Os dias que se passaram foram quase uma tortura, a garota que se sentava ao seu lado, quando não estava dormindo, só sabia xingá-lo, nem a sua própria mãe tinha um repertório tão grande de xingamentos, era horrendo.
— Sensei, a Yumi 'tá jogando shogi na sala. — Yoki falou ao perceber que perderia a partida iniciada em segredo.
— Não tem como jogar shogi sozinha. — Yumi se levantou, na intenção de se defender da acusação.
— Você com esse QI alto com certeza joga sozinha. — A garota cruzou os braços, queria se livrar da acusação sofrida.
O professor soltou um suspiro, penalizando apenas Yumi, o que a deixou com aquela sensação de que havia sido algo injusto já que, apesar de ser uma das melhores do colégio, era impossível jogar shogi sozinha, mesmo se quisesse.
Naquela mesma manhã a professora conselheira chamou Hayato para que terminassem de preencher todos os dados que ainda faltavam em sua ficha, quando estava voltando para sua sala de aula avistou a garota misteriosa, parecia estar super concentrada na tarefa que realizava.— Você não é o garoto da papelaria? — Yumi disse assim que o viu se aproximar, resmungando ao derrubar as peças de shogi que estavam sobre sua cabeça.
— Você... Se lembra de mim? — Hayato apontou para o próprio rosto, piscando algumas vezes por não conseguir acreditar naquela situação.
— Sou boa em lembrar dos rostos que vejo por aí. — Encolheu de leve seus ombros. — Será que poderia me ajudar? Não consigo equilibrar as peças porque não as enxergo pra colocar no lugar certo.
— Hm... Claro. — Afirmou de leve com a cabeça, pedindo para que ela se abaixasse um pouco para que pudesse ver se estava colocando as peças de maneira que não caíssem com tanta facilidade. - Pronto.
— Obrigada... — A garota franziu a testa, se lembrando que não sabia o nome do garoto, então esperando que ele a dissesse.
— Hayato Yoshida... — Sorriu de leve, se afastando de forma abrupta ao se lembrar que precisava voltar para a sala, então praticamente correndo até lá.
— Eu já esperava que você... — Olhou para a garota que sentava ao lado de Hayato. — Chegasse atrasada, mas o aluno novo?
— Desculpe, professor, tive que resolver alguns problemas.
— Sentem os dois, rápido. — Respirou de forma profunda, logo dando continuidade ao assunto da aula.
Hayato passou o restante do dia se sentindo estranho, não suportava ter tantos olhos virados em sua direção, seguidos de cochichos, aquilo o deixava desconfortável.
Na saída do colégio lembrou-se que precisava entregar o guarda-chuva para a garota, então ficou esperando por ela em frente ao portão, vez ou outra balançando o corpo para frente e para trás.— Yumi, vem cá! — Yoki enlaçou o braço da melhor amiga, a puxando para mais perto de si. — Um passarinho me contou que um garoto te ajudou com as peças de shogi durante o castigo.
— Eu não conseguia enxergar pra ver se elas estavam na posição certa. — Encolheu de leve seus ombros.
— E você sabe quem era ele?
— É claro que eu sei, mas não vou contar pra você. — Mostrou a língua para a garota, saindo correndo dali, sendo seguida pela melhor amiga.
O garoto ficou observando as duas de longe, ao menos agora sabia o nome da garota misteriosa e tinha certeza que ela não era a "vaca estúpida" como Hidetaka havia dito antes. Quando se deu conta que a garota mais baixa havia falado sobre ele sentiu suas bochechas esquentarem de forma violenta, a vergonha tomando conta de todo o seu corpo, o que elas falariam sobre ele depois de saírem dali? O assunto iria perdurar ou acabaria ali mesmo?
Hayato mal havia chego em casa quando ligou para o melhor amigo, precisava contar sobre a grande descoberta que havia feito.— Hi-de-ta-ka! — Ele riu ao ver a expressão do ex-colega de sala. - Tenho uma novidade.
— É sobre a tal garota misteriosa?
— Como soube?
— É só uma das coisas que você mais tem comentado ultimamente.
— Ah... — Hayato se jogou sobre a cama, suspirando de leve. — Eu ajudei ela hoje com umas peças de shogi e descobri o nome dela!
— Você perguntou? — Hidetaka quase gritou, os olhos arregalados pela surpresa.
— Eu não, 'tá doido, é? — Negou com a cabeça algumas vezes. — A amiga dela fez questão de chamar pelo nome quando eu 'tava por perto.
— Você não aprende nunca, cara...
— Você queria que eu mesmo fosse perguntar o nome pra ela?
— Claro?! — Ergueu uma de suas sobrancelhas enquanto encarava o amigo pela tela. — Você acha que vai sair alguma coisa disso se continuar se escondendo desse jeito? Ou se joga de uma vez ou pode parar por aqui.
— Por que você é tão mau comigo, Koba-san? — O garoto resmungou como se estivesse prestes a chorar, a testa franzida dava um ar ainda mais dramático a cena. — Eu juro que eu tento, mas toda vez que ela aparece eu travo, mais do que o seu computador antigo.
— É a primeira vez que eu te vejo assim por causa de uma garota.
— Iria preferir se fosse por um garoto?
— Seria melhor ainda se fosse eu. — Encolheu de leve seus ombros, revirando os olhos.
— Sempre soube que você tinha uma quedinha por mim. — A voz de Hayato tinha um tom convencido, aquele que ele sempre usava em situações como aquela. — Quem não teria uma quedinha pelo gostosão do Hayato Yoshida?
— Sai pra lá seu convencido do caralho. — Soltou uma gargalhada, se estivessem próximos um do outro com certeza teria socado o amigo. — Quem vê pensa que você é tudo isso.
— Eu sou um homem muito bonito, só 'tô em formação ainda...
— Não sabia que pra ficar bonito levava tanto tempo assim. — Hidetaka estalou a língua no céu da boca, negando com a cabeça algumas vezes.
— Quando você não nasceu em uma família abençoada pela genética sim...
—'Tá dizendo que a minha família tem o gene de ter homens bonitões, Yoshi-san? — Acabou por fazer com que sua voz adquirisse um ar mais sugestivo, o que fez com que Hayato sentisse vontade de cair no soco com o mais alto.
— Eu não disse nada disso, você que 'tá se achando aí sozinho.
— Sei... — Hidetaka disse um pouco desconfiado, gargalhando ao ver o amigo mostrar o dedo do meio. — Vou sair antes que meu irmão resolva reclamar que eu 'tô usando muitos eletrônicos ao invés de aproveitar que ele 'tá em casa....
— Ele ainda pega no seu pé por causa disso? — Acabou por gargalhar ao ver o outro afirmar com a cabeça.
— Ele é doido, fica reclamando de coisas que ele também fazia na minha idade. — Revirou os olhos, ouvindo a voz do irmão mais velho ecoando no andar de baixo. - Falo com você mais tarde.
Hayato se despediu do amigo, ficando um tempo encarando o teto até decidir estudar para as provas que estavam chegando, não gostava daquela época porque sempre se saía mal, mesmo se estudasse dias a fio, sempre dava um jeito de ficar com alguma nota abaixo da média.
[...]
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Ah, meu primeiro amor...
RomanceO que uma mudança de escola nos seus últimos anos de ensino médio pode trazer de bom? Início: 25/07/2022. Fim: 12/08/2022.