Vários meses se passaram desde a partida de Frank. Magnólia e Sullivan viviam no limite das tarefas da Taverna o Búfalo Bêbado. Sempre movimentada devido às habilidades culinárias do renomado cozinheiro, ambos estavam sempre correndo para atender toda a demanda de clientes que vinham prestigiar as iguarias servidas.
Magnólia teve um repentino desenvolvimento corporal, e agora já era uma das moças mais belas e cobiçadas da Rua dos Afogados, se não de toda Acanan.
E muito embora todos os clientes respeitassem a menina por ser filha de Sullivan, era impossível não olhá-la com desejo. Um sorriso cativante, voz aveludada, cabelo laranja comprido e curvas bem definidas em seu corpo esbelto. Não era muito alta, o que a tornava ainda mais encantadora.
─ Sejam bem vindos! ─ dizia ela ao receber os clientes com um sorriso.
A bela garçonete ia de uma mesa a outra anotando pedidos, ouvindo amenidades e galanteios. Estava mais do que acostumada com aquela rotina, mas ainda assim sentia falta de seu irmão no salão. Todos a respeitavam devido à cordialidade de Sullivan, mas quando Frank estava em casa ninguém sequer falava gracinhas, mesmo depois de bêbados.
─ Filha? Pode dar uma olhada na porta dos fundos? Preciso de alguns legumes para preparar mais cozido.
─ Claro pai! Tome! ─ ela estendeu um bolinho de pedidos anotados, depois seguiu para os fundos onde o verdureiro estava acabando de entregar.
─ Boa noite, Srta Magnólia!
─ Oh! Boa noite, Gleder! ─ respondeu ela para o filho do verdureiro, um rapaz um pouco mais velho que ela, com sardas pelo rosto, olhos azuis, cabelo geralmente bagunçado e compleição quase esquelética. ─ Trouxe tudo?
─ Quase tudo senhorita... As chuvas estão fazendo um grande estrago em nossas plantações. Não temos tomates por enquanto... Por falar nisso, Senhorita, ouvi os pescadores dizendo que hoje deve ter uma tempestade com ventos gelados mais a noite. Tome cuidado!
─ Pode deixar Gleder! Apresse-se também, para estar em casa bem quentinho quando a chuva começar!
Ela se abaixou para começar a pegar as caixas, mas o rapaz se adiantou.
─ Já que estou aqui, eu mesmo levo lá dentro para a Senhorita...
Magnólia acompanhou o rapaz até a dispensa da taverna. Sullivan ficou olhando para sua filha com uma expressão de curiosidade e julgamento.
Gleder depositou as caixas e sacas no quartinho seco, e em seguida percebeu certa tensão nos olhos do pai da menina. Atrapalhou-se um pouco e saiu quase tropeçando nas panelas e bacias de água que estavam pelo chão, no canto da parede oposta ao fogão.
─ Ah... E... Bem, vou indo lá... Até mais ver, Sr. Sullivan! Até logo, Senhorita!
Saiu quase correndo da taverna. Magnólia fechou a porta atrás dele e depois tentou evitar o olhar reprovador do pai.
─ Tem algum interesse no filho do verdureiro, Mag? ─ Sullivan estava bastante suado com o calor do fogão a lenha que usava para preparar as comidas servidas na taverna. A cozinha dele em si era demasiado quente sempre, mas hoje, com janelas fechadas por causa dos ventos frios que estavam soprando vindos do mar era como uma caverna vulcânica.
─ Óbvio que não! ─ respondeu ela veemente ─Ele é apenas gentil comigo. E eu procuro ser educada... Como o senhor mesmo me ensinou.
Sullivan aceitou aquela resposta dando um fim no assunto. Estava calor demais ali para ficar se preocupando com aquelas coisas. E, até que o rapaz era uma boa pessoa, mas Magnólia era ainda muito jovem para começar a pensar em relacionamento.Berenice havia feito metade de seu quarto virar um escritório com quadros de cortiça onde ela prendia os pergaminhos esticados com os planos de melhorias para a Cidadela dos Ratos. Seu pai já havia dado início aos projetos de apartamentos populares. Várias famílias que viviam em situação de miséria haviam sido beneficiadas com o projeto. Inclusive, muitos homens foram empregados para acelerar a construção. E todos que participaram das obras tinham prioridade na aquisição das moradias.
O próprio Edwinn ficou orgulhoso quando soube pelo conde que as idéias haviam partido de sua pupila.
Berenice estudava com Edwinn durante o dia e de noite se concentrava nos projetos, mas sempre se pegava pensando em Frank no mar, passando por perigos... E sentia muita raiva por ele ser tão burro! Se tivesse permanecido em Acanan, talvez pudesse colocá-lo entre os responsáveis pelas obras e assim aproximá-lo do Conde, e, quem sabe, reverter a idéia idiota que seu pai teve de casá-la com o filho frangote do capitão Charles. Lembrava também com carinho de Sullivan e da pequena Mag. Depois de tantos meses ela devia estar bem mudada... Afinal, já estava se desenvolvendo como mulher. Berenice lembrava como foi aterrador para ela quando suas regras vieram pela primeira vez. Por sorte teve Suzana para lhe orientar. Mag vivia apenas com Sullivan agora e o velho cozinheiro não parecia saber muito sobre mulheres.
─ Lady Berenice? ─ a inconfundível voz de Uffrik chamou do outro lado da porta do quarto.
─ Pode entrar.
─ Seu pai pediu para lhe chamar.
─ Ele disse sobre do que se trata?
─ Certamente que não... Mas, obviamente eu sei! ─ respondeu o ex-assassino com um sorriso taciturno.
Berenice esperou por alguns segundos na esperança que ele pudesse, talvez, adiantar o assunto para que ela pudesse ao menos se preparar. Uffrik, contudo, permaneceu calado. Se divertindo com a costumeira curiosidade da menina.
─ Você não vai me contar, não é?
─ Certamente que não, Senhorita. Mas, relaxe! É um assunto que pode ser de seu interesse...
Uffrik saiu do quarto de Berenice deixando a dúvida no ar. Berenice por sua vez correu a se preparar para ir ao gabinete do Conde Allan.
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Scaleth & Cia
AdventureDevido à acontecimentos fora de seu controle, antes mesmo de nascer, Joshua Drake, filho do incomparável Capitão Corsário Sir Charles Drake, é envolvido em uma trama na qual se vê obrigado a abandonar a honradez e abraçar uma vida de pirata fanfarã...