Capítulo 21 - Morto vivo

5K 576 610
                                    

Ouço primeiro as gotas de água que pingavam sem parar em algum lugar perto de mim. Depois, sinto a dor intensa na minha cabeça, que descia para o meu tronco e pernas.

Ainda de olhos fechados, tento organizar meus pensamentos. Vou relembrando aos poucos tudo o que aconteceu nos instantes anteriores à minha queda. Eu subi aquela porcaria de escada, vi uma pessoa quando cheguei no nível superior, então a escada se partiu e eu caí.

Depois que já me sinto orientada mentalmente, começo a tentar entender o lugar ao meu redor sem precisar abrir os olhos. Eu estava deitada sobre algo que não parecia um colchão, mas que também não era o chão. Além daquela pingueira que não parava, escuto o som de... fogo? Aquilo era madeira crepitando?

— Você já pode abrir os olhos — ele diz, em algum ponto perto dos meus pés.

Lentamente, abro minhas pálpebras. O ambiente estava com uma iluminação fraca que era fornecido realmente pela pequena fogueira que estava na parede oposta. Olho na direção que ele parecia estar, e o encontro sentado com os braços abraçando os joelhos dobrados.

— Richy? — tento me levantar, mas meus braços pareciam gelatina.

— Oi (seu nome) — ele abre um pequeno sorriso.

Richy estava muito mais pálido se comparado a última vez que o vi, pelas câmeras da Mina. E muito mais magro também.

— Como sabia que eu estava acordada?

— Eu percebi a mudança na sua respiração — então, seu sorriso muda para algo sombrio. — Aprendi muito mantendo a Hannah em cativeiro.

— Então você está vivo mesmo...

— Surpresa — o humor dele era ácido.

Tento me levantar novamente, não me sentindo confortável em estar tão abaixo dele. Seja qual foi o impacto da queda, me machucou legal. Fazer aquele mínimo esforço estava cobrando tudo de mim. Richy se arrasta até onde estou, então me ajuda a levantar o suficiente até estar sentada. Não havia travesseiro para apoiar minhas costas, então ele usa a minha mochila.

— Como você conseguiu sobreviver? — pergunto, enquanto ele me oferecia uma garrafa de água.

— Nos últimos segundos, eu decidi que não queria morrer daquele jeito. Então escapei por uma rota não muito conhecida que me levou para longe do desabamento.

— E o ferimento da bala? — olho para o braço dele, mas não vejo nada já que ele estava com um casaco bem pesado.

— Eu... encontrei alguém que me ajudou a cuidar do ferimento.

Depois que já estou satisfeita de tomar água, fecho a garrafa e a deixo do meu lado. Levanto um dos braços até conseguir tocar a área atrás da minha cabeça onde parecia ser o ponto que sofreu a pancada. Estava inchado e úmido de sangue.

— Você precisa cuidar disso aí — Richy fala de um modo como se só passando uma água eu estaria nova em folha.

— Se você está bem, por que ainda está aqui? Tão próximo de Duskwood?

— Eu ainda não posso ir embora.

— Por quê? — insisto.

Richy parece querer me dizer o motivo. Vejo sua boca abrir e fechar algumas vezes, até que ele desiste e saí de perto de mim. Observo enquanto ele anda de um lado para o outro, mexendo em coisas aleatórias apenas para ter algo com que se ocupar.

Faço um esforço para tirar a mochila das minhas costas e assim que consigo, pego meu telefone. Já era 20h da noite e eu ainda estava sem sinal. Era de se esperar que naqueles túneis não chegasse conexão de internet.

Não Diga Adeus - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora