Aquele fim de semana fora agitado para Anahi. Sua decisão de tentar seduzir Alfonso havia injetado um novo gás em sua autoestima, a qual estava se recuperando em pequenas doses desde a descoberta da sua doença e aos eventos que se sucederam.
Nem mesmo o clima muito frio da Rússia - o qual ela ainda não havia se acostumado inteiramente - a desanimou de ir ao salão. Havia escolhido a dedo onde iria e fora muito bem recebida no Krygina Beauty Studio, bastante famoso e requisitado por ter sido criado por Elena Krygina, uma das influencers de beleza mais famosas da Rússia. Era uma construção bastante moderna, com suas paredes brancas e cortinas vermelhas fazendo fundo para os espelhos redondos circundados por luzes.
Foi de frente para um desses espelhos que Anahi ergueu as sobrancelhas, mais surpreendida do que esperava com a mudança do seu visual.
Seus fios ainda estavam curtos, mas agora, repicados. Os cabelos loiro escuros ganharam um tom iluminado puxado para o loiro mel em algumas mechas. O novo corte havia dado um ar mais selvagem a ela, de mulher decidida e moderna. Os tons mais claros do cabelo haviam deixado o azul de seus olhos ainda mais brilhantes, quase líquidos, parecendo duas lagoas cristalinas. Estava ainda mais bonita e com um ar de mulher fatal, sem, contudo, perder a seu ar de ingenuidade graças aos traços delicados de seu rosto. Era um belo contraste.
Muito satisfeita com o resultado, Anahi fora as compras. Com os cabelos recém-cortados e pintados, ela dispensou o uso do lenço, seu fiel companheiro nos últimos anos. Por mais que ela gostasse do acessório, a sensação de liberdade foi inebriante, deixando-a ainda mais confiante em si mesma.
Anahi saiu da loja de artigos para dança — com mais sacolas do que pretendia, diga-se — com um destino certo.
Sentiu certo receio ao parar em frente ao local, seus olhos passeando lentamente pela fachada. Apesar do medo repentino, sabia que era a coisa certa a se fazer.
Respirando fundo, ela adentrou o local. Havia pesquisado bastante, conversado e, finamente, feito um pré-agendamento.
Apesar de já saber passo a passo todo o procedimento, Anahi encontrava-se totalmente rígida sobre uma cadeira, o que fez o tatuador achar graça. Quando ele começou, ela prendeu a respiração, os olhos abertos em placa. Mas com o passar do tempo, ela relaxou. O local escolhido havia sido abaixo da costela, devido a rigidez do Bolshoi — Bailarinos não podiam ter tatuagem em locais expostos do corpo —. No final, ficara muito satisfeita com o resultado, e seus olhos encheram de lágrimas ao contemplar o desenho do pas de quatre idêntico ao de seus amigos.
Aquele dia atípico se encerrou com uma caneca de chocolate quente em sua cama e longas horas de conversa com uma Maite totalmente eufórica por chamada de vídeo. A morena havia visto a tatuagem da amiga, se empolgou com os planos de Anahi de seduzir Alfonso e aprovou o novo visual da loira.
Era noite na Rússia e madrugada aberta em Nova York quando as duas encerraram a ligação. Anahi não sabia, mas aquela seria uma semana mais agitada do que ela pretendia.
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Alfonso, como um dos professores responsáveis por dirigir o espetáculo do meio do ano, estava com mais responsabilidades do que poderia contar. E, com elas, vinham os problemas. Eles estavam por toda a parte, tirando sua sanidade.
Quando chegou a um dos inúmeros salões do Bolshói, se deparou com um problema que ele não contava.
Ela estava ali. Mais linda do que um dia ele achara possível.
Anahi estava de frente para um dos espelhos, realizando seu aquecimento. Havia muitos bailarinos ali, aquecendo, conversando, dançando, mas foi o reflexo dela que prendeu a atenção dele no segundo exato em que pôs os pés dentro daquela sala.
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