Scaleth & Cia

Capítulo 14 (Novas Esperanças)

A partida do Interceptor causou bastante comoção na cidade fortaleza de Acanan cerca de uma semana depois de sua chegada. Várias pessoas incluindo esposas, parentes e até mesmo nobres estavam amontoados no cais para a despedida do famoso capitão e sua incrível tripulação.
Não que gostasse daquela atenção exagerada, mas Charles estava ao timão, sobre o castelo de popa, acenando para as pessoas em terra com seu filho Joshua ao seu lado. Os olhos do menino estavam baixos, como se ainda estivesse em luto por ser privado de sua vida ao lado da mãe.
Um homem robusto, careca, baixa estatura e bigode farto estava ao lado deles. Dava alguns tapinhas no ombro de Joshua como se quisesse animá-lo com aquilo.
─ Preparem as margaridas de bombordo... ─ disse Charles ao Imediato.
─ Preparar metade das Margaridas de Bombordo! ─ gritou Malcon para os marujos abaixo no convés.
─ Não! ─ interrompeu Charles, dando uma boa olhada em seu filho ainda cabisbaixo ao seu lado. ─ Todas as 32...
─ Preparar todas as margaridas seus Ratos de Porão! ─ gritou a nova ordem por cima da amurada.
Joshua ouviu aquela expressão e achou curioso, ele sempre supunha que palavreado pirata não era bem vindo no navio do pai... Já que eles combatiam esses bandidos no mar. Esticou um pouco o pescoço e para sua surpresa, os homens haviam recebido o "insulto" com sorrisos e ainda se mostravam dedicados a correr em acatar a ordem dada.
Homens subiam nos cordames; puxavam cabos e corriam de um ponto a outro no convés.
Rapidamente as velas se esticaram e o vento que soprava as inflou fazendo o navio se distanciar pouco a pouco do cais.

Allan estava no cais, rodeado por guardas armados com espadas e lanças, acompanhado por sua filha Berenice e seu mordomo Uffrik.
Berenice trazia um lenço perto do rosto, secando algumas lágrimas teimosas que insistiam em descer por sua face. Percorria todo o costado de estibordo com os olhos na esperança de ver Frank uma última vez antes da partida. Estava convencida que quando o Interceptor voltasse para Acanan ela teria dado um rumo diferente em sua vida e poderia ter argumentos mais fortes para convencer o rapaz a ficar com ela.
Não muito distante dali, Sullivan e Magnólia acenavam para o rapaz que estava na proa do navio puxando o cabo da âncora junto com outros homens fortes.
Assim que a âncora foi erguida, os homens correram a puxar os cabos de amarra para deixá-la fixada à bochecha de bombordo.
─ FRANK! ─ gritou Magnólia que agora estava sentada sobre os ombros do pai e gesticulando com ambos os braços no ar ─ VOLTE EM SEGURANÇA! ─ ela já ia descer quando se lembrou de algo ─ AH! E ME TRAGA UM PENTE DE SEREIA!
Desde pequena, Frank costumava contar histórias de marujos para Magnólia. Entre elas havia a lenda do "Pente de Sereia". Segundo os contos, a jovem humana que possuísse um pente de sereia, e, com ele arrumasse seus cabelos poderia conquistar o rapaz que ela quisesse.
"Nesse conto, a história da protagonista sempre acabava em confusão com cinco rapazes brigando entre si pela atenção da dama."
"─ Eu saberia usar esse pente melhor que ela!" ─ sempre repetia Magnólia antes de fechar seus olhos e dormir.
Por alguma casualidade do destino, Frank olhou para o cais, por cima do costado justamente no momento em que Magnólia estava gesticulando. Ele acenou para ela e logo a direita de onde Magnólia e Sullivan estavam, viu os guardas do Conde em circulo, destacando a presença imponente do monarca com Berenice acompanhando-o. Ele suspirou profundamente.
"─ Quem sabe um dia nós nos vejamos novamente..." ─ pensou ele.
Mas, mal teve tempo de começar a visualizar em sua mente qualquer tipo de momentos felizes junto à filha do Conde. Malcon, o imediato estava gritando ordens de cima do castelo de popa.
Frank olhou para o lugar de onde vinha a voz do imediato. Estava conversando com o Capitão Charles, e perto deles estava o filho do Capitão. Por um segundo, Frank sentiu empatia pelo menino. Perder a mãe de forma tão trágica e ainda por cima ser arrastado para o mar sendo tão jovem. Podia entender porque o menino tinha olhos tristes.
No convés, os homens estavam correndo para as cobertas inferiores. Malcon havia repassado as ordens do capitão.

─ Estamos prontos, Capitão! ─ anunciou o imediato ao ver o sinal da tripulação.
─ Filho, ─ começou o Capitão Charles, chamando a atenção de Joshua para ele. Para ficar na mesma altura do menino ajoelhou sobre o joelho direito e segurou-o pelos antebraços. ─ Geralmente eu faço isso para mostrar a nossa força às pessoas de nossa cidade. Afim de que saibam que estamos no mar lutando para eles terem paz e tranqüilidade. Mas hoje, essa salva é pela sua mãe... ─ esperou alguns segundos para as palavras começarem a fazer sentido na mente de Joshua, depois olhou para Malcon. ─ Fogo!
Imediatamente o homem inflou seus pulmões e gritou:
─ Pela Bucaneira Jade, FOGOOOO!
Todos os marujos gritaram o nome de Jade seguindo o Imediato.
O ribombar dos 32 canhões estremeceu toda a estrutura do navio. O cheiro de pólvora tomou o ar e o estrondo das bocas de fogo soou até a muralha norte, no outro extremo da Cidade Fortaleza. As balas de canhão colidiram com a água causando grandes ondulações à distância.
Os olhos de Joshua se arregalaram e a precipitação de um sorriso surgiu em seus lábios.
Charles estava observando o menino e no momento do estrondo não viu o menor tremor no filho. Isso pareceu o deixar satisfeito.
─ Agora, preciso que fique junto do restante da tripulação. Ajude os homens no que puder e obedeça aos mais velhos. Existe uma boa razão para serem mais velhos. Seus conselhos estarão preenchidos com cautela.
Joshua apenas balançou a cabeça e desceu as escadas em direção ao tombadilho.
─ Senhor, se me permite!? ─ começou Malcon assim que o menino desceu. ─ Não seria melhor dar mais tempo ao garoto?
─ O mar está no sangue dele, apenas observe como ele vai se sair e se causar problemas me avise. ─ assim que o Imediato confirmou a ordem ele completou ─ Agora peça ao timoneiro para guiar o barco até a rota de Merikor... Precisamos recuperar o tempo perdido!