Desavenças

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O silêncio parecia um abismo entre nós.

– O quê? – perguntei incrédula para ele, um riso nervoso escapando de meus lábios.

Oliver apenas me encarava, a névoa pairando sob seu olhar.

– Já está tudo acertado. – responde ele por fim, a voz totalmente sem emoção – Falei com o supervisor do departamento de T.I. das Indústrias Queen. Você começa assim que estiver recuperada.

Não posso acreditar nisso. Não posso acreditar que Oliver acha que pode me controlar à esse ponto.

– Não! – eu rosno para ele enquanto me levanto da cama, ignorando suas advertências que me dizem para não sair do lugar – Quem você pensa que é para me chutar para qualquer canto assim, do nada? – eu grito.

– Sou seu chefe. – ele diz com acidez, mas tenta disfarçar a raiva que eu sei que está borbulhando dentro dele. – E essa decisão não veio "do nada".

– Bem, pois pode providenciar minha demissão. – digo e Oliver me encara assustado – Se você não me acha boa o suficiente para ser sua maldita secretária, então eu não deveria trabalhar pra você em nenhum nível da sua preciosa empresa.

– Você acha que é por isso que eu estou te afastando? – ele pergunta, exasperado e eu vejo fogo em seus olhos – Você quase morreu por minha culpa! – grita – Eu prometi que não deixaria nada perigoso te acontecer e olha só como você está agora – ele aponta para mim como um todo. – Não posso continuar arriscando sua vida desse jeito, não posso.

Por um momento eu fico sem saber o que dizer. A culpa no olhar de Oliver é tão evidente que sinto meu peito doer. Ele se responsabiliza pelo que aconteceu como se tivesse sido ele mesmo quem mandou me sequestrar.

Respirei fundo.

– Oliver... – falei, a voz mais calma – Você não pode se culpar pelo que houve. Não importa que você me convidou para fazer parte dessa investigação, o que importa é que eu aceitei sabendo das consequências. Bem, é claro que eu não imaginava ser sequestrada, mas você conseguiu me salvar, isso é o que importa.

Ele me encarava, a expressão cheia de dor e angústia. Eu não conseguia pensar em nada além de confortá-lo, dizer que estava tudo bem e deixar bem claro que eu não iria desistir dessa cruzada tão fácil.

Me aproximei lentamente, Oliver não se mexeu, apenas me observou sem entender ao certo o que eu iria fazer em seguida. Eu o abracei, sentindo seu coração bater rápido e forte no peito. Não me importei se era algo incomum, apenas agi. E aquilo pareceu certo.

– Se você não vai desistir dessa investigação, eu não vou desistir dessa investigação. – falei.

Senti os braços de Oliver me envolverem e seu queixo apoiar-se em minha cabeça. Ficamos assim por algum tempo, o perfume dele era tudo o que eu absorvia. Mas por fim, suspirei e me afastei, olhando em seus olhos e voltando a falar.

– Obrigada. – eu disse, ele franziu a sobrancelha, sem entender – Por ir me resgatar. – esclareci.

A expressão de Oliver ficou leve, ele sorriu.

– Considerando que foi por mim que você acabou indo para lá...

– Não comece. – eu o alertei, mas sorri.

Oliver se afastou, assentindo. Pegou seu paletó que estava na poltrona no canto do quarto e se virou novamente para mim.

– Preciso ir para casa. – falou ele – Mas posso voltar mais tarde se você quiser...

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