Tempestade

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Tudo chegou contigo – noite tão gloriosa, 

a que não se destinam os nossos sonhos; 

deixa-me partilhar do teu violento, 

longínquo encantamento 

uma parte da tempestade e de ti mesma, noite!

Ah, como resplandece o lago, um fosfórico mar,

e a chuva é impelida e abate-se sobre a terra!

Mais uma vez tudo é escuridão – e, agora, a alegria

das colinas sonoras freme com todo o excesso

que delas nasce como se fosse um novo cataclismo.

– A Tempestade, Lord Byron.



 A assistente que fez a ligação para o meu número dois dias antes havia dito que a entrevista seria às 8 em ponto e que eu deveria tratar na recepção sobre os maiores detalhes do local.

 Senti-me confortável na hora, na verdade, me senti totalmente confiante de que essa era minha oportunidade tão aguardada: uma chance de conseguir um bom emprego em uma grande Companhia.

 Como tudo em minha vida, fiz meus devidos preparos para que nada pudesse fazer com que eu chegasse atrasada à entrevista. Cronometrei cada minuto desde o instante em que meu celular despertou, exatamente às 6 horas da manhã.

 Tomei um banho para me despertar por completo. Coloquei um vestido que eu já havia escolhido há dois dias, de corte reto, lilás e consideravelmente social para a ocasião. 

 Depois, pus uma fatia de pão na torradeira e esperei que ela chegasse ao ponto enquanto enchia um belo copo de suco para acompanhar, tomei meu café tranquilamente, e exatamente às 7 horas, estava saindo de meu apartamento rumo às Industrias Queen.

 Era aí que começava o porém da história.

 Depois que tirei meu pé para fora de meu apartamento, a única coisa que faltou acontecer foi eu encontrar, literalmente, uma tempestade no meio do caminho.

 Bem, e de certa forma eu a encontrei.

 Perdi o metrô que me levaria até – praticamente – a porta da empresa; então tive que ir de táxi, o que fez com que eu gastasse meus últimos trocados para pagar o motorista, que só conseguiu me levar até metade do caminho pois o trânsito na 59 com a 15 estava caótico, sem condições de que pudéssemos pegar um atalho à tempo de escapar dos outros carros que vinham logo atrás de nós.

 No restante do trajeto, tive que ir a pé, desviando das massas que vinham em minha direção visando o sentido contrário ao que eu ia. Desejei que tivesse prendido meu cabelo como geralmente faço, pois já o sentia grudando em minha nuca por conta de meus passos apressados.

 Graças à Deus já estava avistando a imponente fachada das Indústrias Queen do outro lado da avenida. Esperei que o sinal de pedestres ficasse verde e avancei.

 Foi quando eu estava exatamente chegando ao outro lado que surgiu um Audi Preto e imponente freando bruscamente bem em cima de mim. Meu susto foi tanto que fiquei por um segundo sem sentir meu coração batendo; foi a voz enfurecida do motorista que me despertou.

TrapaçaOnde histórias criam vida. Descubra agora