Thomas achou que seria difícil arrumar uma desculpa na qual todos acreditassem ou ao menos não ficassem tão curiosos para saber o seu paradeiro por algumas horas naquele domingo, mas aparentemente, as pessoas perdem automaticamente o interesse quando as palavras "bingo", "igreja", "trabalho voluntário" e "domingo à noite" são colocadas na mesma frase. Ele agradeceu mentalmente àquele fato quando saiu de casa naquele início de noite sem ser interrogado por absolutamente ninguém naquela casa. E agradeceu mais ainda pela discrição do melhor amigo.
Tom tocou a campainha da casa de Ellen, alisando a camisa azul de botões enquanto se preparava mentalmente para aquele evento. Ele soltou um suspiro, prestes a apertar novamente a campainha, mas esquecendo completamente o que ia fazer quando avistou a sua namorada de mentira surgindo bem à sua frente. Ela parecia tão deslumbrante com um macacão pantacourt de tecido leve, que se ajustava perfeitamente à sua cintura, e que fazia Thomas se perguntar como qualquer peça sempre parecia cair tão bem nela...
Ele balançou a cabeça, tentando esconder as bochechas levemente ruborizadas por pensar demais, limpando a garganta e tentando puxar assunto.
— Espero ter sido pontual. Mas acho que consegui, já que ninguém se mostrou interessado quando inventei que ia pro bingo da igreja... — Sério? Ele fez careta, engolindo em seco.
— Eu sinto que estou sendo uma influência negativa pra você às vezes. — Ela riu sem graça, alisando o tecido na cor vinho e mordendo os lábios. — A gente não tinha combinado de ir no meu carro? — Ela apontou para o carro dele estacionado em frente de casa, fazendo a brasília amarela parecer uma verdadeira peça de museu. — O meu carro funciona, eu juro.
— É que, bem, eu queria soar convincente para eles.
— Certo...
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, até Ellen romper com aquela quietude que se instaurou na calçada.
— Acho que podemos ir então. — Fitou a hora no relógio de pulso, levantando o rosto para encará-lo. — Eu só vou trancar as portas e colocar mais comida pro Inquilino.
— O seu gato?
Ela fez que sim, pedindo tempo com as mãos enquanto adentrava a casa. O que deixou Thomas, de certa forma, curioso, mas ele se deteve em ficar em silêncio enquanto a aguardava retornar.
— Pronto, podemos ir. — Ela disse, trazendo Tom de volta à realidade e prestando atenção em sua figura alguns centímetros mais alta por conta dos saltos. Ela encarou os próprios pés, tentando esconder a vergonha estampada no rosto ao dizer aquilo: — Minha mãe me mataria se me visse com qualquer coisa confortável nos pés ao invés desse objeto de tortura. E não é como se eu odiasse isso, mas continuo os achando nada confortáveis...
— Você é bem crescidinha pra escolher seus próprios sapatos, não?
— Óbvio que sim. — Ellen revirou os olhos, fazendo uma careta logo em seguida e deixando que um sorriso bobo habitasse os lábios do seu namorado fictício. — Mas basicamente são meus pais que pagam o meu aluguel, então, eu estou meio que num beco sem saída. Enfim, isso que dá ter um salário de merda. — Ela tocou o ombro dele, meneando a cabeça na direção do carro. — Podemos ir?
— Ah, claro.
Ele destravou o carro, se preparando para abrir a porta do carona. No entanto, Tom teve seus planos interrompidos quando Ellen foi mais rápida, acabando com qualquer tentativa dele em causar uma boa impressão. Constrangido, deu a volta no veículo, afivelando o cinto de segurança e dando partida no automóvel.
Pelo menos ela não percebeu, ele disse a si mesmo, respirando fundo.
Ellen acionou o GPS do celular, deixando que a voz eletrônica os guiasse e fosse o único sinal de som em meio aquele silêncio mortal que se instaurou graças a ela.
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Deve ser amor |✔
Romansa| COMÉDIA ROMÂNTICA | +14 | 💟 Série Clichês do Amor - Livro 01 Sinopse provisória Ellen Santos decidiu dar um novo rumo para a sua vida depois de um fim de namoro complicado. Ou tentou, já que trabalhar na recepção de um museu não era bem o que i...