Amanhecer

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A chuva foi meu despertador.

Foi a primeira coisa de que me dei conta, antes mesmo de abrir meus olhos, pude ouvir o barulho calmante dos pingos caindo contra o piso na varanda do meu quarto.

A segunda coisa que eu percebi, foi que estava nua. E então todas as lembranças da noite anterior explodiram em minha mente.

Olhei ao redor, mas não vi ninguém. As roupas de Oliver não estavam jogadas pelo meu quarto.

Eu estava sozinha.

Levantei-me rapidamente e peguei uma camiseta velha e puída em minha gaveta. Saí do quarto e vasculhei cada centímetro de meu apartamento. Mas ele realmente não estava ali.

Uma dor estranha e inconveniente apareceu em meu peito.

Eu tinha sido apenas mais uma. Era isso, Oliver Queen teve o que queria de mim e então foi embora, sem sequer dizer adeus.

Não conseguia acreditar em quão estúpida eu estava sendo por imaginar que comigo seria diferente.

Eu não queria ficar em minha cozinha parada olhando para o nada, então resolvi tomar banho.

Liguei o chuveiro e torci para que meu remorso escorresse com a água pelo ralo. Não sei quanto tempo fiquei ali, imaginando o que eu faria no outro dia, como eu pediria demissão, se ele iria me demitir, ou se ia apenas mandar Sara me despachar. Eu apostava em Sara. Ele obviamente não gostava de lidar com seus casinhos depois de usados, eu mesma já tinha visto.

E agora eu era um deles.

Enrolei-me na primeira toalha que encontrei e saí do banheiro; o vapor da água quente ainda emanando de meu corpo.

– Se eu soubesse que você saía do banho tão linda e sexy apenas enrolada em uma toalha, eu nunca teria saído desse apartamento hoje.

Ergo meus olhos e encontro Oliver escorado na porta de meu quarto, os braços cruzados sob o peito, um sorriso brincalhão nos lábios. Sua roupas não são as mesmas. A jaqueta de couro foi substituída por um blazer, a camisa azul, por uma branca, e os jeans, por outro par, mais escuro.

Sinto minha cabeça rodar.

– O que está fazendo aqui? – pergunto, soando meio rude.

O sorriso dele imediatamente desaparece e uma ruga de preocupação surge em sua testa. Ele desmancha sua posição despojada e vem em minha direção.

– Felicity? – ele me chama, mas eu não o olho.

Estou assimilando o fato de que Oliver voltou para mim. Ergo meus olhos para encontrar os seus.

– Eu pensei que você tinha me deixado. – falei – Quero dizer, não me deixado como um namorado deixa uma namorada, porque nós não somos isso ainda, e não seremos, eu não sei, eu...

Oliver está rindo, rindo tanto que eu paro de me atrapalhar com as palavras apenas para ouvir o som de seu riso.

– Você achou que eu tinha ido embora sem me despedir. – não era uma pergunta, era uma afirmação. Oliver ficou com a expressão vazia por alguns segundos, e por fim, suspirou – Bem, eu não me admiro com isso. – ele sorri, meio tristonho.

– Desculpe. – falei – É só besteira minha...

– Não, não é. – ele me assegurou, aproximando-se ainda mais – Você está certa. Eu já fui esse tipo de cara. Mas não com você, Felicity. Eu nunca te machucaria desse jeito.

Sua mão acariciou minha bochecha e eu sorri, seus dedos desceram até meus lábios enquanto ele me olhava seriamente.

Meu coração já estava fora do ritmo novamente. Oliver tirou sua mão de meu rosto e colou seus lábios aos meus num beijo terno, calmo e demorado, que não ficou terno por muito tempo.

TrapaçaOnde histórias criam vida. Descubra agora