Já passei por muita coisa na vida e a pior delas é a fome. Enquanto os "puro-sangues" vivem suas vidas pacatas e esnobes em suas propriedades, nós, os mestiços sofremos o peso dos impostos e da pobreza. Somos obrigados a viver como seres inferiores, nem sequer temos a permissão de olhar um nobre nos olhos como igual, isso é considerado um crime.Os "puro-sangues" ou como gostam de ser chamados: "A linhagem pura" são todos aqueles que não possuem uma mistura de raça em suas veias, são considerados - na verdade eles mesmo se consideram - melhor que qualquer mestiço. Maldito seja quem nos descriminou assim.
Se eu não quiser morrer tenho que abaixar a cabeça e fingir me render a essa sociedade, meu orgulho arde em meu peito toda vez que uma situação assim acontece.
Acordar, trabalhar e dormir, essa é a nossa rotina, já perdi as contas de quantas pessoas eu vi morrerem por exaustão.
Eu sou órfã desde que me conheço por gente, minha mãe morreu ao me dar a luz, fato esse que não é muito incomum por aqui pela falta de assistência médica. Meu pai? Não faço ideia de quem seja, talvez esteja morto, e se não, espero que morra por ter abandonado a mim e minha mãe.
Eu seguia uma pequena comoção de pessoas que caminhavam até o grande mercado para ganhar alguns trocados para pelo menos sobreviver durante a semana.
- [Nome], querida, venha aqui. - A mulher de cabelos grisalhos que me "adotou" gritava meu nome pela janela. - Onde vai sem se alimentar? Lembra do que aconteceu da última vez que saiu para trabalhar sem comer?
- Tudo bem, Aila. Não estou com fome e pare de me oferecer sua comida, mal tem para si mesma. - Disse sem parar de seguir na direção do grande mercado.
- Nada disso, te vejo como uma filha e por isso deve se alimentar da minha comida. - Aila disse estendendo sua cesta de pães que pareciam recém assados.
Com um suspiro relutante caminhei até sua janela e deixei meus dedos trêmulos encostarem na massa quentinha e quase reconfortante. Eu estava faminta e Aila sabia muito bem disso, ela tinha conhecimento de meu orgulho intangível, posso estar morrendo mas não peço ajuda a ninguém.
- Pode comer, eu fiz especialmente para você. - Disse me entregando a cesta com cerca de 5 pãezinhos médios. - Considere isso um presente por seu aniversário de 19 anos.
Aila era um anjo em minha vida e eu havia reconhecido isso a muito tempo. Foi durante a infância que decidi trabalhar muito para que ela não tivesse mais que se desgastar cuidando de uma órfã que ela nem mesmo tinha a obrigação de alimentar.
- O... Obrigada, Aila mas-
- Sem mas, [Nome], coma e vá trabalhar, até mais tarde, querida. - Ela sabia que eu recusaria e foi por isso que fechou a janela na minha cara.
Com um sorriso pequeno olhei para a cesta, agradecendo mentalmente a bondade de Aila já que não conseguia expressar isso com palavras. Voltei a seguir a comoção, ainda precisava trabalhar.
Trabalho não era exatamente o que eu tinha, prefiro o termo "quebra galhos", apareço quando precisam de mim, seja para ajudar em uma cozinha, gentilmente cobrar alguém e até para apanhar galinhas fujonas.
Os gritos de vendedores podia ser ouvido antes mesmo de chegar no local, todos ansiosos para ganhar os trocados do dia mas é meio difícil vender para quem não tem nada, é por isso que as trocas são bem mais comuns do que as vendas.
- Senhor, está precisando de ajuda hoje?
O homem de aparência violenta e rosto coberto de cicatrizes me olhou e sorriu gentilmente.

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White Prince.
Lãng mạn[Nome] teve sua vida virada de cabeça para baixo ao saber que era a filha ilegítima de um dos maiores nobres do reino. Elyse, a sua irmã à qual nunca conheceu, era uma das candidatas para se casar com o príncipe herdeiro, porém acabou falecendo por...