Capítulo quatorze.

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O silêncio começava a pesar demais. Sukuna tinha uma feição emburrada enquanto cutucava o chão da caverna com um graveto. Esfreguei meus braços e me aproximei mais da fogueira feita pelo loiro. Minha cabeça pesava e eu sentia que uma enxaqueca estava prestes a me atormentar. A noite já havia caído e por falta de opções aceitamos passar a noite na "moradia" do Nanami.

Levantei e murmurei para o gêmeo mais velho que iria buscar os cobertores que deixei na sela dos cavalos, ele acenou fraco sem olhar em meu rosto.

Parece que alguém está irritado comigo.

Segui pelo caminho úmido e rochoso da caverna até chegar no lugar onde Sukuna deixou os animais repousarem. Fiz um carinho em meu cavalo e retirei o cobertor da sela. Cheguei perto de Yvon e mesmo com o cavalo demostrando inquietação com minha aproximação retirei de sua sela o que tinha vindo pegar.

- É, você tem a mesma personalidade que ele. - Sorri para o animal que apenas trotou para longe de mim.

- Parece que criei um conflito entre os irmãos. - Me virei com a mão no peito e vi o loiro se aproximar.

- De fato. - Ignorei sua presença e dei toda a minha atenção para o vagalume que passava por cima da minha cabeça.

- Em breve ele esquecerá, tenho certeza disso. - Sua voz era calma e ele também olhava para o vagalume.

- Talvez, mas nunca se sabe. - Suspirei e olhei para ele. - Sukuna pode ser cabeça dura as vezes.

- Irmãos nunca ficam em um conflito por muito tempo. Verá que logo essa situação será esquecida. - Ri sem humor e balancei a cabeça.

- Acho que é meio difícil dele esquecer que a irmã mais nova é uma maga e que ela vai permitir que um desconhecido entre em nossa casa onde habita as pessoas que ambos mais amamos. - Cerrei os olhos em sua direção.

- Que situação complicada você está. - Desdenhei com a mão e peguei os alimentos que iríamos consumir está noite. Senti ele se aproximar e pegar as coisas dos meus braços. - Permita-me. - Hesitei por um momento mas deixei que ele pegasse a comida. - Vinho? - Forcei os olhos na escuridão tentando enxergar e vi a pequena garrafa em seu braço.

- Deve ser do meu irmão. Não lembro de ter pego isso. - Peguei a garrafa fria de seus braços para levar junto com os cobertores.

- Faz tempo que não me deleito de um bom vinho. - Começamos a caminhar de volta para a caverna e eu soltei um ar pelo nariz.

- Terá que pedir permissão para beber disto. Não fique muito esperançoso, ele odeia você. - Sibilei baixo.

- Muita gente sente isso por mim, não me abalo nenhum pouco. - Balancei a cabeça em uma falsa simpatia.

- Que pena, é inevitável. - Entramos em uma área iluminada pelas tochas da caverna e ele concordou.

- Sim. - Ele parou para que eu entrasse primeiro e senti vontade de rir por receber o cavalheirismo do homem que planejava me matar horas atrás. Logo vi Sukuna deitado em sua cama improvisada e de costas para a fogueira.

Me aproximei dele lentamente e joguei o cobertor mais forrado para ele. Me abaixei e o ajeitei para que nenhuma parte de seu corpo ficasse para fora do tecido. Quando terminei consegui ouvir seu ronco baixo, sorri e acariciei sua cabeça me afastando antes que ele acordasse.

Ouvi o som da rolha sendo retirada do seu local inicial. Me virei para observar o loiro colocar o líquido roxo da garrafa em um cálice de prata. Seus olhos encontraram os meus e eu encarei a cena com os lábios entreabertos e digerindo sua ousadia.

- Pensei ter dito que era necessário pedir permissão ao dono. - Manifestei em um tom monótono e me afastei de onde estava para não incomodar o sono do meu irmão.

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