𝟏𝟏

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𝐘𝐎𝐎𝐇𝐘𝐄𝐎𝐍

Sunmi tem seu andar de cima explodindo música no volume máxima e está sacudindo o teto. Eu começo a pegar o lixo na cozinha, evitando o confronto de vê-la novamente. Apoiando a lata de lixo contra minha cintura, eu arrasto meu braço ao longo do balcão, empurrando uma linha de garrafas para ele. Eu puxo o saco de lixo e amarro, mantendo-o longe de mim.

- Ainda limpando a bagunça do papai, eu vejo. - Sunmi está na cozinha.

Ela está vestida com calças e uma camisa de botão, as mangas dobradas até os cotovelos. Seu cabelo é castanho escuro, está um pouco curto na parte da frente deixando a mostra a cicatriz na parte da testa, onde eu acidentalmente a atingi durante um acidente esquisito enquanto estávamos jogando beisebol com um pau de barraca e uma bola de basquete.

- Nada mudou por aqui, mesmo quando você me deixa por um ano. - ela abre a geladeira e pega uma cerveja - Embora, você parece diferente. Você finalmente mudou seu jeito?

- Você realmente se importa com o que eu faço ou deixo de fazer? - eu arrasto o saco de lixo para a porta dos fundos - Eu acho que você deixou isso perfeitamente claro na última vez que esteve aqui. Não dá a mínima para o que acontece comigo.

- Você ainda tá com isso? - ela estalou a tampa da cerveja.

- Você olhou na minha cara e disse que eu matei a nossa mãe - eu digo baixinho - Como eu poderia deixar isso pra lá?

- Eu pensei que você tinha superado e seguido em frente com a sua vida. - ela bebe sua cerveja e encolhe os ombros.

- Eu não segui em frente. Eu cai fora assim como você fez. - eu puxo uma respiração profunda.

- Eu fugi pela mesma razão que você fugiu porque ficar aqui significa lidar com o passado e o nosso passado é do tipo que precisa ser trancado e nunca mais revisitado. - diz ela.

- Então você quer dizer que lidar com a morte da nossa mãe e o fato de que a culpa foi minha por ela está morta? Ou que sou a responsável por sua morte?

- Por que você sempre tem que ser tão direta sobre tudo? Isso deixa as pessoas desconfortáveis. - Sunmi descasca a garrafa de cerveja.

Estou mudando de volta para os meus caminhos antigos e eu preciso me recompor. Abrindo a porta de trás, e lanço o saco de lixo para fora.

- Você quer ir jantar ou algo assim? Poderíamos sair para Alpina onde ninguém nos conhece. - ela balança a cabeça, engole o resto da cerveja, e então atira a garrafa vazia no lixo.

- A única razão que me fez vir pra cá foi para pegar o restante das minhas coisas. Então, eu estou fora. Tenho coisas mais importante para focar do que o drama familiar e um pai alcóolatra.

Sunmi me deixa na cozinha e alguns segundos depois, a música está ligada no máximo. É um ritmo alegre e isso me deixa louca, então eu ligo o rádio da cozinha explodindo "Shameful Metaphors" por Chevelle. Eu começo a varrer a cozinha, bloqueando as palavras da minha irmã. Ela sempre gostou de procurar defeitos à parte em mim, o que foi bom, mas no funeral, ela cruzou uma linha que nunca podemos voltar, infelizmente.

A porta dos fundos está aberta e o vento corre enquanto meu pai tropeça na cozinha. Seus sapatos estão desamarrados, o jeans está rasgado, e sua camisa vermelha está suja. Sua mão está envolvida com um pano velho que está encharcado de sangue. Soltando a vassoura no chão, corro para ele.

- Oh meu Deus, você está bem? - ele recua de mim e acena com a cabeça, cambaleando para a pia.

- Só me cortei no trabalho. Nada demais.

- Pai, você não estava bebendo no trabalho, não é? - desligo a música. Ele vira a torneira e afunda a cabeça sobre.

- Os caras e eu tivemos um par de doses durante a pausa para o almoço, mas eu não estou bêbado. - ele remove o pano e enfia a mão sob a água, deixando escapar um suspiro de alívio quando a água se mistura com o sangue - Sua irmã está em casa? Eu pensei que ter visto seu carro na entrada da garagem.

- Ela está lá encima arrumando algumas coisas ou algo assim. - eu pego uma toalha de papel e limpo o sangue que tem sobre o balcão e no chão. Ele enxuga a mão, estremecendo.

- Bem, isso é bom, eu acho.

- Eu preciso leva-lo ao médico. Isso parece que pode precisar de pontos. - eu me inclino para examinar sua mão.

- Eu vou ficar bem. - ele pega uma garrafa de vodka, toma um gole, e depois encharca a mão com ele.

- Pai, o que está fazendo? - eu alcanço o kit de primeiros socorros encima da pia - Use o álcool que está no kit médico. - respiro com os dentes cerrados, ele enrola sua mão com uma toalha de papel.

- Veja, bom como novo.

- Ainda pode estar infectado. - eu tiro o kit e coloco-o no balcão - Você realmente deve me deixar leva-lo ao hospital. - ele me olha por um momento com os olhos cheios de agonia.

- Deus, você parece muito com ela, é uma loucura... - ele arrasta os pés enquanto sai da entrada e vai em direção a sala de estrar.

Segundos depois, eu ouvi o clique da televisão ligada e o ar se enche de fumaça. Contenho os sentimentos superficiais enquanto coloco o kit de primeiros socorros de volta para o armário. Ligando o rádio novamente, eu abafo a minha dor e me ocupo com os pratos. Meu celular vibra no meu bolso e eu limpo minhas mãos em uma toalha antes de verificar as mensagens.

Há uma mensagem de voz de Minji de ontem que eu ainda não tinha escutado, e uma nova mensagem de texto. A mensagem de texto parece ser a menos perigosa entre as duas. Minha mão treme enquanto leio uma nova e outra vez, então, finamente respondo. Eu lanço o celular no balcão e foco na limpeza porque é simples. E o simples é apenas o que eu quero.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐅𝐑𝐈𝐄𝐍𝐃𝐒 [𝐉𝐈𝐘𝐎𝐎]Onde histórias criam vida. Descubra agora