Venha
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição
(Perfeição — Legião Urbana)
Hazel
Semana que vem, embarco para Londres outra vez.
Antecipei a minha ida.
Depois do que aconteceu em Vegas, há cinco semanas, eu me sinto estranha. Parece que perdi o brilho. Tudo dói. Entretanto, ao mesmo tempo, nada me importa. É como se eu tivesse morrido um pouco por dentro. Secado. Sinto a dor. Porém, não tenho vontade de chorar ou reagir a ela, só deixá-la aqui, tomando conta de tudo, e ir vivendo.
Estou procurando fazer o que Henry sugeriu depois da minha primeira briga de casados com Max, se é que podemos classificá-la assim. Já era minha intenção mesmo ficar na minha, e não o procurar mais em Vegas.
O que eu não esperava era que ele não viesse atrás de mim. Isso me magoou ainda mais, saber que o que aconteceu não o motivou a vir me pedir perdão instantaneamente.
Max só me procurou no dia seguinte, poucas horas antes do horário do nosso retorno. Pediu para conversarmos. Recusei, assim como tenho recusado todas as suas tentativas de uma conversa a sós desde então. Sou cordial, respondo suas mensagens, converso sobre amenidades quando nos encontramos na praia ou nas reuniões de família. Ele aceita. Não insiste. Acho que, no fundo, fica aliviado.
Foi fácil fugir dele nestas primeiras semanas do ano. As coisas por aqui ficaram agitadas com a volta da primeira-dama do rock. Tivemos o acerto de contas com Carol, a minha ex-amiga psicopata e fura-olho. Depois houve a visita ilustre dos Rolling Stones, o show na praia pelo aniversário de Bia e a apresentação de Benjamin. Em seguida, a incrível descoberta de que o meu "ex", Eric, é o pai de Mary Ann, a filhinha de Maggie, a garota doce que ajudou Bia assim que chegou em Sea Bright e que, a convite da amiga, mudou-se para a nossa praia a fim de integrar nossa família e tocar o projeto da Three Minds de abrir um berçário e escolinha para os filhos pequenos dos funcionários. Também há as investigações sobre o possível pai biológico de Oliver, que Riley está tocando, de que apenas Bia e eu temos ciência.
Todos esses acontecimentos nos mantiveram ocupados, além das vistas das pessoas longe de nós. Por isso, para os outros, nada de estranho se passa entre mim e Max.
Foi também em razão da nossa estranheza e dos conselhos de Henry que resolvi antecipar minha volta a Londres. Sinto saudades dele todos os minutos. Contudo, é maior o meu medo de que, se eu deixar rolar a conversa entre nós, ele me comunique o que imagino que pretende. Então prefiro a saudade ao que, possivelmente, sentirei se estiver certa.
Veio a calhar perfeitamente o convite que recebi para tocar um estudo maluco que o maestro Lanfort e Miss Treveland, uma renomada estilista inglesa e nossa professora de moda, resolveram iniciar em parceria depois que expus, em minha tese de conclusão de curso, a hipótese de que muitos artistas talentosos não alcançam o topo por não saberem vender o visual e o estilo corretos ao seu público, que, no show business, a propaganda visual conta tanto quanto o talento individual.