– Acabou essa porra! – Gustavo gritou com toda a força que tinha.
Os relógios marcaram meia noite e a festa de formatura dos terceiros anos da Escola de Ensino Médio Alvo oficialmente havia começado. Uma parte dos jovens já estava bêbada e animada, mas foi o estouro de alguns fogos do lado de fora e uma buzina acionada do lado de dentro do estabelecimento que deram início à comemoração.
Aquele era um momento muito esperado por todos aqueles recém-formados estudantes. Foram treze anos de esforços, em diferentes níveis, para finalmente deixarem de ser estudantes e se tornarem desempregados – muito embora a grande maioria deles realmente não precisasse trabalhar.
A festa estava acontecendo no salão de um grande centro de eventos que era alugado todos os anos pela escola para a formatura. O espaço onde efetivamente ocorria a festa era muito conhecido entre os amantes desse tipo de evento e alguns dos presentes já haviam frequentado as formaturas passadas. Tratava-se de uma ampla arena em forma de semicírculo: o DJ ficava no alto, em um palco virado de frente para a parte aberta do salão, com vista para toda a festa; nos cantos haviam bancos, para os festeiros que cansavam cedo demais; havia um "segundo andar" da festa, um mezanino que seguia o formato do salão, como uma grande "varanda", funcionando como uma espécie de área VIP, com mesas para as garrafas de bebidas; havia ainda diversas formas de iluminações no ambiente, com luzes caóticas e coloridas e; nos cantos do salão, máquinas de fumaça deixavam o local ainda mais propício para a comemoração dos jovens presentes.
Mas o ponto mais alto da festa, que tornava aquele lugar realmente conhecido e suas festas famosas ficava no centro do salão: um grande círculo giratório, cuja direção e velocidade do movimento eram controlados pelo próprio DJ, que os sincronizava de acordo com a música. Os presentes nunca precisavam beber muito para ver tudo girando.
Porém, esse não era o caso dos nossos jovens. Com círculo giratório ou não, eles acabariam vendo tudo girar em algum momento. Guilherme, Gustavo e Felipe gritavam e pulavam pelo salão, de maneira desengonçada e potencialmente constrangedora, algo que não era problema dado que todos os presentes faziam o mesmo.
Estavam todos vestidos muito formalmente para uma festa, tendo em vista que a maioria deles viera direto da cerimônia de colação de grau para a celebração. Apenas quatro turmas de terceiro ano estavam se formando, mas com a possibilidade de cada formando convidar várias pessoas, o salão estava realmente cheio.
Guilherme estava vestido com suas roupas velhas de bandas de rock, pouco se importando com os trajes da maioria dos presentes. Ele não participou da cerimônia de colação de grau pois não tinha certeza se passaria de ano e não queria gastar o dinheiro de Otávio com nada que não fosse estritamente obrigado. De qualquer forma, não se importava nem um pouco com tal cerimônia, que não tinha nenhum significado para ele. Estava mais interessado na festa, em aproveitar os últimos momentos reunido com seus amigos, pessoas que aprendeu a gostar no decorrer dos três anos que passou naquela escola.
Muito embora ele tenha se sentido deslocado no início de seu ensino médio, gradativamente foi se misturando e envolvendo com seus colegas, sobretudo sob a influência inicial de Gustavo e por fim de Felipe. Era na escola que ele encontrava o único espaço onde se sentia bem e à vontade no seu dia a dia. E, nessa festa, esse ciclo chegava ao fim. Ele tentava não pensar muito sobre isso.
– O Lucas vai vir? – Gustavo gritou para de Felipe.
– Eu convidei – este um gritou de volta.
Guilherme piscou para Felipe e apontou com a cabeça para uma mulher que entrava na pista de dança. Estava muito bem-vestida, era ruiva e dona de um belo sorriso, aparentando ter entre 25 e 30 anos. Seu corpo chamava atenção por onde passava, e fazia questão de andar sempre muito bem-arrumada. Eu vou pegar essa mulher, foi o que disse Felipe a primeira vez que a viu, no início do ano. Gustavo duvidou e o desafiou a fazê-lo até o final do mesmo. Depois de uma longa discussão de termos, eles chegaram a uma aposta: se Felipe conseguisse ficar com essa mulher até o final do ano, Gustavo teria que fazer uma declaração pública, cujo teor seria de total escolha do primeiro. Caso Felipe não conseguisse, aconteceria o inverso. Mas um detalhe era muito importante e interessante nessa aposta: a mulher, chamada Viviane, era a professora nova de química da escola.
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Não Voe Perto Dos Prédios
TeenfikceNossa vida é uma sequência ininterrupta de eventos, do nascimento à morte. Nem tudo está sob nosso controle. Sejamos honestos, o controle sobre a vida não passa de uma ilusão que, mais cedo ou mais tarde, se esvai. Guilherme Barone Vasconcelos, no d...