CAPÍTULO 42

182 27 56
                                    

Ellen se olhou mais uma vez no espelho, balançando a cabeça em negativo e pegando outra roupa do armário. Passou a manhã inteira escolhendo a melhor combinação e mesmo assim não conseguiu se decidir. Estava ansiosa e exausta, tanto é que mal conseguira dormir direito de ansiedade apenas pensando na entrevista que teria. Não era o emprego dos sonhos, mas sentia que se o conseguisse, ela enfim iria se reconectar com o seu lado artístico e que tanto sentia falta.

Artística era uma escola de teatro, dança, música, pintura e desenho para todas as idades, além de ser bem renomada também. Aquela oportunidade parecia perfeita não só para o seu lado pessoal voltar a florescer mais que nunca, mas para o seu currículo também. Um sorriso bobo repuxou os cantos de sua boca para cima ao pensar naquela possibilidade.

Estava envolta por uma onda de alegria que tinha até medo de ainda estar dormindo, mas não estava. Constatou isso quando um calor humano a abraçou pelas costas, sentindo a respiração calma de Tom fazê-la ter certeza de que tudo aquilo era real. Ele apertou sua cintura, trazendo-a para mais perto de si e inspirando profundamente o perfume doce que ela usava.

— Isso é tortura.

— Não, isso se chama indecisão de moda. — Virou-se para ele, mostrando a língua. — Eu coloco um blazer?

Ele balançou a cabeça em negativo, sorrindo.

— Ou devo colocar um salto alto? Meu Deus, eu tenho que causar uma boa impressão...

— Você vai se sair bem. — Sorriu, dando de ombros enquanto abotoava calmamente a blusa branca com florzinhas dela. Thomas a fitou, continuando a tarefa. — Só não espirre nenhum suco de caixinha em pessoas aleatórias. Principalmente no segurança, não quero que ele se apaixone por você.

— Vou pensar no seu caso...

— Você é má. — Riu, terminando os botões e passando as mãos pelo tecido, tentando tirar qualquer marca dele. — Já listou seus pontos fortes e fracos?

— Merda, eu não pensei nisso.

— Eu pensei que você estava fazendo isso de madrugada. Acordei para colocar comida pro Fininho e você tava resmungando algumas coisas.

— Que coisas? — Ela arregalou os olhos, cobrindo a boca com as mãos e sentindo o corpo inteiro queimar ao imaginar o quão patética deve ter sido a cena. — Por favor, diz que não foi nada obsceno.

— Ah, então você fica falando coisas obscenas enquanto dorme? — Ele arqueou uma sobrancelha, brincalhão com o rosto dela se contorcendo de vergonha. — Pensei que era só quando ficava bêbada.

— Aaahhhhh! — Ela grunhiu, jogando-se na cama e escondendo o rosto com o travesseiro.

Ele gargalhou, sentando no espaço vazio ao lado dela, contemplando-a em uma calça social preta e blusa de tecido leve e se pegou pensando que adoraria acordar todas as manhãs e vê-la ao seu lado. Porque ele nunca se imaginou gostando de ninguém como estava gostando de Ellen. Cada pedacinho dela era especial, deixando-o cada vez mais encantado. Os olhos dela que diziam tudo o que sentia, a boca que mesmo em meio a dor, esboçava um sorriso... Tudo em Ellen o fazia feliz, até mesmo seus defeitos, seus dias ruins e seus fantasmas do passado. E ele via com ainda mais certeza agora.

Ela largou o travesseiro, mordendo os lábios, ainda encabulada, sentando-se na cama. Desviou o olhar por alguns segundos, pensando em alguma coisa que mudasse o foco da conversa. Seus olhos pairavam pelo quarto, detendo-se em Thomas que exibia um sorriso bobo nos lábios enquanto encarava as próprias mãos. Nem se deu conta que estava sorrindo também enquanto o observava, constatando que o havia procurado a vida toda mesmo sem saber. Seu coração errou uma batida ao pensar naquilo, engolindo em seco ao divagar por tanta coisa.

Deve ser amor |✔Onde histórias criam vida. Descubra agora