Desconfortável Franqueza

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  A sensação de acordar em um lugar desconhecido já deveria ser bastante familiar para mim, mas sempre que eu abria meus olhos, haviam aqueles segundos inevitáveis de reconhecimento do local.

 Desta vez, eu estava em um loft. As paredes de tijolos vermelhos, totalmente rústicos, e o teto com um ventilador bastante fora de contexto. Não que eu ligasse para decoração ou algo do tipo, isso era mais o estilo de minha mãe...

 Ah merda, que horas são?

 Ergo a cabeça e encontro meu celular no chão ao lado da cabeceira. Minhas roupas estão espalhadas por um raio de cinco metros de distância de onde estou.

 Bem, as coisas devem ter sido animadas ontem. Pena que eu não lembro da metade.

 Senti um par de unhas acariciar meu peito do outro lado da cama.

 – Bom dia. – a voz melosa da garota me fez lembrar o motivo pelo qual minha boca estava levemente inchada. Eu devo ter beijado-a muito para que não precisasse ouví-la falar.

 – Bom dia. – respondi.

 Ainda eram só 7:03 da manhã, então eu podia juntar minhas coisas sem muita pressa, apesar de não estar muito animado para permanecer nesse lugar.

 Levantei-me e comecei a me vestir novamente. Senti que a garota também levantou quando o peso da cama diminuiu levemente.

 Essa deve ser uns 3 kg mais gorda que a da noite anterior, pensei.

 Uma das vantagens de dormir com modelos: os belos e magros corpos.

 Uma das desvantagens de se dormir com muitas modelos: os belos e magros corpos.

 Para falar a verdade, eu já estava meio farto delas. Não demonstravam mais nenhum tipo de desafio, muito pelo contrário, a maioria delas vinha até mim como se eu fosse alguma espécie de canto de sereia ao qual elas não podiam resistir. Mas eu sabia qual era o meu canto, e nada tinha a ver com meu corpo.

 Era meu sobrenome.

 Toda maldita vez que anunciam o sobrenome Queen em algum lugar, tudo parece acontecer em um piscar de olhos. Os passes vip's nas melhores boates, as mesas sem reservas, de repente disponíveis nos mais caros restaurantes, a disponibilidade de todos à toda hora e em qualquer lugar.

 Às vezes isso me deixa furioso.

 Quando paro para pensar que todos ao meu redor estão ali porque querem algo de mim, de meu sobrenome, sinto um dos sentimentos mais piegas de toda a humanidade: me sinto usado.

 Não é diferente com estas modelos. E no começo era divertido, mas agora já parece rotina, e de rotina, já me bastam as aparições nas Indústrias Queen.

 E por falar nisso... Hoje é dia de fazer uma visita à minha assistente, talvez jogar algumas cantadas para ela e ver se funciona. Se funcionar, me dou muito bem, se não, tenho certeza de que vou me divertir mesmo assim, apenas observando sua reação.

 Encontro minha jaqueta em cima do sofá. Visto-a enquanto pego minhas chaves no chão perto da porta.

 Tento me lembrar do nome da garota, mas não consigo e depois percebo que não dou a mínima. Ouço o barulho do chuveiro e percebo que é minha deixa.

 Saio para a luz do dia. O sol de início da manhã aquece meu corpo quase que de imediato. Gosto disso. Por um momento penso em deixar meu Audi ali, ir caminhando para casa e depois mandar alguém buscá-lo. Mas percebo que não é uma boa ideia, considerando o que aconteceu com meu Porsche na última vez que irritei uma dessas garotas...

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