Capítulo 2 - Vizinhos de cela

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Tudo o que eu queria agora era um relógio.

Quando chegamos, o policial me conduz até uma salinha ao lado da recepção. Primeiro, tirei todas as minhas digitais e aquelas fotos com uma plaquinha de identificação, como qualquer presidiário. Quando vi o que teria que fazer, quase me ajoelhei e implorei para que ele não me submetesse a isso. Ele estava me fichando! Como eu poderia voltar ao meu emprego, ou tentar qualquer outra coisa significativa na vida com uma ficha na polícia? Pior, como cúmplice de assassinato, sequestro e vandalismo. Aquilo só poderia ser um pesadelo.

Para piorar, preciso ser completamente revistada por uma policial. Aquilo dura vários minutos. Me sinto humilhada. A policial estende o que parecia ser um uniforme presidiário assim que termina. Era todo azul-marinho, e mais parecia um uniforme de hospital. Mas fico contente por não precisar usar aquele modelo horrível de laranja.

— Vou mostrar sua residência nos próximos... dias — Alan diz, assim que saio da salinha, totalmente vestida e humilhada. Sigo ele, completamente abatida e sem forças para irritá-lo até tirar aquele sorrisinho cínico que ele estampava.

O quarto-cela ficava no terceiro andar no prédio da delegacia. A cada poucos metros, havia um portão de ferro com dois policiais a postos.

— Até parece uma prisão de segurança máxima — murmuro comigo mesma, enquanto capturava os detalhes do lugar.

— Você pode ser a criminosa mais perigosa que pisou aqui nos últimos anos — Alan diz, enquanto abria a porta da cela.

— Vou processar você por danos morais, abuso de autoridade e difamação quando tudo isso acabar — falo em tom de promessa.

— Vamos ver qual de nossas causas chega aos tribunais primeiro. Agora entre.

Escolho ignorar seu comentário enquanto entro no quarto-cela. O local era... aceitável. O ambiente ainda era muito pequeno. Cinco passos, e chegaria até a outra extremidade. As paredes eram todas pintadas em amarelo. Havia uma cama de solteiro na parede direita, e uma janela bem grande e bem gradeada na parede em frente a mim. No lado esquerdo, tinha uma pequena estante e uma porta. Talvez fosse o banheiro.

— E então? — Alan pergunta, observando meu ar contemplativo.

— E então o quê? — respondo, desejando ter incrementado mais rispidez na voz.

— É agradável?

— Isso é uma piada? Como estar presa em um lugar que não é e está longe de ser minha casa pode ser agradável? E mais, por um crime que eu não cometi?

Ele suspira, como se minha existência o esgotasse. É, Alan. Eu me sinto assim também.

— Um guarda vira buscá-la para as refeições. Nos vemos em breve, (seu nome). — E então ele sai, com o som alto da porta sendo trancada.

Continuo parada no meio do quarto, sem saber o que pensar. Dormir parecia uma boa. Chorar também. Eu tinha direito a um pouco de choradeira, não tinha?

Dou um passo na direção da cama e então ouço meu nome sendo chamado. Olho ao redor, depois dentro da porta que por dentro de fato tinha um banheiro. Mas, nada. Não havia nenhum objeto sonoro e muito menos uma pessoa.

Talvez a exaustão estivesse me levando a ouvir coisas. Dormir me ajudaria a...

— (seu nome)? (seu nome), é você? — a voz pergunta mais alto. De fora. A voz vinha de fora. Vou até a porta e testo a maçaneta, e esperadamente a encontro trancada.

— A escotilha. Abre a escotilha da porta — a voz diz.

Olho para o quadrado de ferro no meio da porta. Faço primeiro um movimento para cima, porém continua no lugar. Tento para o lado direito e... abre. E no outro lado do corredor estreito, olhando através da escotilha de uma porta gêmea da minha está...

Não Diga Adeus - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora