Anahi se espreguiçou, desalinhando a colcha de cama. Sentiu seu corpo gostosamente relaxado, apesar da tensão da noite anterior. Ela sorriu consigo mesma e virou de bruços.
Só para se deparar com o outro lado da cama vazio e frio.
Ela piscou, confusa. Se sentou na cama, incomodada com um raio de sol que entrava pela brecha da cortina. Não pôde evitar também a pontada ee decepção ao acordar sozinha. Apanhou o celular da mesa ao lado da cama, a fim de verificar as horas, mas acabou se distraindo com uma mensagem de um número desconhecido.
"Tive que sair porque precisava trocar de roupa antes de ir mais cedo ao Bolshói resolver o problema que me espera. Deixei o café da manhã pronto para você. Foi ótimo dormir sentindo seu cheiro.
Alfonso."
Um largo sorriso voltou a aparecer no rosto de Anahi e ela apertou o celular contra o peito, tombando na cama, toda suspiros. Enquanto a sensação de várias borboletas voando em seu estômago preencheu seu interior, ela puxou o travesseiro que repousava do outro lado da cama e o levou ao nariz, sentindo. O cheiro dele ainda estava ali, indicando que aquilo não havia sido um sonho.
Ficaria o dia inteiro naquela cama, mas quando foi salvar o número de Alfonso, as horas no celular a fizeram arregalar os olhos. Estava mortalmente atrasada.
Anahi pulou da cama e correu para o banho. Mal teve tempo de apreciar o café da manhã feito por ele. Saiu tropeçando a esmo pela casa, procurando a mochila que ela tinha certeza ter deixado na cadeira do seu quarto - a qual Alfonso chamara ontem de cadeira da bagunça -. Ela sorriu de canto com a lembrança dele, imaginando o que ele diria sobre ela nunca guardar as coisas no mesmo lugar. Quando ela finalmente encontrou a maldita mochila largada no chão da sala, próxima ao sofá, ela pensou que Alfonso talvez tivesse razão, ela realmente precisava ser mais organizada.
Anahi chegou ao Bolshói ofegante, parecia ter corrido uma maratona. Seus cabelos curtos estavam alvoroçados e a mochila batia contra suas costas enquanto ela avançava praticamente correndo pelos corredores. Proferiu uns 20 palavrões em português - todos os dias ela agradecia por seu pai ser brasileiro e ter ensinado algumas coisas sobre a língua -, até que chegou ao salão onde a turma do profissional estava reunida.
E ela preferia ter corrido outra maratona em vez de enfrentar o que encontrou do outro lado da porta.
Alfonso respirava a arfafas, estava vermelho e parecia prestes a avançar em Tom, que estava em sua frente totalmente sério, a postura rígida encobrindo algo. Ou melhor, alguém. Anahi não conseguia ver quem estava do outro lado, mas não precisou pensar muito para saber quem era. O clima estava tão tenso na sala que nem sua entrada abrupta chamou atenção dos homens envolvidos naquela briga, e muito menos da plateia que acompanhava, parecendo aflita. Ela engoliu em seco, estancada sobre o umbral da porta.
- Eu avisei para você se manter afastado. - Alexander estava furioso, apontando o indicador no que seria o rosto de Alfonso, se Tom não estivesse a frente. O tom baixo da discussão dos dois não a tornava menos hostil.
- Você não me coloca medo. Eu sou a autoridade dentro dessa sala e se você não tirar esse dedo da minha frente, vai acabar sem ele. - Ameaçou, o rosto agora tranquilo demais para ser saudável.
Anahi sabia que Alfonso era calmo, mas que quando perdia a paciência, ter controle sobre suas ações não era seu forte. Tom parecia ter chegado a mesma conclusão, pela expressão dura em seu rosto.
- Não se aproxime dela. Ou você e sua querida - Alexander ergueu o queixo em direção à porta - vão ter muito o que explicar à direção da escola.