Échec et Mat

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Os dias que antecederam o Natal foram leves e doces. Apesar de o Bolshói ainda estar em temporada, Anahi encontrava tempo para organizar a ceia em sua casa. Para ela, sair às compras depois do trabalho não significava cansaço extra, ao contrário, era satisfatório.

Infelizmente, nem todo mundo pensava como Anahi, e não era raro ela esbarrar em pessoas de cara fechada pelo comércio ou Shoppings do centro de Moscou. Os passos acelerados de tantas pessoas ao mesmo tempo dava a Anahi a impressão de estar correndo uma maratona. A vozes se misturavam aos passos apressados, ao som de sacolas se batendo, de vendedores tentando atrair clientes às  suas lojas. Pode soar uma tortura para alguns, mas para Anahi era fascinante.

Enquanto tentava caminhar calmamente para observar as vitrines do Shopping, uma cabeleira ruiva acobreada que se insinuava através do vidro de uma das incontáveis lojas de roupa chamou atenção de Anahi. Ao contrário da maioria, aquela loja estava mais vazia, e a moça — que estava de costas — estava conversando com a atendente.

Anahi se aproximou, os braços pesados de tantas sacolas penduradas, e entrou na loja, tão discreta quanto podia. A moça havia se dirigido para a frente de um longo espelho que havia numa das paredes, a vendedora em seu enlaço, parecendo avaliar o vestido longo vermelho fogo que caia perfeitamente no corpo da cliente.

— Eu não sei. Parece justo demais, me incomoda quando ando. — A moça virava de um lado a outro na frente do espelho, as sobrancelha franzida em dúvida.

Anahi, que permanecia quieta e a uma distância segura para não ser notada, se fez presente com um breve arranhar de garganta. As duas mulheres se viraram para ela, uma delas não escondendo sua surpresa.

— Se a ocasião for a ceia de Natal, talvez este vestido não esteja tão adequado.

A vendedora encrava Anahi com certa repreensão no olhar — certamente queria muito fechar aquela venda —, enquanto Azul parecia em um misto de surpresa e tensão.

— Anahi? — Confirmou, os braços caídos na lateral do corpo, parecendo totalmente alerta.

— Olá, Azul. Boa tarde, querida. — Cumprimentou a vendedora e a colega, largando suas sacolas no chão. Enquanto se aproximava mais das duas, os olhos de Anahi registraram rapidamente que aquela era uma loja de grife. Ela já tinha notado pela fachada, mas os modelos e estilos de vestidos lhe deram essa certeza.

— Com licença, ainda tenho que visitar algumas lojas. — Azul ia se dirigir ao provador, com pressa, e a vendedora olhou de cara feia para Anahi, mas ela não se deixou intimidar.

— Na verdade, acho que você pode encontrar o que você precisa aqui mesmo. A ocasião é mesmo a ceia? — Azul fez um gesto afirmativo, ainda na defensiva. O corpo inclinado na direção do provador, longe de Anahi. — Onde você vai passar?

— Com Alexander, na casa dele. — Murmurou, levando uma das mãos à nuca. Não fazia questão de esconder seu desconforto com aquela conversa.

— Hum...— Anahi levou um dos dedos ao queixo, pensando. Se tinha notado o clima desconfortável que estava causando, não demonstrou.

Ela deu às costas as duas, olhando as araras e manequins. Se aproximou, erguendo a mão para tocar as peças. Sentiu a textura fina e delicada dos diversos tecidos entre os dedos, enquanto parecia se decidir por algo. Era observada por Azul, que tinha o cenho franzido e os braços cruzados, calada. Quando Anahi se bateu com uma peça verde, seus olhos brilharam e um sorriso de satisfação nasceu em seu rosto.

— Aqui. — Ela virou-se para as duas, mostrando nas mãos um vestido de tecido verde escuro.

O modelo era longo clássico, até os joelhos, mas tinha um corte assimétrico, o que deixava uma faixa de pele de uma das coxas a mostra. As mangas eram longas, mas então havia um belo decote em V. Era sexy na medida certa, nada de mais, nem de menos.

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