Ah, meu primeiro amor...

[01]

          A família Yoshida havia acabado de se mudar para o bairro, os pais de Hayato queriam impulsionar o negócio que tinham, o antigo era muito calmo se fosse comparado com o novo, por isso haviam se mudado mais uma vez.

— Hayato vá ajudar sua mãe com as caixas, por favor. — Ouviu a voz de seu pai o ordenando a fazer algo.

— 'Tá bom, 'tô indo. — Apesar de ter resmungado acabou por ajudar a mãe, se não o fizesse teria sua orelha puxada por meio quarteirão, algo que achava totalmente desagradável.

          Tudo corria pacificamente bem, se não fosse pela pilha de caixas parcialmente vazias que sua mãe fizera que despencou sobre a cabeça de alguém que passava por ali. Hayato se escondera a alguns passos da pilha assim que percebeu que ela estava prestes a cair, não iria levar a culpa por algo que não fizera.

— Oh, céus, mil desculpas. — A senhora responsável pela pilha falou. — Machucou?

— Estou ótima, senhora. — A garota havia acabado de levantar, tirando o pó que poderia ter ficado em suas roupas. — Eu sou mais forte do que pareço, não se preocupe. — Falou, se curvando antes de se despedir e sair na direção oposta às caixas caídas.

— Hayato? — Ela falou assim que percebeu que a garota havia sumido de sua vista, batendo na cabeça do garoto assim que o achou. — O que você 'tá fazendo escondido aqui?

— Hãn? — Ele olhou em direção a mãe, sem entender o motivo de ter apanhado. — Eu 'tava olhando o ângulo das caixas daqui, estudando ele...

          A senhora o acertou com mais alguns tapas, resmungando, enquanto o fazia, frases como "Desde quando você estuda? Tudo que sabe fazer é jogar, jogar e ler aqueles quadrinhos." ou "Quando foi que você perdeu o respeito comigo, garoto?" e muito mais.
          Hayato ficou parado ali por um tempo, pensando em como a garota que acabara de passar por ali era bonita e gentil, talvez mudar de bairro não fosse tão ruim no final das contas, desde que pudesse vê-la todos os dias. Gostaria de saber seu nome, onde estudava e o que gostava de fazer nos dias de folga, parecia alguém interessante.
        Alguns dias haviam passado e ele não conseguia tirar a garota de seus pensamentos, "Parece que ela se apossou de um pedaço do meu cérebro e não quer mais sair daqui." pensava sempre que o sorriso dela surgia, mal tinha afastado os pensamentos quando a garota apareceu de forma súbita bem diante de seus olhos, o que o fez se abaixar como se estivesse olhando as coisas nas prateleiras mais baixas, esperando, imóvel, que ela passasse por ele o quanto antes, respirou de forma profunda para conseguir controlar os batimentos acelerados, os olhos piscando diversas vezes como se tentasse apagar o fato de que a misteriosa garota havia brotado em sua frente bem quando estava pensando nela, seria um sinal? Ou ele só estava pensando demais? Provavelmente só estava pensando demais, ele sempre pensava demais, era um problema que Hidetaka, seu melhor amigo, sempre apontava.
          Naquela noite decidiu que seria uma boa ideia ligar para seu melhor amigo, não que eles não se falassem todos os dias, mas parecia que precisava conversar a respeito do que estava acontecendo e ouvir a entonação de voz dele, porque por mensagens era praticamente impossível saber quando ele estava sendo irônico ou realmente concordando com o que dizia.

— Koba-san. — Falou fingindo que iria chorar de emoção.

— Por que você sempre me chama assim quando me liga? — Hidetaka revirou seus olhos, girando o lápis entre os dedos, era uma mania que adquirira quando costumava tocar bateria e saia por aí com as baquetas em mãos.

— Porque eu adoro ver a sua cara de irritadinho. — Hayato encolheu de leve seus ombros, girando em sua cadeira e então apoiando a cabeça no encosto, encarando o teto. — A garota misteriosa apareceu bem diante dos meus olhos hoje enquanto eu estava na papelaria comprando os materiais pro colégio novo...

— E o que eu tenho a ver com isso?

— Foi exatamente quando eu pensei nela! Qual a probabilidade de isso ser um sinal cósmico?

— Nenhuma? — O mais alto ergueu uma de suas sobrancelhas, encarando o amigo pela tela do computador. — Eu já avisei que você precisa parar de ler mangá de romance, isso 'tá começando a danificar seu cérebro.

— Hidetaka, presta atenção! — Hayato praticamente gritou, assustando um pouco o garoto do outro lado da tela.

— Eu 'tô prestando atenção!

— Você 'tá jogando!

— Mas eu 'tô te escutando! — O garoto tirou seus olhos da tela por alguns segundos, suspirando ao ver que havia sido pego pelo inimigo. — Ó, morri e a culpa é sua.

— Problema seu, eu 'tô aqui precisando de ajuda e você prefere ficar jogando com estranhos! — Hayato viu o melhor amigo revirar os olhos, então ergueu o dedo indicador e o apontou para o rosto dele. — E não revira os olhos pra mim.

— O que você quer que eu faça pra te ajudar? — Voltou a encarar o amigo. — Nem o nome dela você sabe.

— Eu não tive a oportunidade de perguntar, só isso!

— Corrija, você não teve coragem de perguntar. — Estalou a língua no céu da boca. — Já pensou em procurar por ela no fórum do colégio? Que eu saiba o único que tem nessa região é o que você vai frequentar depois do recesso de inverno...

— Não me faltou coragem, eu só sou um total estranho pra ela, não posso chegar perguntando, vai que ela me acha um lunático.— Voltou a encostar a cabeça na cadeira depois de ver o amigo encolhendo seus ombros, se levantando de forma abrupta ao ouvir o que Hidetaka havia falado. — Como eu não pensei nisso?

— Você não costuma usar muito o seu cérebro...

— Com um amigo desses eu nem preciso de inimigo. — Hayato revirou os olhos, entrando no fórum de onde estudaria dali para frente. — Bem, achei uma publicação com algumas fotos do quarteto da natação, na legenda de uma dessas fotos tem o nome de duas garotas, Ami Yukimura e Yumi Yamazaki, agora quem é quem eu não faço ideia.

— Não tem publicações sobre elas?

— Não com fotos, a maioria fala sobre a Ami Yukimura, em grande parte ela 'tá sendo xingada de tudo que é coisa...

— E se essa for a sua garota misteriosa?

— Eu duvido, ela parecia gentil, nem xingou a minha mãe quando as caixas caíram com tudo na cabeça dela. — O garoto estava pensativo, observando as postagens.

— Ela pode não ter sido grosseira com a sua mãe, mas isso não a impede de ser uma vaca estúpida com o resto das pessoas. — Hidetaka encolheu de leve os ombros. — Descobrimos a sua garota? Posso voltar a jogar?

— Você pode ter razão. — Hayato estava praticamente deitado em sua cadeira. — Vai lá antes que tenha um treco, a gente se fala depois.

          Hidetaka desligou a chamada logo depois, enquanto isso Hayato continuou todo torto em sua cadeira, olhando as postagens que falavam sobre Ami, será que poderia ser ela a sua garota misteriosa?

[...]