um pouco de água na cozinha. — Você que implorou pra eu jogar com você.

— Me lembre de nunca mais fazer isso. Você é péssimo.

Thomas apenas revirou os olhos, ignorando o irmão. Sorte a sua que eu estou com a cabeça ocupada hoje, pensou consigo mesmo, espremendo os olhos de forma ameaçadora, mesmo que Diego estivesse entretido demais na televisão ao invés de encarar a expressão aterrorizante do irmão treze anos mais velho que ele.

Ameaçador... era assim que aquele beijo soava para ele. De uma forma esquisita, mas era.

O fato é que aquele beijo o deixou sem ter certeza de seus sentimentos por Ellen. Sim, sentimentos. Parecia soar ainda mais precoce — principalmente por eles se conhecerem a tão pouco tempo —, mas fazia tanto tempo que ele não conhecia gente nova e ainda por cima gostar da presença, que a companhia de Ellen era algo sempre bem-vindo. E não era como se ele sentisse algo romântico por ela, mas soava mais como gostar de sua energia e de como ele sentia que poderia conversar sobre qualquer assunto com ela. Fazia tempo que Tom não encontrava alguém assim, alguém para conversar sem ver as horas passarem. E foi por esse motivo que ele estava se esforçando tanto para ser legal com Ellen...