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          Semanas haviam se passado e as coisas não estavam menos caóticas do que o normal, mas com um pouco de sorte, uma pequena organizada e sincronia de horários os garotos conseguiam se encontrar para comerem juntos uma vez ou outra, era o que estavam fazendo naquele exato momento, sentados na escadaria que dava para o prédio onde Iori morava.

— Sabe quem eu vi essa semana? — O garoto bateu a latinha de refrigerante no degrau.

— A Ami?

— Como você descobriu? — Encarou o amigo, uma de suas sobrancelhas erguidas.

— Pela forma como falou era impossível não pensar nela. — Hayato soltou uma breve risada. — Mas onde foi que viu ela?

— Em um barzinho perto daqui. — Encolheu de leve os ombros.

— Mas ela não é menor de idade?

— Tem bares aqui na região que aceitam alunos da faculdade pra trabalhar em horários durante o dia, não tem problema. — Hidetaka falou enquanto terminava de comer. — Teria problema se a pessoa menor fosse pega consumindo álcool durante o expediente ou trabalhando depois da hora permitida.

— Até que faz sentido, dependendo do caso não tem como se manter com a bolsa que a gente ganha da faculdade. — Yoshida falou antes de tomar um gole de seu refrigerante, comendo uma de suas batatinhas em seguida.

— Mas aí que mora o problema, a gente não pode trabalhar enquanto tem bolsa, e se eles descobrem, cancelam praticamente na hora. — Iori apoiou o queixo sobre uma das mãos, observando o movimento de alunos por ali.

— Das duas uma, ou ela não tem bolsa, ou trabalha por baixo dos panos. — Hidetaka falou, se levantando de onde estava e jogando suas coisas fora.

— Ami não trabalharia por baixo dos panos. — Iori bebeu mais um pouco do conteúdo de sua latinha.

— Tem certeza? — Hayato o observava com uma expressão estranha no rosto.

— Eu sei que ela é toda rebelde agora, mas não faria algo que pudesse afetar toda a vida dela, vai por mim.

— Então ela não deve ter conseguido bolsa.

— Ou ela guardou dinheiro suficiente pra esse primeiro semestre e agora 'tá correndo atrás de mais pro próximo. — Hidetaka encolheu de leve seus ombros, chutando uma pedrinha que tinha por ali. — Porque você se preocupa tanto com ela?

— Diz ele que é por saudade do triozinho. — Yoshida soltou uma gargalhada, acreditava que no fundo tinha outra razão.

— Eu, Ami e Yumi éramos grudados quando mais novos, morávamos no mesmo complexo, depois que a Yumi mudou, Ami foi se afastando aos poucos, até o momento que eu já não reconhecia mais a menina que era minha melhor amiga. — A voz de Iori se tornou triste e saudosa, mas não era como se ele fosse chorar ali.

— Sem motivo nenhum?

— Mais ou menos, mas isso não cabe a mim contar, já que é uma coisa só dela. — Encolheu de leve seus ombros, se levantando depois de bater em suas coxas e suspirar pesado.

— Ela vivia me xingando na época do colégio, sabia mais xingamentos do que a minha mãe. — Fez uma careta de desgosto. — Mas ela me ajudou uma vez, quando eu virei a noite fazendo um trabalho e não aguentava ficar em pé, ela me levou até a enfermaria e inventou que eu 'tava passando mal, funcionou porque eu fiquei lá dormindo até a hora das aulas extracurriculares.

— Ela não é uma garota má, só bem complicada. — Deu ênfase no bem, rindo baixinho.

— Sério? Nem percebi! — Falou de forma sarcástica, sendo empurrado pelo amigo. — Por que vocês amam me empurrar?

— É engraçado ver a sua cara quando percebe o que aconteceu, vale a pena. — Hidetaka soltou uma gargalhada ao ver o garoto mostrar o dedo do meio.

— Tudo doido aqui. — Negou com a cabeça algumas vezes.

          Ambos os garotos se entreolharam e encolheram seus ombros, sabiam que ele se encaixava no que havia dito, por isso não deram tanta bola ao serem chamados de doidos na cara dura.
          Ficaram mais um tempo ali conversando, aproveitando para colocarem os acontecimentos das últimas semanas em dia, depois foram cada um para seus respectivos prédios e dormitórios.

[...]

Ah, meu primeiro amor...Onde histórias criam vida. Descubra agora