12 de maio de 2014

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Todos os caminhos são iguais

O que leva à glória ou à perdição

Há tantos caminhos, tantas portas

Mas somente um tem coração

Guilherme, no auge de seus quatorze anos, estava deitado em sua cama ouvindo o CD dado pelo seu tio. Meu Amigo Pedro era realmente uma música interessante para o garoto, que gostava do CD inteiro, mas tinha um carinho especial por essa música.

Depois de acordar e escovar os dentes, a primeira coisa que fez foi colocar o CD para tocar. Acordara com essa canção tocando em sua mente, e sempre que isso acontecia, o angustiava profundamente não ouvir a música reproduzida em sua sinfonia mental.

Deitava com as mãos embaixo da cabeça, olhando para o teto e se perguntava se Raul Seixas tinha mesmo um amigo chamado Pedro. Ainda mais alto, o garoto continuava sem nenhuma sombra de barba ou bigode. O cabelo, por outro lado, já lhe cobria os ombros. Se destacava também seu nariz, de tamanho ligeiramente avantajado, herdado de Ângela e de Fátima, por consequência. Nem bonito, nem feio: para as garotas de sua idade, ele era apenas o menino estranho e quieto – muito embora ele não se importasse nem um pouco com a opinião feminina ao seu respeito.

O presente de seu tio compunha seu abrangente repertório de quatro CDs. Os outros três, todos dados por sua mãe, eram: Arquivo II 1991-2000, dos Paralamas do Sucesso; Let It Be, dos Beatles e; O Descobrimento Do Brasil, da Legião Urbana. Este último era seu preferido, pois tinha uma música que o lembrava de Amanda: Um Dia Perfeito.

Ele e Amanda estavam muito bem. Se viam quase todos os finais de semana, ficavam juntos sempre que podiam. Muito embora não tivesse ocorrido um pedido oficial, eles praticamente namoravam – apesar de não usarem nenhuma nomenclatura para o que tinham ou sentiam um pelo outro. Esse relacionamento, claro, era segredo. Não contaram para absolutamente ninguém sobre o que realmente acontecia entre eles, esperando que ficasse publicamente estabelecido que eram apenas amigos. Além disso, havia o fato de que eram, teoricamente, primos. Temiam profundamente a reação da família caso descobrissem algo. Ambos criaram uma conta em uma rede social, apenas para poderem se comunicar quando não estavam juntos.

Terminou de ouvir a música que queria, levantou-se satisfeito, desligou seu micro system e guardou o CD. O aparelho foi um presente de seu Tio Sandro, que comprara um novo e lhe dera este usado. Ele tocava fita, CD e ainda tinha a função de rádio. Apesar de poder baixar músicas pela internet, Guilherme preferia ouvir música em seu aparelhinho, gostava da sensação de colocar um CD para tocar e ouvi-lo inteiro, sem interrupções e na sequência gravada.

Foi até a cozinha para tomar seu café. Sentou-se à mesa, tomando café com leite bem quente e comendo uma torta de maçã trazida por seu pai da padaria. Observou a iguaria da Sonora Pães e se perguntou o motivo de seu pai ser tão obcecado com aquela torta. Estava sempre tentando mudar alguma coisa, parecia nunca estar satisfeito. Enquanto comia, ouviu um barulho estranho.

– Mãe? – gritou, em direção à sala.

Nenhuma resposta. Deu mais uma mordida na torta e continuou perdido em seus pensamentos, até que ouviu alguém tossindo, mas de um jeito estranho.

– Mãe?! É você?!

Ele então levantou-se, saiu da mesa e seguiu na direção da sala. Assim que virou, se deparou com uma cena que carregaria consigo pelo resto de sua existência. Ângela estava caída, ao pé da escada, como se engatinhasse. Levava a mão esquerda à boca, esboçava uma expressão assustada, com olhos levemente arregalados e marejados. Sua pele estava pálida, em contraste com o sangue rubro que gotejava no chão, formando uma pequena poça. O líquido parecia escorrer por entre os dedos da mão que cobria sua boca. Suas pernas tremiam, falhavam, e a mulher não conseguia levantar nem falar.

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