Capítulo 22 (A Proposta)

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Era noite de jogos e bebedeiras no Santa Devassa. Um dia dedicado à diversão e às apostas. Magnólia pretendia tirar essa noite para seu descanso, mas todas as meninas estavam eufóricas para uma pausa no trabalho e pelos ganhos extras em apostas. Segundo elas era possível triplicar a renda em apenas uma noite.
Geralmente os clientes mais bêbados eram os mais suscetíveis de exagerar nas apostas.
Logicamente se uma das moças quisesse ir para o quarto com algum cliente, o ganho era integralmente dela. Esses motivos fizeram com que a filha do taverneiro repensasse na questão. Se depois dessa noite ela ficasse muito cansada, bastava não ir por um ou dois dias. A frequência influenciava apenas na visibilidade pessoal. Quanto mais presente, maiores eram as chances de conseguir bons clientes.
A noite estava caindo lentamente, ela preparou o vestido novo que usaria estendendo-o sobre a cama. Verde esmeralda, com um brilho acetinado; a parte de baixo vinha uma saia que dava volume e movimento como a de qualquer outra cortesã, as mangas vinham até os cotovelos e para as mãos luvas compridas cobriam todo o antebraço com um tecido branco perolado. Os sapatos de salto alto, combinavam perfeitamente com o vestido.
Deixou as vestes no quarto e verificou pela quarta vez se seu pai dormia bem.
Sullivan estava melhorando gradativamente, para qualquer um que tivera a doença do escorbuto era um verdadeiro milagre ele ainda estar vivo.
Seu peito subia e descia calmo enquanto dormia.
Magnólia voltou acelerada pelo corredor, tirou as vestes e entrou na tina de água morna.
Banhou-se preguiçosamente enquanto deslisava a bucha com espuma e sais pelo corpo. Agora ela podia ser dar alguns luxos. Inclusive já havia feito as contas e seu dinheiro guardado era o suficiente para reabrir o Búfalo Bêbado e ainda pagar um ou dois funcionários para ajudar por uns três meses até que a taverna pudesse se manter sozinha.
Enquanto pensava na vida que voltaria ao normal, sentiu uma pontada de saudade por antecipação. Mirabel, Torvus e as meninas fariam falta em seu dia a dia. Claro, ela poderia os visitar quando quisesse, mas não seria a mesma coisa que estarem sempre juntos.
- Nada de tristeza! - repetiu a si mesma, enquanto batia de leve com as palmas das mãos em suas bochechas. - Hoje vamos nos divertir como amigas!
Ela terminou seu banho e saiu da tina. Seu corpo esbelto pingando pelo assoalho de madeira. Secou-se e colocou seu vestido de festa. Retirou os pequenos coques com os quais havia dado forma aos cabelos deixando os belos cachos laranja pendurados sobre os seus ombros. Verificou o quarto do pai mais uma vez, pegou os sapatos, mas saiu de casa descalça para não fazer barulho. Seu coração estava dando saltos de alegria e expectativa quando chegou à porta de casa. Calçou seus pés e saiu.
Seguiu pela rua dos afogados até chegar ao cais, caminhou pelo deque de madeira, passou pelo Siri com Câimbra e sentiu uma pontada de raiva. O lugar a fez lembrar da semana anterior, quando ela conheceu a corsária Fawen Artagavertia. Dali, ela seguiu os postes com as tochas, que logo seriam acesas, até chegar ao bordel. Como sempre, muita luz e perfume misturado com cheiro de fumo exalava da frente do estabelecimento.
O porteiro brutamontes sorriu ao vê-la e abriu a porta para que ela pudesse entrar.
- Não vai se divertir conosco, Yasttus?
- Não posso, senhorita Fox... Alguém tem que estar sóbrio para colocar os bêbados problemáticos para fora. Nessa noite nem o patrão Torvus costuma ficar muito bem.
Magnólia sorriu com a piada e passou por ele. E por falar em Torvus, o dono do bordel estava sobre o palco com outros dois menestréis tocando sua bandola. Atrás dele, no palco, havia uma grande bandeira com um desenho de um dado de seis lados e uma caneca derramando cerveja. Ao redor do salão também haviam flâmulas menores com o mesmo desenho.
Quase todas as mesas estavam ocupadas, mas de longe Mirabel que jogava cartas com outros três cavalheiros, acenou para ela.
A menina foi desviando das demais mesas até chegar à sua mentora.
- Você está deslumbrante minha pequena! - disse Mirabel enquanto dava um abraço apertado em sua pupila.
- Disse a mulher cujo o tempo não ousa tocar e o nome é mais citado que o de Vossa Majestade!
Ambas riram.
Mas o que Magnólia disse era bem verdade. Mirabel era de uma beleza e exuberância que parecia intocada pela ação dos anos. Sua pele era lisa e livre de marcas de expressão, como se não tivesse mais de vinte anos, embora já tivesse passado da casa dos trinta.
- Venha sente-se conosco!
- Cavalheiros, com licença... Me juntarei a vocês se não se importarem.
- A raposa de Mirabel é sempre bem-vinda! - respondeu um dos homens que parecia um pouco mais embriagado que os demais.
No palco Torvus tocava seus acordes com muita destreza e fazia com que as pessoas ao redor ficassem ainda mais animadas e empolgadas. Canecas de cerveja brindavam ao alto, enquanto os homens conversavam em voz alta para tentar se ouvirem sobre o som da música no palco.

Scaleth & CiaOnde histórias criam vida. Descubra agora