𝟑𝟎

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𝐘𝐎𝐎𝐇𝐘𝐄𝐎𝐍

Passam-se mais alguns dias e nenhuma notícia de Minji. O tempo parece se arrastar. Fico confusa ao perceber quanto a falta sinto dela, mas faço o possível para me manter ocupada. Não quero ser sufocada pela solidão e pela preocupação.

Sunmi e Chung Ha voltaram para Los Angeles há cerca de uma semana. Chung Ha me contou que voltariam para uma visita antes de o verão acabar. Caso contrário, iríamos nos rever no casamento, marcado para outubro.

SuA passa o dia fora com Siyeon. Não para namorar, como ambas explicaram quando forcei o assunto. Meu pai está trancado em seu quarto. Teve uma noite difícil e andou brigando. Mia ligou às duas horas pedindo que eu fosse buscá-lo. Decido dar um tempo fora de casa.

Olho meu pai, que está dormindo, e então dirijo até a casa de Gahyeon. O carro de Sihyeon está estacionado em frente a casa. A porta está escancarada e, como venta um pouco, ela balança. Desço do carro no exato momento em que ela sai da casa com uma bolsa no ombro e uma caixa com algumas coisas de Gahyeon nos braços. Temo que o pior tenha acontecido.

- Aconteceu alguma coisa? - Sihyeon suspira e apoia a caixa no quadril para que, com a mão livre, possa abrir a porta do carro.

- Gahyeon pegou uma pneumonia forte e foi levada para o hospital. - para ajudar, coloco a mão no porta-malas.

- Mas ela está bem? - balançando a cabeça, ela coloca a caixa no assento e bate a porta do carro.

- Ela já está lutando contra o câncer. Isso só piora as coisas.

- Preciso ir vê-la. - murmuro, e caminho em direção ao meu carro.

- Ela não pode receber visitas agora, Yooh. - diz Sihyeon com empatia - Seu sistema imunológico está muito baixo.

- Você me avisa quando ela puder receber visitas? - franzo a testa.

- Ah, sim, Yooh. Eu aviso. - ela sorri timidamente, mas há algo em seus olhos que não me agrada.

Quando recuo da entrada da garagem, observando-a trancar a porta, sinto-me impotente e fora de controle. Quero fugir, voltar para Seul ou para qualquer outro lugar igualmente longe, para não me sentir assim. Mas não fujo.

[...]

Tento não me preocupar muito com Gahyeon, mas não consigo parar de pensar nela. Será que está em uma cama de hospital com paredes esterilizadas? Ou será que Sihyeon levou uma caixa contendo material para esterilizar as paredes?

- Que música é essa? - SuA está deitada de bruços na minha casa, folheando uma revista.

- É Black Sun, de Jo Mango - respondo apontando um dos meus lápis de carvão no lixo do quarto.

- É triste. - ela franze a testa, colocando a mão no queixo - Fico com vontade de chorar.

- É uma boa música para desenhar.

Volto para meu desenho no assoalho. As linhas escuras formam pedaços de um espelho quebrado e começo a delinear a imagem de m violão dentro de um deles. Quando terminar, cada peça terá alguma coisa representando minha vida, mas pode levar m bom tempo para tudo ficar pronto.

- Você ouviu isso? - SuA levanta bem a cabeça e olha para a janela.

Há gritos vindos de fora e são tão altos que se sobrepõem à música.

- Provavelmente são os vizinhos. Só isso.

A gritaria fica mais alta e alta, e SuA, nervosa, senta-se na cama e abre a cortina.

- Yooh, duas mulheres estão na maior discursão bem em frente da garagem.

Deixo meu desenho de lado e vou até a janela. Lá estão duas mulheres gritando uma com a outra quase no meu jardim.

- Essas são as irmãs Jung - explico - Sempre fazem isso.

- Não é melhor darmos um basta nisso? - SuA indaga com profunda preocupação - Elas podem se machucar.

- Pode deixar que eu cuido disso - afirmo - E você, fique aqui.

Desço as escadas descalça, vestindo apenas um short e uma camiseta. Quando abro a porta, as Jung já não estavam mais na rua.

A letra e a música de Behind Blue Eyes do The Who, estão explodindo no quarto de Minji, na casa ao lado. É uma música triste, do tipo aquelas que ela deixa tocar e repetir incessantemente quando está deprimida. As luzes da casa estão apagadas, exceto a da garagem, que brilha muti em contraste com a escuridão da noite.

Dá para ver, pelo portão aberto, a parte traseira de seu carro. Há um grande amassado no canto do para-lama. Caminho no concreto fio em contato com meus pés descalços. Vejo-a pela janela da garagem, examinando a prateleira em busca de algo. Acompanho seus movimentos. Minha pulsação imediatamente se acelera e tenho que me esforçar para continuar respirando.

Quando ela se afasta da prateleira com uma caixa na mão, vira a cabeça em direção à janela, como que sentindo minha presença. Nossos olhos por fim se encontram. Ela larga a caixa e desaparece do meu campo de visual. Alguns segundos depois, ela sai da garagem.

- Quando você voltou? - pergunto de onde estou, ou seja, da entrada da minha garagem.

- Faz uns dias... Há muita coisa acontecendo, acho.

Dou mais uns passos à frente e sinto como se meu coração estivesse dando verdadeiras pancadas no peito.

- É por causa do seu pai?

- Como você sabe? - Minji chega á grama, perto da cerca entre nossas casas.

- Siyeon me contou. - paro bem perto da cerca. Encolho os ombros e cruzo os braços para me manter aquecida.

- Ela já foi melhor em guardar segredos. Está ficando fofoqueira igual a SuA - ela balança a cabeça, irritada.

-Ei! - finjo estar ofendida, na tentativa de aliviar seu humor - Não fale assim delas. Eu por exemplo, sempre fui uma ótima ouvinte e guardiã de segredos. Você sabe disso.

- Já não sei mais se isso é verdade. - ela aponta para mim - Talvez, antes, você fosse sempre assim. Talvez este lugar a deixasse assim.

- Você poderia ter me contado sobre seu pai. - ela está chateada e eu preciso chegar ao motivo.

- Poderia? - suas coxas estão empurrando a cerca - Não acho que você possa lidar com isso agora... Mal consegue lidar com seus próprios problemas...

- Experimente. - diminuo o pequeno espaço entre meu corpo e a cerca.

Seu olhos examinam meu rosto, procurando alguma coisa dentro de mim. E, então, sua cabeça cai. Ela se sente derrotada e deixa escapar um suspiro.

- Doeu quase como naquele dia em que você partiu. Na verdade, ele tem outra família, uma nova mulher, dois filhos... Droga! -sua voz fica rouca e ela engasga - Como se não fôssemos boas o suficiente, ou algo assim...

A dor em sua voz quase me mata. Fecho os olhos e concluo que posso ajudar, que estou mais forte nesse momento. Abro os olhos e coloco o dedo em seu queixo, forcando ela olhar para mim. Seus olhos estão vidrados, como se estivesse prestes a chorar, ela tenta desviar o olhar. Coloco minha mão trêmula em seu rosto e continuo fitando-a.

- Sei que dói agora - digo lutando para manter a voz firme - Mas tudo vai melhorar. Só vai levar algum tempo, mas eu vou estar aqui, bem ao seu lado, quando essa hora chegar. Prometo.

Minji não parece convencida. Não sabendo mais o que dizer, fico na porta dos pés, inclinando-me sobre a cerca e levemente passo meus lábios nos dela. O calor acaricia minha boca e pele.

- Preciso de você agora, neste momento. - Minji murmura com os lábios nos meus, com tanto desejo nos olhos que meus joelhos se dobram - Preciso disso agora.

Suas mãos envolvem minha nuca, muito mais suave que a intensidade de sua voz, e ela trava meu corpo contra o seu. Ela me tenta, tocando os lábios várias vezes nos meus, e a tensão sexual entre nós só aumenta e finalmente explode. Não consigo me conter, entrego-me a ela.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐅𝐑𝐈𝐄𝐍𝐃𝐒 [𝐉𝐈𝐘𝐎𝐎]Onde histórias criam vida. Descubra agora