Ah, meu primeiro amor...

[07]

          Hayato estava saindo pelo portão principal do colégio quando recebeu uma mensagem de Yumi avisando que tinha deixado algumas coisas para ele no lugar onde sempre estudavam, era um prédio praticamente abandonado que o pessoal da região usava para guardar coisas ou, no caso dele, estudar e se esconder um pouco do mundo. Acabou indo até lá pouco depois do almoço, vendo que era uma pilha de livros direcionados a vestibulares e terceiro ano, não sabia bem o que sentir naquela situação, era sinal de que logo Yumi não estaria mais ali e de que o seu último ano no colégio estava se aproximando, era um misto de nervosismo por ter algo que estava prestes a começar e aquela vontade de que acabasse logo, para que pudesse finalmente fazer algo que queria.
          Enquanto voltava para casa recebeu uma ligação em grupo, sabia que era em grupo porque havia colocado um toque específico para ligações do gênero, acabou deixando que o aparelho tocasse até que a pessoa responsável desistisse de continuar, depois que organizou as coisas que precisava resolveu ligar de volta.

— Por que não atendeu antes? — Iori praticamente gritou. — Sabe como eu fiquei preocupado, Haya-chan?

— Eu precisei pegar umas coisas que a senpai deixou pra mim, desculpa aí.

— Yumi?

— É, parece que ele tem bloqueio com o nome dela, nunca consegue chamar pelo nome. — Iori revirou seus olhos, sabia que os garotos não conseguiriam ver o gesto mas foi impossível controlar. — O que ela deu pra você?

— Um anel daqueles de plástico que fica preso no dedo como uma promessa de que se veriam de novo. — Hidetaka suspirou como se estivesse apaixonado, caindo na gargalhada junto com Iori ao ouvir Hayato resmungar do outro lado da linha.

— Você é muito chato, Hidetaka. — Falou entre dentes, encarando a pilha de livros que havia ganho da mais velha. — Ganhei alguns livros dela hoje.

— Que tipo de livros? Romance erótico? — Iori entrou na brincadeira, era legal ver como Hayato ficava nervoso ao ser zoado por causa de Yumi.

— Claro, nós chegamos nesse nível de intimidade. — Falou antes de bufar e se jogar na cadeira. — São livros pro vestibular e pro último ano.

— Nossa, mas é uma nojenta mesmo. — Resmungou entre dentes. — Eu sou primo dela, por que você ganhou os livros? Eu sou menos importante agora?

— Preferência pessoal. — Hidetaka soltou uma risadinha. — Ou ela percebeu que nosso querido Hayato-kun precisa bem mais de ajuda nos estudos do que você, Watanabe.

— É uma teoria plausível, mas ela não vai se livrar de me responder essa pergunta. — A voz dele soou um pouco mais alta do que o normal, fazendo os outros garotos questionarem o que estava passando pela cabeça do garoto.

— Vocês me chamaram de burro na minha cara, pra que inimigos, né? — Agora foi a vez de Hayato revirar os olhos, mas foi com tanta força que pensou que ficaria com eles colados na parte de trás da cabeça.

— Você que decidiu virar nosso amigo, não temos culpa. — Hidetaka encolheu de leve seus ombros, sua voz acabou por acompanhar o gesto.

— Péssimo lugar pra deixar a lambreta estacionada. — Falou depois de estalar a língua no céu da boca.

— Quê? — Iori ficou confuso com o que havia escutado do amigo, a testa franzida por causa daquilo.

— É só uma maneira de dizer que ele se arrepende do que fez.

— A frase não faz sentido nenhum. — Coçou a cabeça, tentando entender o que a lambreta tinha a ver com amizade. — Qual a relação da lambreta com a gente?

— Não tem, é mesmo só pra dizer que me arrependo de ter me aproximado de duas pessoas que me chamam de burro na minha cara e nem se preocupam em pedir desculpas. — A voz de Hayato foi tomada por chateação, algo que fora percebido pelos dois garotos.

— Sentimos muito. — Ambos falaram juntos, até parecia que tinham combinado o momento exato.

— Vai perdoar a gente?

— Vou pensar. — Disse, olhando a hora em seguida. — Vou desligar agora, preciso estudar.

          Os três se despediram e Hayato foi dar uma folheada nos livros que havia ganho de Yumi, vendo o bilhete que tinha em cima de um deles com um desenho e a seguinte frase em uma caligrafia perfeita.

"Aqui tem tudo o que vai precisar pro próximo ano e pro vestibular, qualquer que seja ele. Boa sorte!"

          O garoto ficou encarando aquele desenho por um tempo, então começando a estudar pela matéria que mais tinha dificuldade, o inglês.

[...]