11 de julho de 2016

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Já eram onze e meia da manhã quando Guilherme acordou. Ficara a noite passada mexendo no computador, indo dormir depois das quatro da madrugada. Quanto menos sentido ele via no mundo real, mais ele o buscava no virtual. Otávio dormia no andar de cima e tinha o sono pesado, então ele ia até a cozinha, preparava café, fazia lanches pequenos e pouco saudáveis e voltava para o quarto. Além disso, tinha a justificativa de estar de férias para acordar tão tarde.

Agora com dezesseis anos, o jovem Guilherme já tinha uma voz grave o suficiente a ponto de destoar de sua feição juvenil. Ainda mais alto, o garoto continuava magro e com um cabelo que já ultrapassava os ombros. As madeixas negras contrastavam com sua pele excessivamente branca, fruto da vida noturna do rapaz que se escondia do sol sempre que podia.

Na internet, agora ele tinha diversas redes sociais. A sua preferida era um blog onde ele mantinha o anonimato e o usava apenas para postar suas fotos. Era quase como um álbum virtual, onde ele publicava suas fotografias preferidas, com data, hora e local. Era uma rede social pouco conhecida no Brasil, com uma maioria de usuários estadunidenses. Guilherme já tinha, inclusive, um número considerável de seguidores que curtiam e compartilhavam suas fotos, que eram muito boas – sempre pareciam carregadas de mensagens e sentimentos.

Passara a noite passada inteira ouvindo repetidamente o álbum Turn Blue da banda The Black Keys – desde que o descobrira, não conseguia parar de escutar. Organizou alguns álbuns, postou fotos e viajou por timelines infinitas de redes sociais diversas. Regada à música boa e muito café, sua noite lhe rendeu olheiras profundas e uma indisposição física que só não era mais forte do que a vontade do garoto de sair de casa. No dia de hoje ele tinha uma razão especial para querer fugir, de casa, de seus pensamentos, de sua vida no geral.

Levantou de maneira forçada, como já era habitual, e foi escovar os dentes. Já na cozinha, preparou seu café e passou manteiga em um pão – sem vontade alguma de comê-lo. Porém, fazia muito tempo que não se alimentava e se via obrigado a colocar algo no estômago. Quando terminou de comer, voltou para o quarto e ligou o computador novamente. Enquanto a máquina ligava, ele pegou o celular e sentou-se na cama.

Nunca tivera muita paciência para trocar mensagens pelo aparelho, preferia o teclado do computador. Porém, não viu outra opção quando notou 11 mensagens não respondidas na tela do aparelho:

11/07/2016 10:32

Gustavo:

E aí cara

Eu acordei com uma vontade fodida de comer um hamburguer

Daqueles que dão infarto mesmo

Bora dar um pulo no shopping hoje

11/07/2016 11:07

Gustavo

Acorda seu vagabundo

Eu sei que tu ta ai

Dormindo, babando

Sonhando com a priminha

Ja falei que vc é nojento ne?

kkkkkkkkkkk

Se quiser ir me avisa até o meio dia

Ir ao shopping não era, nem de longe, seu programa favorito. O meio-dia se aproximava e Guilherme não tinha nada para comer nem para fazer. Isso sem contar com o fato de que comer um hambúrguer não era uma má ideia. Ele respondeu o amigo dizendo que ia, combinaram de se encontrar no local logo após o meio-dia.

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