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CAPÍTULO QUATRO:

꧁ Um novo colega de quarto ꧂

Cogito fumar escondido com a certeza de que Aspen não vai ser capaz de distinguir o cheiro dele e o meu, mas a merda da minha honra me impede. Gosto de manter a minha palavra quando a dou. Poderia culpar meu pai por isso, mas minha família toda é assim. Se um Potter promete, um Potter cumpre.

E, supostamente, eu devo conseguir ficar sem fumar. Deve ser a parte mais fácil já que eu não sou viciado. Eu definitivamente não dependo de nenhum baseado para viver.

Arrastando os pés e me sentindo acordado até demais, entro no dormitório. Estava prestes a cumprimentar Joseph e Louis quando notei que eles haviam se calado quando fechei a porta. Confuso com o silêncio súbito, olhei para os meus colegas de quarto notando uma nova presença ali. Só pode estar de sacanagem com a minha cara.

É o novato esquisito de pé perto da cama ao lado da minha. O Snape Junior.

— Hm. Oi.— cumprimento e me aproximo do trio. Louis, o coreano de cabelos enrolados como os meus, sorri para mim a ponto de seus olhos se fecharem e nós apertamos as mãos. Joseph, o baixinho com cara de um garoto de catorze anos me dá um abraço rápido e empolgado.

— Brandon, garotão!— ele abusa do sotaque irlandês que já deveria ter perdido pelo menos há quatro anos. Ele tem seus avanços, mas sempre que vai visitar os avós, volta pra estaca zero.— Como vai, hein?

— Bem.— digo e estendo a mão para o novato, que me cumprimenta educadamente. Pelo menos ele sorri, então meio que já corto a comparação que fiz dele com Snape.— Você é...?

— Ian Romanoff.— responde com o pesado sotaque russo. Que chocante.

— Brandon Potter.— apertamos as mãos e as soltamos— Bem vindo.

— Obrigado.— ele assentiu e eu me segurei para não rir com a forma exagerada que ele usa o "r".

— Do que vocês estavam falando?— quero saber. Se não posso fumar nem posso dormir, tenho que conversar.

— Nada demais, acabamos de chegar também.— Louis dá de ombros.

— Eles estavam me dando as boas vindas.— Ian diz. É todo travado.

— Então, Romanoff, podemos saber como é que você veio parar aqui?— pergunto indo direto ao assunto. Sei que os outros dois estavam esperando o momento certo, por isso me lançam olhares de censura.— Que foi? Foi expulso da última escola por ter matado alguém, por um acaso?— indago, indo me sentar na minha cama. Tirei a capa e os sapatos. Ian pareceu confuso ao me encarar por cima do ombro.

— Por que acharia que eu matei alguém?— ele pergunta e agora o confuso sou eu.

— Eu fui sarcástico.— comento como se fosse óbvio e o russo ri silenciosamente.

— Ah, sim sim!— ele balança a cabeça, divertindo-se mais do que deve ser apropriado. Troco olhares com Louis e vejo que ele compartilha do meu pensamento. É sério que ele não entendeu de primeira?— Não, não matei ninguém nem fui expulso! Me transferi! É porque meu pai teve de se mudar porque o governo estava o caçando.

Ah, e isso é muito melhor.

— Por que estariam caçando o seu pai?— Joseph pergunta preocupado e dá um passo para trás como se o ministério fosse brotar do chão com varinhas em punho e gritos de guerra. Ian faz uma careta.

— Não toleram casamentos gays no meu país, meu pai desrespeitou a lei e tivemos que nos mudar.

— Ah.

Um silêncio constrangedor tomou conta do dormitório. Ian nos encarou com aquela mascara fria e arrogante que estava usando quando se sentou no banquinho antes de Snape pôr o chapéu seletor na sua cabeça.

— Pensei que fossem mais tolerantes aqui.— ele diz, certamente na defensiva. O Reino Unido não é muito mais piedoso que a Russia no quesito de casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas estão melhorando.

— Nós não temos problema nenhum com isso só não quisemos tocar em um assunto delicado. Não somos retardados.— explico e começo a tirar minhas meias. A expressão do novato se suaviza e ele volta a sorrir.

— Não tem problema falarmos dos meus pais! Eu não tenho segredos e como seremos amigos até o fim do trimestre espero nos darmos bem desde o começo.

Ok. Eu me precipitei e muito em compará-lo com o Snape, mas a aparência não ajudou mesmo que Ian não seja particularmente feio ou sujo.

— Ah, tenho certeza de que seremos bons amigos!— promete Joseph, voltando a se aproximar. Hm.

— Acho que gostarei muito de Hogwarts, tanto quanto gostei de Durmstrang!— ele está se esforçando muito para não ter um sotaque, o que por si só já é uma falha engraçada.

— Pode apostar que vai.— Louis garante, se jogando na cama de Ian como se fosse o dono— Temos as melhores comidas e as melhores companhias que você poderia querer! Você vai direto para o alto escalão de Hogwarts se andar com o Brandon Potter aqui, ele é do tipo popular.— os três me olham e eu desejo poder desaparatar imediatamente. Detesto que se aproximem de mim como se eu fosse algo a ser seguido por conta de um status estúpido. Popularidade é bacana e tudo mais, mas eu estou literalmente cagando e andando se a maioria das pessoas gostam de mim ou não. Eu só quero viver a vida.

Quis dizer que estavam sendo idiotas se acham que minha companhia vai levar alguém para o topo se a própria pessoa é tão insegura a ponto de precisar de outras para parecer descolado, mas eu sorri como se fosse o rei do castelo e joguei as mãos para cima.

— Pode ser que eu seja.— digo. Os três riem e Joseph e Louis sacodem Ian como se ele tivesse acabado de ganhar uma oportunidade de ouro.

Quando não estão me olhando, reviro os olhos e balanço a cabeça, deitando-me na minha cama macia e confortável. Solto um bocejo ainda que não me sinta cansado.

— Potter!— Louis me chama e eu o olho com preguiça. Ah, estou na posição perfeita.— Vamos dar uma volta, mostrar Ian os arredores, vai ser melhor enquanto o castelo não está movimentado.

Não podemos ficar zanzando pelos corredores depois do jantar, e se formos pegos, receberemos uma detenção no pior dos casos, além de perder uns cinco pontos cada um para a nossa casa logo no primeiro dia. Eu toparia de primeira em qualquer outro momento, mas agora estou numa aposta e não posso perder tão rápido assim.

Eu até tinha me sentado, pronto para ir, no entanto, ao me lembrar que vou andar na linha esse mês, volto a me deitar lentamente. O bocejo que me escapa só me favorece na ceninha.

— Eu não vou, estou com muito sono— invento. Eu poderia ir numa boa e beberia com eles a noite toda porque tenho certeza de que é isso que eles vão fazer assim que arrumarem um lugar escuro para se esconder. Outra vez me pergunto que diabo estou fazendo nessa brincadeira, mas uma vez que entrei não posso ser o primeiro a desistir.

— Fala sério, Brandon, é o primeiro dia!— Louis reclama. Eu quero muito ir com eles, mas uma pessoa diferente de mim não cairia na tentação, então resisto.

— Aproveitem em dobro por mim, então.— fecho os olhos e finjo dormir. Eles não insistem, felizmente ou não, e eu só abro os olhos de novo quando ouço a porta se fechar. Cruzo os braços e me encolho na cama.— Ao mês mais chato de todos.— brindo com o universo e afundo a cara no travesseiro.

REBELLION, Brandon PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora