Um silêncio agourento recaiu sobre a sala de estar após a constatação de Anahi. A respiração dos três parecia custosa, pesada, deixando o ar em torno deles ainda mais denso.
Os ouvidos de Ashley zuniam, enquanto o cigarro, que parecia tão essencial outrora, seguia largado no chão ao lado de sua bolsa. Os olhos azuis esbugalhados ainda encaravam pelo espelho uma Anahi que parecia não acreditar em suas próprias palavras. Ou melhor: ela queria que não fosse verdade.
Alfonso tinha os nós dos dedos brancos, apertando-os uns contra os outros sem sequer perceber, enquanto encarava o nada. A voz de Ashley o trouxe de volta ao mundo real. Mas, se ele fosse ser sincero, preferia ser capaz de qualquer artimanha para escapar daquela realidade que parecia cruel. Não que ele fosse um covarde, mas só de imaginar os abusos pelos quais Azul poderia estar passando, seu estômago dava voltas e voltas.
- Eu...eu acho que vou desmaiar.
Alfonso piscou, assistindo a cor fugir do rosto da amiga, deixando-a ainda mais pálida. Não deu tempo sequer de tentar entender a situação, em um segundo, ele já estava aparando-a. Ashley respirou fundo enquanto sentiu as mãos dele em volta de sua cintura, sentindo suas forças abandonando-a. Ouviu de longe a voz de Anahi dizendo que ia buscar alguma coisa, mas não conseguiu entender direito. Enquanto Alfonso a conduzia até a poltrona, alguns pontos pretos surgiam na vista de Ashley. Ele a sentou no móvel estufado com cuidado, se ajoelhando a frente dela em seguida.
- Tudo bem. Respira comigo, vamos lá.
Demorou um pouco, mas Ashley permaneceu acordada, embora seus olhos estivessem pesados. Ela os abriu com muito esforço, se deparando com os rosto preocupado do amigo bem próximo ao seu. Em seguida, ela o obedeceu, imitando a movimentação do peito dele, inspirando e expirando devagar.
- Aqui.
Anahi voltou com uma garrafa de álcool e um pedaço generoso de algodão nas mãos, oferecendo-os a Alfonso. Ele assentiu para ela em um agradecimento silencioso e ela se sentou no braço da poltrona, observando-o com as mãos trêmulas encharcar com uma quantidade exagerada de álcool um pedaço de algodão. Ela encarou Ashley, fazendo uma rápida avaliação do estado da outra. Ela não parecia bem, concluiu em sua mente. Anahi então levou umas das mãos às costas da loira, embora um tanto incerta. Ashley, no entanto, não demonstrou nenhuma reação negativa ao carinho da rival.
- Aqui. Respira bem devagar. - Alfonso ofereceu o algodão, aproximando-o do nariz da amiga.
O cheiro forte do álcool foi, aos poucos, recuperando os sentidos débeis de Ashley. Ela se recostou na poltrona, levando uma das mãos aos olhos. Ainda estava tonta e suando frio.
- Você está bem? Não acha melhor irmos ao médico? - Anahi se ajeitou no braço da poltrona, buscando a mão da colega. Se assustou quando percebeu que ainda estava muito fria.
- Não, vai passar. Acho que foi apenas uma queda de pressão.
Ela permanecia com uma mão cobrindo os olhos, mas podia jurar que Anahi e Alfonso se encaravam em uma conversa muda.
- É sério, gente. Tá tudo bem. Eu só estou realmente assustada.
Como se para provar que estava mesmo bem, ela se ergueu do encosto da cadeira, sentando-se com a coluna reta. Respirando fundo mais uma vez, ela resolveu tirar o foco de si.
- O que...- ela sentiu medo ao concluir aquela frase - O que vamos fazer?
Alfonso, que aquela altura estava sentado no tapete, ergueu o olhar para a amiga, a resposta parecendo na ponta da língua. No entanto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, a voz de Anahi sobressaiu.