ATENÇÃO, ESTE CAPITULO CONTÉM CENAS FORTES QUE PODEM SERVIR DE GATILHO PARA QUEM TENHA SOFRIDO AGRESSAO, ABUSO, OU QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.
Os risos, conversas paralelas, barulho de copos batendo na mesa e embrulhos se rasgando eram música para os ouvidos de quem havia passado a manhã e o início da tarde inteira trabalhando. Contrastava com as notas suaves do piano nas aulas de balé clássico, mas era bom, para variar.
A lanchonete do Bolshoi era ampla, de aparência límpida e confortável, como tudo naquele lugar. As mesas estavam lotadas, o som de várias vozes se misturando também dava o tom àquele ambiente descontraído.
Em uma mesa em particular, duas mulheres riam, sentadas uma de frente para outra. Pareciam à vontade entre si, e estavam mesmo, porque aquele tipo situação vinha acontecendo constantemente.
Desde o dia que se oferecera pra ajudar Azul em seu primeiro dia de aula com a turma profissional, Anahi sentia as reservas da garota caindo por terra em relação a sua aproximação. É claro que Anahi evitava ser invasiva. Se sentia pisando em ovos as vezes, mas as duas focavam em assuntos neutros quando estavam juntas, de modo que a conversa fluía bem. Azul ainda era aquela menina retraída, desconfiada, mas Anahi notava avanços. E a convivência com a garota havia se tornado uma grata surpresa. Pode-se dizer que as duas estavam começando a desenvolver uma amizade.
E como toda amizade, os assuntos mais íntimos irão surgir, uma hora ou outra....
— Você não se incomoda? — Azul apontou com o queixo enquanto mastigava um pedaço do seu sanduíche. As duas vinham de um momento de silêncio agradável após uma sessão de risos. Anahi torceu o tronco para olhar onde a amiga havia apontado.
Quando seus olhos se depararam com Alfonso e Ashey sentados em uma mesa não muito distante, o rosto dela suavizou. Ela capturou com os olhos os exato momento em que Alfonso jogou a cabeça para trás, rindo de alguma piada boba que provavelmente a amiga tinha feito. Contemplar o riso dele, o perfil, as ruguinhas que se ressaltavam nas laterais dos olhos dele quando ria era algo satisfatório para Anahi, mas ela não ficou admirando muito tempo. Com um suspiro, ela se virou para a amiga novamente, que estava com a sobrancelha erguida para ela em um claro questionamento.
— Se me incomoda a relação de Ashley e Alfonso? Já me incomodou um dia, porque eu fiz merda e tive medo que o coração dele se abrisse para outra pessoa. Mas hoje em dia, não. — Afirmou, segura, tomando um gole de seu suco enquanto Azul parecia absorver as informações.
A garota passou um tempo calada, mirando o tampo da mesa sob o olhar atento se Anahi, que agora estava nas últimas garfadas de sua salada. Azul ergueu o rosto, parecendo analisar a mulher a sua frente.
— O que há? — A voz de Anahi era calma, suave. Não havia perguntado por perguntar, realmente estava interessada na resposta.
— Você realmente confia? Realmente acredita que não há nada? Quero dizer, ela é uma mulher bonita e ele é homem...
Anahi analisou por alguns segundos. Não havia sido uma insinuação maldosa, ela notou. Azul realmente parecia acreditar que aquele tipo de comportamento era inerente a todo tipo de homem. Anahi, então, resolveu andar por um terreno ardiloso.
— É a base de todo relacionamento, não? Confiança. Você não confia em Alex com a sua vida? — Perguntou, a voz pausada, mansa. Toda cautela ali era pouca. Azul pareceu recuar um pouco na cadeira, mas não desviou da pergunta.
— Claro. — A voz dela falhou.
Felizmente, Anahi era atenta a qualquer sinal que a garota dava. Ela sentiu o incômodo, entao, com toda sinceridade que conseguia reunir, ela decidiu que queria arriscar um pouco mais.