Capítulo XV

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       Encostada na parede, Elise refletia sobre as últimas semanas, que haviam sido completamente conturbadas—eventos, aulas... Seu pai não deveria ter feito a dívida com o duque. Mas, apesar de tudo, havia momentos agradáveis. Caminhar por lugares onde dificilmente iria com frequência, assistir belos concertos—os eventos seriam melhores sem as fofocas e as "pessoas inconvenientes" envolvidas.

Sentia falta de sua mãe. Se ela estivesse ali, ajudaria a atravessar tudo isso. Mas a realidade era cruel: estava só. Ainda que tivesse seu pai, sabia que ele não compreenderia seu ponto de vista. Talvez fosse injusto presumir isso sem sequer tentar, mas, no fundo, já conhecia a resposta.

Um toque leve em seu ombro a fez sobressaltar-se. Ela se virou, alarmada, mas relaxou ao ver que era seu pai.

— Vi que saiu do encontro. Está tudo bem?

— Pai, podemos ir para casa? Estou cansada.

Mentira. Em parte. Mas, naquele momento, uma desculpa seria conveniente.

— Tudo bem, pode esperar lá embaixo. Vou avisar o duque.

Gregory retornou à sala, enquanto Elise se apressou em descer. Queria evitar atenção o máximo possível. Pouco depois, seu pai voltou, e uma carruagem os levou de volta para casa.

Ao chegar, Elise dirigiu-se diretamente ao quarto e pediu à senhora Anne que providenciasse seu banho. O aroma marcante e suave do sabonete de lírio preencheu o ambiente—era seu favorito. Na água morna, permitiu-se relaxar, reorganizando seus pensamentos.

Depois do banho, vestiu sua camisola e sentou-se diante da penteadeira, onde repousava o livro que pegara na biblioteca dos Bradfords: A Bela e a Fera. Contos de fadas já não estavam entre suas preferências, mas talvez mudar de leitura por um instante lhe fizesse bem.

Seus olhos percorriam as palavras, mas sua mente viajava para um mundo onde príncipes e princesas enfrentavam desafios, onde bruxas conjuravam feitiços e o amor era sempre o vencedor.

Com algumas páginas lidas, o peso do dia finalmente a alcançou.

E Elise adormeceu.

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Correndo pela grama, Elise fugia de uma sombra que se movia atrás de si, invisível, mas assustadoramente presente. Seus pés estavam exaustos, cada passada pesada e incerta, mas ela continuava. O coração pulsava em seus ouvidos. De repente, o chão desapareceu. Ela despencou em um abismo de escuridão, e um cheiro denso e sufocante invadiu suas narinas—fumaça. Nenhum sinal de fogo, mas o ar estava impregnado de cinzas, queimando sua garganta, comprimindo seus pulmões.

Acordou sobressaltada, sentindo o peito subir e descer em um ritmo frenético. Seu quarto estava tomado pela fumaça. O cheiro de madeira queimando se misturava ao som dos sinos e à movimentação caótica dentro da casa. A porta se escancarou de repente, e uma das criadas entrou apressada.

— Senhorita! Venha comigo!

Elise foi puxada para fora da cama. Um pano úmido foi pressionado contra seu nariz e boca, bloqueando parte da fumaça. Em meio ao pânico, percebeu que segurava seu livro contra o peito, como se instintivamente o tivesse levado consigo. No pescoço, sentiu o peso reconfortante do colar de sua mãe.

O fogo vinha do escritório de seu pai. Onde ele estava? Onde estavam todos? O calor tornava o ar insuportável, e a fumaça densa dificultava a visão. As chamas já lambiam partes dos corredores, avançando como predadores famintos. Elise tossia, o pano ajudando apenas parcialmente.

A estrutura da casa rugia em um estalo assustador. Paredes tremiam. As portas das salas estavam abertas, revelando um inferno crescente em cada cômodo. Um estalo ecoou acima de sua cabeça. Antes que pudesse reagir, um pedaço de madeira em chamas despencou à sua frente. Elise e a criada gritaram, recuando. O calor era avassalador. O som das chamas consumindo tudo à volta era ensurdecedor. Criados corriam, desesperados para escapar.

As pernas de Elise fraquejaram. O mundo ao seu redor se tornou um borrão de fumaça e medo, e então... Ela caiu. O impacto contra o chão foi brusco, tirando-lhe o último resquício de força. Sentia-se atordoada, os pulmões ardendo, a mente oscilando entre consciência e apagamento. A criada a sacudia, chamando por ajuda, mas Elise mal conseguia manter os olhos abertos.

Então, uma silhueta emergiu através da fumaça. Um homem. Não era um criado—suas roupas eram refinadas demais para isso. Mesmo envolto pelo caos, ele atravessava os destroços com passos firmes e determinados. O fogo refletia em seus olhos, e, apesar da névoa sufocante, Elise os reconheceu. Thomas.

Ele se ajoelhou ao seu lado sem hesitar, seus braços fortes a envolvendo com urgência e proteção.

— Estou aqui. Vai ficar tudo bem.

Com esforço, levantou-se, segurando Elise contra o peito. O calor era sufocante, a fumaça quase cegante, mas ele não vacilou. A última coisa que Elise viu antes de a escuridão tomar conta de sua visão foi o brilho dos olhos de Thomas, determinados a tirá-la dali.

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