Play: Arcade - Duncan Laurence.
Um coração partido é tudo o que restou
Eu ainda estou consertando todas as rachaduras
Perdi alguns pedaços quando
Eu o levei, o levei, levei para casa
Os olhos turquesa a avaliaram de uma forma que a deixou desconcertada. Na verdade, Anahi estaria mentindo se dissesse que não havia percebido a forma como aqueles olhos incrivelmente azuis a escaneavam, pareciam querer perfurar-lhe a alma. No entanto, eram dúvidas que ela nunca ia verbalizar, pois era mais confortável acreditar que tudo não passava de fruto da sua imaginação.
Pelo menos até agora.
As mãos calejadas e firmes alcançaram a sua por cima da mesa, e Anahi não pôde refrear o calor que se espalhou por seu corpo com aquele gesto.
-***
As mãos delicadas e macias de Ashley se embrenhavam pelos cabelos escuros dele, que mantinha os olhos fechados, a cabeça repousando no colo da moça.
Era confortável ali.
Pena que o seu coração não achava o mesmo.
Tenho medo de tudo que eu sou
Minha mente parece uma terra estrangeira
O silêncio ressoa dentro da minha cabeça
Por favor, me leve, me leve, me leve para casa
-***
O coração batia disparado contra as costelas, fazendo-a tremer de leve. Seria a qualquer momento agora.
Quando a porta se abriu, ela não precisou virar para saber quem era. Antes mesmo de entrar, ela sentiu a presença dele. Aquela presença que sempre a envolveu desde o primeiro contato, desde o primeiro olhar. Aquela presença que a fazia questionar se ela de fato era dona de si ou pertencia a ele.
Suspeitava que a resposta tendia para a segunda opção.
Eu gastei todo o amor que eu guardei
Nós sempre fomos um jogo perdido
Garoto de cidade pequena em um grande fliperama
Eu me viciei em um jogo perdido
-***
Alfonso mirava o líquido marrom em seu copo. Estava com o pensamento distante, tanto que nem a música escandalosamente alta do bar o estava incomodando. Não era muito adepto daquele tipo de ambiente, mas não queria lidar com seus fantasmas sozinho em casa, muito menos sem uma boa dose de álcool correndo pelas veias.
Ele estava pronto para pedir mais uma dose ao barman quando um perfume forte e enjoativo o envolveu. Alfonso se virou na cadeira que estava sentando em frente ao balcão, se deparando com uma figura chamativa, mas que era estranhamente familiar.
- Olá.
A moça lhe mostrou uma fileira de dentes brancos perfeitamente alinhados. Alfonso reparou bem nela. Tinha olhos verdes, pele branca e os cabelos claros.
- Como você se chama?
Era uma pergunta idiota, ele sabia. Havia demorado a responder o cumprimento da moça e ainda havia sido mal educado, sequer lhe desejando boa noite. Mas ele estava estranhamente mexido com ela, era como se a conhecesse de algum lugar.
O sorriso dela se alargou ainda mais ao responder.
- Azul. Azul Guaita.
Não reconheceu o nome, mas a figura lhe lembrava alguém. Apesar de estar fortemente maquiada, com os lábios destacados em vermelho, a moça não devia ter mais do que uns 22 anos. E mesmo tendo deixado bem claras as suas intenções ao se aproximar dele, algo nos olhos dela não condizia com as suas ações.
Oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh
Tudo o que sei, tudo o que sei
Amar você é um jogo perdido
-***
- Esperem, esperem, vamos nos acalmar.
Ashely se levantou do sofá, gesticulando com as mãos. Ela mesma tinha oferecido uma proposta de paz ao ver que os ânimos estavam se exaltando, mas a própria também estava nervosa, precisava fumar. Foi a passos firmes que ela se levantou do sofá, indo até o aparador para vasculhar a sua bolsa em busca do seu fiel companheiro cigarro.
- Você não entende. - Alfonso retrucou, levando as duas mãos a cabeça e passando por entre os fios negros. Permanecia sentado no sofá, mas o vai e vem de seus pés indicava o quanto estava nervoso - Nada disso faz sentido. Não foi uma simples coincidência. Se estamos aqui falando de tráfico de drogas, prostituição e, Deus me ajude, tráfico humano, não se trata de uma organização barata. Isso se parece mais com...
- A Máfia Russa. - Concluiu Anahi, os olhos azuis gelados encarando um ponto fixo na parede.
A bolsa de Ashley caiu com uma baque no chão, antes mesmo dela encontrar o cigarro. Seus olhos azuis se fixaram incrédulos no espelho acima do aparador e o que ela encontrou no reflexo foi a expressão de mais puro horror nos rostos de Anahi e Alfonso.
Amar você é um jogo perdido
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Amar não é uma escolha, mas permitir que o amor crie raízes, sim. E qualquer que seja a escolha, há consequências.
Le Vol Du Papillon é uma história sobre escolhas.
Estreia dia 18 de julho, às 19:00 h.