Ellen nunca imaginou que depois de se dedicar tanto na faculdade de artes visuais, ela trabalharia em um museu. Não um simples museu, mas o museu mais notório da cidade. E mesmo que Mesópolis não fosse uma cidade relativamente grande, ao menos a importância daquele museu era. Já que Ícaro Ramires não foi qualquer autor/poeta, mas um dos grandes nomes do modernismo brasileiro que nasceu e se criou naquela cidade que Ellen nunca pensou em se estabelecer.
No entanto, a jovem no auge de seus vinte e nove anos não imaginava que seu novo trabalho seria na recepção daquele lugar tão bonito. Não é como se ela não soubesse onde iria trabalhar, afinal, quando você se candidata a uma vaga de emprego geralmente se sabe onde e o que irá fazer, certo? E ela sabia. Ela só não conseguia acreditar que as duas escolas em que mandara currículo simplesmente a ignoraram.
Tudo bem, eu consigo fazer isso. Pensou consigo mesma, usando o elástico de cabelo para prender os cachos negros que insistiam em chicotear seu rosto a cada passo que dava ou a cada movimento que seu corpo fazia.
Ela parou em frente ao museu, abrindo a bolsa e tirando de lá um suco de caixinha na esperança de acalmar seus ânimos — e sua fome. Ellen poderia ter se planejado melhor no dia anterior, mas nunca imaginaria que iria perder a chave do carro como brinde naquele primeiro dia de trabalho. Então, quando finalmente achou o objeto, era tarde demais para preencher seu estômago vazio.
Ela balançou o suco de uva forte demais, pois assim que usou o canudo para furar a embalagem, um jato na cor roxa foi o resultado. Ellen poderia ter se sujado toda se não fosse a presença de um homem que estava bem ao seu lado e foi atingido quase que por completo pela chuva púrpura. Não chegou a ser um oceano na cor lilás manchando sua roupa, mas o pouco que o atingiu foi o suficiente para deixar a recém-contratada envergonhada.
Ela colocou as mãos sobre a boca para esconder seu espanto, deixando o seu lanche cair no chão. A jovem poderia estar tão vermelha quanto a sua blusa, mas a sua pele negra não deixava transcender ainda mais a sua vergonha.
— Me... me desculpa. — Ela murmurou, ainda mais envergonhada quando notou o homem alto esboçar uma expressão ainda desacredita, fazendo seus lábios finos assumirem uma curva esquisita. — Olha, eu sinto muito, mas... eu tenho que ir!
Ela disse, fugindo o mais rápido que podia daquela situação embaraçosa. Ellen nem esperou para ouvir o que ele tinha a dizer, se é que ia dizer alguma coisa. Pois, apesar de seus olhos estarem espremidos e seu rosto demonstrar que ele não estava nem um pouco feliz com aquilo, sua boca nada disse.
Talvez ele não fale português... Ela pensou enquanto caminhava para dentro do museu e parava para analisar os seus traços que insinuavam que ele era de algum país do Leste Asiático.
Ou talvez eu esteja inventando coisas demais. Revirou os olhos ao pensar naquela outra possibilidade.
De qualquer forma, ela torcia para não o encontrar novamente. Já havia sido ruim o suficiente ter fugido daquele jeito, imagine cruzar com aquela figura novamente? Seria o seu fim!
*
Ellen teve vontade de achar um buraco bem fundo e enterrar sua cabeça durante todo aquele primeiro dia. E não foi nem por conta do trabalho na recepção, afinal, ela conseguiu se adaptar ao vai e vem de uma excursão de alunos barulhentos. As crianças agitadas foram o menor de seus problemas. O maior deles, na verdade, estava parado o dia inteiro no hall de entrada enquanto cuidava da segurança daquele lugar.
Se ela tivesse parado para analisá-lo melhor, Ellen notaria que o seu suco havia manchado o uniforme dele. Talvez isso explicasse a total falta de reação dele quando o incidente aconteceu, certo?
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Deve ser amor |✔
Romance| COMÉDIA ROMÂNTICA | +14 | 💟 Série Clichês do Amor - Livro 01 Sinopse provisória Ellen Santos decidiu dar um novo rumo para a sua vida depois de um fim de namoro complicado. Ou tentou, já que trabalhar na recepção de um museu não era bem o que i...