Capítulo 11 (Vergonha)

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Uma grande aglomeração de pessoas se formou diante da residência Drake, na Rua Herman 45.
Audred, e os outros dois soldados chegaram de uma noite de farra e bebedeira, cheirando a álcool e perfume, fisicamente exauridos. Precisavam estar presentes na troca da guarda. Mas o que encontraram foi caos e confusão.
O jovem herdeiro estava com a roupa de dormir suja com sangue, chorando aos prantos na sala da casa.
Soldados da guarda do conde já estavam ali, buscando alguma pista de quem poderia ter assassinado a esposa do Herói de Acanan. Assim que foram identificados, Audred e os outros foram detidos para interrogatório. O choro desesperado do menino podia ser ouvido do outro lado da rua pavimentada de pedras.
Algum tempo depois, uma carruagem chegou diante da residência. Conde Allan desceu para a calçada cercado por guardas armados com lanças, cota de malha e elmo cônico. Ele trajava roupas elegantes; uma casaca preta com bordados em preto brilhante, por baixo uma blusa de seda preta com renda nas mangas e uma gravata também de renda negra. Suas botas de cano alto faziam um barulho seco ao caminhar pelas pedras. As pessoas abriram o caminho de imediato para a passagem dele.
Assim que entrou na residência, dois de seus guardas pessoais ficaram de prontidão do lado de fora e outros quatro seguiram junto a ele.
Allan viu Joshua sentado na poltrona da sala, chorando muito. Era de se supor que fôra o menino que encontrou a mãe degolada na cama.
─ Onde está o corpo? ─ indagou ele a um dos guardas que já estavam ali desde cedo.
─ Por aqui, Senhor Conde. ─ respondeu o guarda se colocando em posição de respeito para Allan.
Ambos seguiram pela escadaria da esquerda de acesso ao segundo andar, indo direto para o lado onde ficava o quarto de Jade e Charles.
O cômodo não contava com muito luxo, mas isso era bem a cara de Charles e provavelmente também de Jade. Uma cama grande para dois, ladeada por aparadores de cabeceira, um guarda roupas, tapete sob a peseira da cama, uma cômoda e uma escrivaninha a um canto. Era pouco mais do que havia nos quartos para hóspedes na Mansão Von Clifford.
Jade estava com a garganta aberta e todo o seu sangue estava espalhado, já ressecando, sobre os lençóis da cama. Mas apesar da cena dantesca, Jade parecia ter partido desta vida em paz, pois em seu rosto havia uma expressão de felicidade.
─ Estranho... ─ comentou Allan olhando o rosto de Jade de perto ─ Preciso pensar sobre isso. Quero que todos saiam da sala!
Imediatamente todos os soldados saíram do aposento.
─ O que acha Uffrik? ─ indagou o conde para o quarto aparentemente vazio.
O mordomo pareceu materializar-se no ar, mas Allan sabia que ele estava apenas escondido em alguma sombra.
─ Senhor... ─ disse ele avaliando o corte na garganta de Jade ─ Certamente foi uma Lâmina da Lua Nova. O trabalho foi rudimentar; falta ainda muita experiência ao manipulador, mas com certeza estamos lidando com um assassino.
─ Veja o que mais consegue descobrir.
─ Sim Senhor!

Berenice, Frank e Magnólia vinham caminhando pelas ruas em direção à Cidadela dos Ratos, para comprar algumas roupas novas para a menina. A pequena Mag vinha saltitando desviando de uma poça e outra de lama.
─ Mag, pare com isso! Você vai se sujar de lama e não poderá experimentar as roupas antes de levá-las! ─ disse seu irmão.
─ Você é muito chato, Frank! ─ disse Berenice ─ Deixe-a brincar! Não vê que ela está feliz?
Magnólia que havia parado com uma expressão acabrunhada, se alegrou novamente com a defesa de Berenice para com ela.
─ É, Frank! Você é um chatonildo! ─ disse a menina voltando a sorrir e correr por envolta das poças.
Fizeram uma volta maior, pois Frank queria aproveitar mais a companhia de Berenice aquela tarde. Saíram da Rua dos Afogados, seguiram para norte passando bem perto da Mansão Von Clifford, mas nesse momento ela os puxou para outra ruela e saíram na Rua Herman. Logo viram a aglomeração de pessoas diante de uma grande residência.
Berenice congelou o sangue quando viu a grande carruagem de luxo de seu pai estacionada no portão. Deveria ser algo realmente importante para o próprio Conde estar ali.
Puxou o capuz sobre a cabeça, pois, seu acordo com o Conde era de que ninguém jamais soubesse de sua identidade, e apenas Uffrik sabia que ela saia da mansão como camareira.
─ Beny? Você está bem? ─ indagou Frank quando percebeu o capuz.
─ Sim, estou sim... É apenas o sol. ─ mentiu ela.

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