1 ano antes.
Anahi já havia encarado aquele teto branco mais vezes do que a maioria das pessoas em toda sua vida. Ainda sim, não conseguia se acostumar. O nervosismo crescia como um comichão pela sua barriga, ameaçando tomar conta do seu corpo todo, e reverberava nos dedos de seus pés, que se mexiam sem parar.
Estar trancada ali no mais absoluto silêncio não ajudava na sua ansiedade. Contrastando com o ambiente calmo e sossegado daquele quarto de hospital, sua mente estava um turbilhão.
Apesar de evitar a todo o custo, um filme se passava na cabeça de Anahi. Havia certas coisas que ela não gostaria de reviver nem em sonho, pois fazia uma angústia crescer em seu peito, ameaçando tomá-la inteira. Em uma tentativa de afastar o que ela julgava ser um mau presságio, Anahi começou a contar mentalmente e a tentar se concentrar em sua respiração, do jeito que sua psicologia havia lhe ensinado. Ela quase chorou de alívio ao ouvir a maçaneta da porta sendo girada.
— Olá, querida. Tudo bem?
Erika colocou apenas a metade do corpo para dentro, afim de verificar se Anahi estava realmente acordada. A filha, já vestida com uma daquelas roupas de hospital e com um touca na cabeça, lançou um meio sorriso a mãe, em um convite para que a mesma entrasse.
O tempo fizera bem a Erika. A terapia tinha lhe ajudado a se tornar uma mãe cada vez melhor para Anahi. A loira havia ganhado uma amiga, uma forte aliada em sua batalha. A amargura de seu fardo se atenuava tendo a sua mãe ao lado.
Anahi assistiu a figura baixa de Erika se aproximar da cama a passos lentos, com uma tranquilidade no rosto que poucas pessoas demonstrariam nesse momento. Ela sabia que a mãe estava aflita, mas Erika não deixava transparecer.
Quando ela finalmente se aproximou o suficiente, o toque delicado e reconfortante de Erika envolveu as mãos de Anahi e enviou uma onda de calor pelo corpo judiado da loira, fazendo seu coração se aquecer. Anahi tentou retribuir o aperto, embora de uma maneira não tão firme. O olhar de Erika encarava as suas mãos entrelaçadas nas da filha, até seu olhar pousar no rosto de Anahi, que respondeu a feição apazigudora da mãe com um carinho de volta naquelas mãos finas e marcadas pelo tempo.
— Estou me sentindo meio grogue. Estranho, porque não me lembro de ter tomado nada. — Como se para comprovar o que dizia, Anahi piscou lentamente.
Erika — que estava de pé — sentou-se na beirada da cama. Anahi fechou os olhos ao sentir a suavidade da mão de sua mãe deslizar em um carinho pela sua face, enquanto a outra mão permanecia segurando a sua.
— Deve ser por causa do momento em si. Você é tão forte, minha garota doce.
Ouvir a mãe chamá-la daquela forma quase fez Anahi chorar. Sabia que não podia perder o controle momentos antes de sua cirurgia, mas estava sendo difícil. Ela piscou repetidas vezes e respirou fundo, tentando dissipar a ardência que tomou conta dos seus olhos. Percebendo o esforço da filha em tentar se manter calma, Erika logo tentou distraí-la.
— Christian, Maite e Brad estão lá fora. Só não entraram feito uma locomotiva porque Ian não permitiu. — Ver a filha deitada em uma cama de hospital, pálida e careca por debaixo daquela touca, fez o coração de Erika afundar no peito. Havia coisas que uma mãe nunca devia passar na vida, pensou consigo mesma. Embora se sentisse inquieta, o olhar continuava transmitindo serenidade à filha.
Anahi sorriu, fraca. Sabia que os amigos não arredariam o pé dali.
— Eu sei. Ian passou aqui comigo mais cedo e me contou que eles estavam lá fora.
— Essas flores são dele? — Erika, que ainda estava sentada na cama, olhou sugestivsmemte para o singelo buquê de lírios em um jarro de vidro que repousava na mesa de cabeceira da cama.