Capítulo dois: Estágios.
Estou anestesiado.
E bêbado. Bem bêbado.Não tenho vontade de chorar.
Bem que dizem que o luto tem estágios. Não sei se é o álcool penetrado no meu sistema, ou se estou tão absorto nos eventos desta madrugada que não consigo sentir muita coisa, além da minha cabeça girando neste quarto escuro.Me ergo na cama, me sentando.
Eu vou vomitar.Me levanto e vou correndo ao banheiro. Só tenho tempo de abrir a tampa e me inclinar para frente. Vomito tudo que bebi, já que não comi quase nada. Quando não há mais nada em meu estômago, me sento no chão, ainda sentindo enjôo. Abraço o vaso e percebo que cheguei no limite da humilhação.
Zayn parece não ter ouvido os barulhos. Ele deve estar tão bêbado que simplesmente apagou. Agradeço por isso e com cuidado, me levanto, tirando a minha roupa e entrando no chuveiro. Esse é o bom de ir em um bar barato. Com pouco, você bebe muito, e termina a noite da maneira que queria: completamente bêbado.
Fico me lembrando do olhar de Icarus. Lembro de como ele me olhou quando percebeu que eu estava no mesmo ambiente que ele. Pela primeira vez, ele me pareceu desconhecido. Ele era apenas uma pessoa que um dia eu conheci muito bem.
É estranho pensar que amamos tanto alguém que não imaginamos a nossa vida sem ele. E de repente, essa pessoa deixa de ser tudo aquilo que um dia foi. Pessoas entram e saem de nossas vidas com uma facilidade assustadora. Era importante e simplesmente deixou de ser. E eu sei que um dia, ele será apenas uma lembrança do que um dia eu conheci. Nada mais que isso.
Por enquanto, ainda dói. Dói por ser recente, mas não dói a ponto de trazer sofrimento. Dói pelo ego ferido. Dói por saber que ele seguiu a vida primeiro. Dói por ele parecer mais superado com o nosso fim do que eu.
Fico imaginando o que ele fez depois que foi embora. Fico imaginando o que ele fez com aquele cara. Se o beijou como costumava me beijar. Se o amou como costumava me amar no começo. Se em algum momento sentiu minha falta e deixou o cara em casa porque não suportaria fazer nada comigo rondando a sua mente.
Eu nunca saberei.
Não é mais da minha conta.Deixo a água escorrer pelo meu rosto e me lembro do estranho. Diferentemente do rosto de Icarus, o seu rosto está perfeitamente nítido em minha cabeça. E o seu cheiro ainda está empregando em mim. Se buscar na memória, ainda consigo sentir suas mãos em minhas costas, meus dedos em seus cachos, e sua boca na minha.
Saio do banho, ainda zonzo, e de toalha, deito na minha cama. Fico olhando para o teto, e por mais que eu queira sofrer por Icarus, tudo o que eu consigo pensar é no beijo do estranho. Em suas palavras, como ele me matou de vergonha na frente de um bar inteiro, e como me beijou sem pestanejar quando eu pedi.
Solto uma risada baixa, bêbada e contida.
E tento fechar os olhos para dormir.…
Chego na faculdade morto. Zayn estava de ressaca, assim como eu, e nem tivemos tempo de comentar sobre a noite anterior. Eu poderia ter faltado hoje, mas não posso me dar o luxo de ter mais faltas. Me sento em uma das carteiras do fundo e abaixo a cabeça na mesa. Com sorte, eu tiro um cochilo no meio das aulas, ganho presença e ainda consigo enfrentar bem o estágio a tarde. Eu só não posso roncar.
Quando estou quase pegando no sono, sinto dedos em meu braço e gelo pensando que é o professor, mas solto um suspiro de alívio quando ergo a cabeça e percebo que é Liam.
ㅡ Eu estou numa ressaca fodida. ㅡ Ele diz, e se senta na carteira ao meu lado.
ㅡ Nem me fale. Há tempos não bebia tanto assim.
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CONTINGÊNCIA [L.S]
FanfictionCONTINGÊNCIA: ACASO. Aquilo que pode ou não acontecer. Uma eventualidade. Louis se vê perdido após o término do seu relacionamento, e para tentar ocupar a cabeça e distrair o coração, ele começa a sair para beber e se divertir com os amigos. No en...