Capítulo 18 - Escolhas

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Não tenho notícias de Alan a respeito do material. Quando visitei Phil com a Jessy, ele não estava sabendo de nada sobre sua liberdade. Mas assegurei a ele que agora tudo caminhava para que ele estivesse livre muito em breve. Ver Phil finalmente fora da prisão significava que Jessy se mudaria muito em breve também. Por isso, tento aproveitar o máximo de tempo possível com ela.

Jessy estava realmente animada com aquela mudança de vida. Ela me mostrava fotos da casa que já reservou em Paris. Fala sobre a entrevista que fez para seu novo emprego lá. Tudo parecia estar caminhando muito bem para ela.

Passei os dias com ela na garagem do sr. Roger para ajudar com os arquivos. Contei para ele sobre o arquivo 1103 e o que ele significava para o caso da Jennifer. O homem pareceu aliviado por termos recuperado aquele documento, mas vejo a tristeza que se apossa dele ao ver quantas coisas seu único filho fez e as consequências que gerou. Daquele momento, não falo mais sobre o caso da Jennifer próximo a ele. O homem já estava sofrendo o suficiente para eu ficar lembrando-o ainda mais.

Estou nesse momento terminando de colocar umas pilhas de papeis dentro da grande lata com fogo quando Thomas surge pelo caminho que levava até o escritório. Suas mãos estavam dentro dos bolsos, e seus olhos encaravam o chão. Somente quando ele está a poucos metros de mim é que finalmente me olha.

— Oi, (seu nome) — ele diz, baixinho.

— E aí, Thomas — continuo jogando as folhas no fogo.

— Muito trabalho com esses arquivos? — Ele estava tentando brincar comigo?

— Agora nem tanto. Acho que Jessy e eu finalizamos ainda hoje — jogo a última pilha dentro da lata e começo a andar de volta para o escritório. — Estamos fazendo devagar para passar mais tempo com o sr. Roger.

— Isso é bem legal da parte de vocês. — Thomas me segue até o interior e continua por perto enquanto coloco mais arquivos dentro da caixa de descarte.

— Precisa de alguma coisa? — questiono, já que ele parecia lutar para me dizer algo.

— Podemos dar uma volta? Queria falar com você em particular.

Aquilo era novidade. Depois da visita a Hannah, abri a conversa com Thomas para ver o que ele tinha enviado. Ele foi bem rude e me chateou, além de me deixar brava. Desde então, não o vi mais e muito menos falei com ele.

— Sim, podemos.

Envio uma mensagem para Jessy avisando o que faria e com quem estaria, mas que em breve estaria de volta. Saímos da propriedade dos Rogers e seguimos pela estrada que margeava a floresta.

— A Hannah vai ter alta em breve — ele volta a falar.

— Isso parece bom.

— Sei que estou sendo egoísta, mas preferiria que ela continuasse onde está.

— Eu sei o que você quer dizer, Thomas. Você ama alguém que cometeu um crime e que vai ser condenado por isso. Eu... entendo que você queira escondê-la para que ela continue livre. — Meu coração se aperta quando penso em Jake. Thomas e eu estávamos na mesma naquela situação.

— Você entende mesmo?

— Sim. Sou sincera quando falo isso. — Pressiono mais as mãos dentro do bolso para me aquecer. Não percebi que estava tão gelado depois de passar aquele tempo próximo ao fogo. — Mas veja o que aconteceu com a Hannah depois de fugir tanto tempo da verdade. Veja o que aconteceu com a Amy... talvez a liberdade que a Hannah precise de verdade é encarar a pena que a aguarda.

Ele parece refletir por um tempo, então fico em silêncio. Eu não sabia o que Jake fez, e de quanto tempo seria sua condenação. Talvez o que fosse aplicado a Hannah, não pudesse ser o mesmo para ele. Por isso uma vida em fuga era preferível do que se entregar.

— Eu a amo. Muito! Mas depois do que houve... acho que ela se odeia tanto que não consegue mais aceitar o meu amor. Ou o de qualquer outra pessoa.

— Ela não vai se perdoar enquanto não sentir que pagou o suficiente pelo que fez.

— E o perdão? Se a Íris a perdoasse pelo que ela fez? — Thomas parecia desesperado para encontrar uma solução que não significasse ver Hannah presa.

— Isso só depende das duas. E ainda que o perdão da Íris bastasse para libertar o espírito da Hannah da culpa, ela não pode mais fugir da justiça. E ela não quer fugir. Apenas aceite a escolha dela.

Thomas entra na primeira rua que surge a nossa frente. Se ele virar na próxima, em breve estaríamos novamente na oficina.

— Temo que ela me deixe definitivamente quando for condenada — ele suspira pesadamente.

— Se é o que ela quer, aceite. Sua vida não deve girar em torno das decisões da Hannah também. Não é saudável para nenhum dos dois. — Para aliviar a dureza de minhas palavras, acrescento: — E, se for o destino de vocês ficarem juntos, vai acontecer. Hannah não vai ficar presa para sempre. — Assim eu imaginava.

— Eu lhe devo desculpas, (seu nome). Pelo que falei e como agi com você por todo esse tempo. Foi duro descobri que Hannah participou de um crime. Se eu não a perdesse para o homem sem rosto, iria perdê-la para a cadeia. Você era a única que eu podia descontar minha raiva. Sinto muito mesmo.

Era muito revoltante ouvir aquilo. Pessoas que agiam assim era aquelas que eu cortava rapidinho da minha vida. Mas Thomas era quase um... irmão. Por sua ligação com as Donfort, que se ligavam a mim por causa de Jake. Ou somente pela minha amizade com a Lilly. Apesar de seu comportamento ser bastante irritante, era muito difícil simplesmente cortá-lo da minha vida.

— Aceito suas desculpas, Thomas.

— Obrigado. — Um pequeno e raro sorriso surge em seus lábios.

Ele realmente vira na rua que nos levaria de volta a oficina. Aquela área era cheia de casinhas com jardins bem cuidados. Naquela hora da tarde, as crianças brincavam na rua. Aos poucos, eu estava me acostumando com o clima interiorano de Duskwood, o que tornava difícil ouvir o conselho de Alan e ir embora da cidade.

— Hannah pediu que eu lhe devolvesse isso. — Ele tira a pulseira de esmeraldas do bolso e me entrega. Com cuidado e reverencia, analiso finalmente a pulseira. Era exatamente como a foto, com um simples J.H gravado em um pingente próximo ao fecho. — Não entendi muito bem o motivo de dá-la a você.

— Descobri na minha visita a Íris que eu dei a Jennifer essa pulseira — respondo, enquanto toco cada uma das pedrinhas.

— Nossa... isso é inédito.

— É mesmo. Eu fiquei tão surpresa quanto qualquer um. Jennifer foi minha professora, há cerca de 16 anos.

Guardo a pulseira no bolso. Mais tarde, analisaria ela com mais cuidado. Esperava que o objeto real despertasse em mim as lembranças que me faltavam. Thomas para de andar, e quando levanto os olhos, já estamos diante da oficia. Nossa volta no quarteirão não deve ter durado nem meia-hora. Mas foi cheia de muito significado.

— Eu já vou indo. Foi bom falar com você.

— Igualmente. Nos vemos por aí, Thomas.

Observo o rapaz se afastar por um tempo antes de entrar. Encontro Jessy de volta em frente ao computador, enquanto comida uma rosquinha doce com café. Antes que eu perguntasse, ela aponta para a mesinha próxima a impressora onde estava um prato com duas rosquinhas e uma xicara de café quentinho para mim.

Se o sr. Roger quisesse, eu poderia ser a nova filha deles.

💬         ☆           :)

Notas: Capítulo curtinho, mas compensarei no próximo. Spoiler: está gigante. Bjos

Não Diga Adeus - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora