A conversa fluiu de modo natural entre os dois. Não conversaram nada muito pessoal, mas a sintonia era nítida no som do risos, que por vezes sobressaia à música alta do lugar.
Aliado a conversa fácil, Azul tratava de deixar claras as suas intenções através de sorrisos provocantes, cílios batendo, cruzadas de pernas mal intencionadas. Hora ou outra, mordia de leve o lábio inferior colorido de um vermelho vivo e solvia a goles lentos a sua bebida, sem tirar os olhos de Herrera. Tinha um ar de mistério misturado com doses quase sufocantes de sedução.
Alfonso, por sua vez, conseguiu esquecer um pouco os problemas. A mulher a sua frente prendera totalmente sua atenção, mas não por causa dos jogos de sedução estabelecidos por ela, mas sim porque ele sentia algo...forte. Não sabia bem como definir, só sabia que não tinha vontade de ir embora.
A certa altura, Azul bateu o copo vazio sobre o balcão do bar e mirou Alfonso. Como uma cobra prestes a dar o bote, ela deslizou de leve uma das mãos sobre a gola da camisa de Alfonso e os olhos dos dois se encontraram. Os dele não revelavam muita coisa, pois já estavam mais do que nublados pela bebida, mas os dela carregavam um ar de vitória. Com um sorriso de canto, ela fez um gesto com a cabeça, indicando a pista de dança.
Estranhamente à vontade com aquela desconhecida, Alfonso se deixou conduzir através das poucas pessoas que se arriscavam a dançar ali.
A música não era agitada e, de forma lenta e sutil, Azul rodeou os braços em torno do pescoço dele. Alfonso era bem mais alto e ela precisou erguer o queixo para olhá-lo direito. Ele era bonito, muito bonito. Ela deitou a cabeça de leve no ombro dele, sentindo o pefume masculino que emanava junto com o cheiro forte da bebida. Levou o nariz a garganta dele, mas algo parecia errado.
Alfonso não reagia do modo como ela esperava.
Ele estava ali, dançando com ela, sendo agradável, sorrindo, mas não correspondia aos seus flertes. Parecia interessado nela, mas seu corpo não dava o menor sinal de excitação.
Que diabos havia de errado com aquele homem?
Ela voltou a encará-lo.
Alfonso tinha as mãos pousadas na cintura dela, é verdade, mas aquele gesto não tinha a conotação que Azul esperava. Ela franziu o cenho ao notá-lo de olhos fechados, parecendo embalado pela música em uma viagem particular a qual ela não era tão bem-vinda assim. Não do jeito que gostaria.
— Alfonso?
— Hum
Os dois continuavam se embalando no ritmo da música.
— O que há?
— Nada demais. Por quê?
Ele abriu os olhos, se deparando com o rosto angelical dela em contraste com a maquiagem forte e a roupa provocante.
— Por quê não me leva para outro lugar? — Sorriu, sugestiva, apertando os braços em torno do pescoço dele. Normalmente, era mais sutil na sua abordagem, mas aquele cara parecia lento demais.
— Desculpe, minha esposa está me esperando. — Alfonso pareceu encarar o vazio por cima da cabeça dela assim que essas palavras saíram de sua boca. O vazio que se formou em seu peito não passou desapercebido.
— Você é casado? — Ela se afastou um pouco, olhando-o incrédula. Voltou seus olhos para os dedos dele, procurando o objeto específico ou alguma marca. Mas não havia nada. Aquele homem só podia ser louco.
— Há uns minutos atrás, você não parecia um homem casado. Qual seu problema?
Ela estava visivelmente furiosa com ele.