La Fille Numéro Treize

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Moscou - Rússia. 1 ano antes.

A mudança é uma faca de dois gumes. Cada pessoa encara de uma forma. Para alguns, pode ser empolgante, desafiador, vibrante. Para outros, pode trazer medo, ansiedade, incertezas.

Mas há uma coisa que é universal: mudanças trazem perdas e novas oportunidades.

Eis aí a faca de dois gumes: para você conquistar algo novo, você precisa abrir mão de certas coisas, sair da sua zona de conforto.

No caso de Alfonso, ele almejava se ver livre da dor do abandono de Anahi. Para isso, ele precisou abrir mão de estar na presença dela.

Os ganhos e perdas consequentes das mudanças sempre vão existir, mas só o tempo mostra qual lado vai pesar mais. Deve ser por isso que as mudanças sempre causam incerteza. Mas o fato é que elas são inevitáveis ao longo da vida. E por mais dolorosas que sejam, nos fazem crescer.

Quando entrou no avião rumo ao aeroporto de Moscou, Alfonso teve tempo para pensar. As longas horas de viagem resultaram em muitas reflexões, principalmente sobre se havia tomado a decisão certa. De certa forma, aquela decisão não fora tão pensada quanto deveria. Seus sentimentos estavam a flor da pele, e ele se deixara levar pela emoção. Não se orgulhava disso, contudo, pois sempre havia colocado a razão acima da emoção. Só havia duas exceções.

1 - A dança. Dançar era algo que exigia entrega e emoção aliados à técnica de execução. Juntos,  eram imprescindíveis para uma performance brilhante nos palcos.

2 - Anahi. Assim, sem maiores explicações.

Desde a primeira vez que a vira, Alfonso se deixou levar pelos seus instintos. Talvez tenha sido a química instantânea e irresistível. Talvez estivessem predestinados. Ou talvez porque somente ela fazia seu peito se encher de completa plenitude.

No meio de tantos "talvez", a certeza era que haviam nascido um para o outro.

Mas ela o havia machucado. E agora ele estava ali, rumo a outro continente, outro trabalho, outra vida. Uma vida sem ela.

Aquilo causou uma dorzinha aguda em seu coração, o que fez Alfonso se remexer na pltrona do avião, incomodado.

Seriam longas horas de voo e, pelo visto, sua cabeça estava disposta a torturá-lo. Ele desistiu, então, de lutar contra seus pensamentos. Apenas aceitou e abraçou o fato de onde quer que fosse, as lembranças dela estariam lá. Só esperava que, com o tempo, ela se tornasse apenas uma lembrança bonita de uma parte da sua vida.

Dizem que a pior mentira é quando enganamos a nós mesmos, não é?

***
Ah, as mudanças...

São naturalmente difíceis, mas quando você se sente obrigado a mudar, tudo se torna ainda mais complicado.

Por mais que estivesse perfeitamente agasalhado, assim que pôs os pés fora do avião, Alfonso sentiu o frio cortante arrepiar sua pele. Estava acostumado, é claro, mas fazia tanto tempo...o clima era apenas um detalhe a mais que Alfonso teria que se readaptar

Ele suspirou, cansado. Seu corpo todo doía da longa viagem. Estalou o pescoço, esticou os braços, mas não adiantou de muita coisa. Só queria dormir por dias seguidos sem se preocupar com nada. Por sorte, não precisaria se preocupar com questões de mudança por enquanto e havia chegado no fim de semana, então só precisaria se apresentar no Bolshoi na segunda.

A última vez que havia pisado no aeroporto Moscovo Sheremetievo havia sido para deixar a Rússia após muitas decepções e começar uma vida nova em Nova York. As circunstâncias eram completamente diferentes agora. Àquela vez, ele realmente queria se mudar. Agora, ele estava fugindo. Alfonso odiava se sentir daquela forma, mas estaria mentindo se dissesse a si mesmo que voltar à Rússia não fazia parte de uma rota de fuga.

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