CONTINGÊNCIA [L.S]

Capítulo um.

Capítulo um: Depois do fim.

Minha vida estagnou.

Tenho vinte e oito anos, me mudei para capital e comecei a faculdade de enfermagem há dois anos. Faço estágio, que não serve nem para me bancar, e sobrevivo com a ajuda financeira dos meus pais.

Sinto como se estivesse atrás de todos na corrida da vida. Vejo as pessoas cruzando a linha de chegada, enquanto meus pés estão cravados no chão, se arrastando com dificuldade. A maioria das pessoas da minha idade já conseguiram a estabilidade financeira, já encontraram os parceiros de suas vidas, já constituíram família, e eu permaneço aqui: parado no tempo.

Todos passam por mim. Todos estão à minha frente. Eu estou na curva. Eu não consigo seguir em linha reta.

Isso me faz lembrar de Icarus, e mais uma vez, ele me comprova que eu nunca vou ser o "a ponto de" de alguém. Eu te amo a ponto de me casar com você. Eu te quero a ponto de construir uma família com você. Eu te anseio a ponto de querer um futuro contigo.

Eu sinto que jamais serei isso de alguém. Eu sou bom, mas não a tal ponto, não o suficiente. Icarus apenas surrou isso em minha cara com sua sinceridade cruel.

Eu não precisei bloquear ele das redes sociais porque ele não tinha. Não precisei explicar porque nossas fotos foram apagadas porque elas nunca nem sequer foram postadas. Não me expliquei para os meus amigos e meus pais porque, acho que no fundo, todos já esperavam.

Estava tão na cara assim?

ㅡ Louis?

Ouço a voz de Liam, meu colega de classe e estágio, e saio dos meus pensamentos. Por pouco não derrubo a medicação da bandeja.

ㅡ Oi.

ㅡ Você está distraído. Já fez os prontuários?

ㅡ Já. Estão aqui. ㅡ Entrego a prancheta para ele, mas seu olhar desconfiado não sai de mim.

ㅡ Você não está bem. Isso é por causa do término ainda?

Não sei se deixo tão explícito na minha cara, ou se o término fica estampado no semblante daqueles que terminam. Nas últimas semanas, todas as pessoas que me cercam só falam sobre isso. Meus pais me ligam todos os dias perguntando se Icarus me procurou, se voltou atrás, se deu algum sinal de vida. E não. Não voltou atrás, não me procurou, e não deu um sinal de vida. Engraçado como ninguém me pergunta se eu estou bem. Minha mãe sempre me diz que quem perdeu foi ele, mesmo quando o assunto não tem nada a ver com Icarus. Eu também perdi. Eu perdi a mim. Perdi meu tempo. Meus dias. Meu carinho comigo mesmo. Eu também saí perdedor.

ㅡ Não. ㅡ Respondo de forma ríspida, na defensiva. ㅡ Eu só estou distraído.

Sei que não convenço a Liam. Seus olhos castanhos não saem de mim. Somos amigos há dois anos, ele me conhece mais que isso, eu deveria saber.

ㅡ Fale a verdade, Lou.

Solto um suspiro alto, e deixo os ombros penderem. Sei que não tem como me esquivar desse papo, como já me esquivei antes, várias vezes.

ㅡ Sei lá. Eu pareço estar parado no tempo. Parece que estou vendo tudo ao meu redor e não consigo me mexer.

ㅡ Eu sinto muito. Isso vai passar, te garanto. ㅡ Ele diz, complacente. ㅡ Por que não saímos? Eu nunca te chamei porque você namorava. Mas, hoje, poderíamos ir em algum lugar.

ㅡ Ah, não sei se é uma boa ideia. Eu também estou sem dinheiro.

ㅡ A gente vai em um lugar bem fuleiro. ㅡ Ele me lança um sorriso. ㅡ Eu também não tenho muito dinheiro. Podemos ir em um bar com música ao vivo. Só pra você distrair a cabeça.