Para minha amiga e Guardian Angel, Andrea Dorini Rossi
Nessa vida passageira
Eu sou eu, você é você
Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer...
Que vejo flores em você!
(Flores em Você — Ira)
Hazel
—Sei que não é o céu de Oceanside — ele começa a dizer. — Mas é um céu. Apesar de não estar límpido, há algumas estrelas. Mesmo não estando, nós dois, deitados num tablado na areia, sentindo a brisa do mar e o cheiro da maresia, estamos deitados sob ele e, o mais importante, juntos.
Porra, Max. Não fode! Não seja, além de tudo, poético.
Ele procura pela minha mão sobre a cama, e desta vez não consigo negar o seu toque. Deixo que entrelace nossos dedos como sempre fazemos na hora de olhar para o céu e fazer os pedidos. Meus olhos, rasos de lágrimas, impedem que eu veja com nitidez as tais poucas estrelas que ele falou, mas não importa.
— O que eu mais desejo hoje e sempre, além de que seja feliz, é nunca perder ou magoar você. — Ele cumpre a sua parte do ritual e aguarda que eu cumpra a minha.
Nem pensei direito no que iria pedir ao abrir a boca, simplesmente sai:
— Eu desejo que você vá embora.
Sinto o baque instantâneo que minhas palavras causam nele pelo tranco forte que dá em minha mão e o ar puxado com força na sequência, quase lhe provocando um engasgo.
No entanto, ele não diz nem faz absolutamente nada por longos e longos minutos. Também não faço. Até que finalmente ele me larga, apanha o telefone celular e tira uma foto do céu.
— Não se preocupe, no máximo depois de amanhã, você terá o que deseja. — Beija minha bochecha e se levanta.
Fico desnorteada. Ao mesmo tempo em que tenho medo de que ele desça e terminemos a noite cada um num canto e ambos magoados, também não quero retirar minhas palavras. Mais do que um acato aos conselhos de minha mãe, elas foram a manifestação genuína da minha necessidade.
Ou ele me pega para ele de uma vez, ou vai embora. Não dá para continuar assim. Pelo menos por algum tempo, preciso de uma folga da tensão que sua proximidade me causa.
Para alívio da minha consciência, tudo que ele faz é andar, guiado apenas pelas chamas da lareira, até a área da bateria, pegar o violão e retornar para a cama, sentando-se agora em posição de lótus. Começa a dedilhar uma canção que só reconheço que é , quando ele canta o primeiro verso.
Eu não sou um perfeito
Há muitas coisas que eu gostaria de não fazer
Mas eu continuo aprendendo
E nunca quis fazer você sofrer
E então eu tenho que dizer antes de ir
Eu apenas quero que você saiba