EU LUTO COM UMA MULHER GALINHA

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Arrancamos noite adentro por estradas rurais escuras.
O vento golpeava o Camaro.
A chuva açoitava o para-brisa.
Eu não sabia como a tia Sally  conseguia ver alguma coisa, mas ela mantinha o pé no acelerador.
A cada segundo um raio cortava a estrada na nossa frente , e eu tentava não estremecer de susto, Percy parecia ter esquecido de como pensar, seu cérebro ainda devia estar pesando em as "não calças" de Grover.
Mais ele pareceu voltar a realidade, e disse para ele:
- Então, você e minha mãe... se conhecem?
Eu dei uma risadinha.
- Sério Percy, essa é sua pergunta?
Imaginei que ele devia estar achando que é um sonho esquisito, ou coisa assim, igual a mim.
Ele  me olhou , e depois pegou no meu cabelo parecendo encabulado.
- Max, que é isso? Parece sangue...
Afastei sua mão,porque até de passar a mão assim, minha cabeça ainda latejava.
- É uma longa história.Uma hora eu te conto.
Os olhos de Grover moveram-se rapidamente para o espelho retrovisor, embora não houvesse carro nenhum atrás de nós.
- Não exatamente – disse ele– Quer dizer, nunca nos encontramos pessoalmente. Mas ela sabia que eu
estava observando vocês.
- Observando, a mim?
- Estava de olho em você. Cuidando que estivesse bem.
- Grover, desse jeito parece que se aproximar da gente era uma obrigação sua.-eu disse erguendo uma sobrancelha pra ele.
Grover negou parecendo assustado.
- NÃO! Eu não estava fingindo ser amigo de vocês dois –acrescentou apressadamente. –Vocês foram os únicos lá em Yancy que foram legais comigo. Nós somos realmente amigos.
Isso era bom de se escutar.
Enquanto isso, Percy estava sendo um pouco insensível.
- Ahn... o que é você, exatamente?
- Isso não importa neste momento.
- Não importa? Da cintura para baixo, o meu melhor amigo é um burro...
- Percy!! Ele não é um burro!- eu disse
- Mas se parece com um.-ele retrucou.
Grover soltou um som agudo e gutural:
- Bééééé!
- Bode! - Eu disse
- O quê?
- Ele é um bode da cintura para baixo.
- Mas Grover tinha acabado de dizer  que isso não importa.
- Béééé! Alguns sátiros poderiam pisotear você Percy, por causa de tamanho insulto!
- Opa. Espere. Sátiros. Você quer dizer como... os mitos do sr. Brunner?
- Aquelas velhas na banca de frutas eram um mito, Percy? A sra. Dodds era um mito?
- Pera ae, a Sr Dodds? Ela existe mesmo?-perguntei.
Percy se virou pra mim indignado.
- Achou o que Max? Que eu tinha ficado maluco?
- Obviamente!- respondi
Ele se virou pra Grover ainda aborrecido.
- Então você admite que havia uma Sra. Dodds!
- É claro.
- Então por que...
-O  de menos que  vocês  soubessem, menos monstros atrairiaram - disse Grover, como se aquilo fosse perfeitamente óbvio. - Nós pusemos a Névoa diante dos olhos humanos. Tínhamos esperanças de que
você achasse que a Benevolente era uma alucinação. Mas não adiantou. Achei que Max poderia perceber e ser um problema,mas ela acreditou que havia uma Sra.Kerr.
- Ser um problema?? Sério, o que eu sou pra você? Seu novo bixinho?
- Olha Max você poderia ser um risco,  acabar com nosso plano, apenas se lembrando da Sra.Dodds.
- Ser um risco?!!!
Eu tava começando a ficar nervosa, com Grover que só falava coisas estúpidas, de Percy por ser lerdo, e até de sei lá quem os responsáveis por essa horrível tempestade.
Ele abanou a mão como se isso não fosse importante.
- Enfim...Você começou a perceber quem você é.- ele disse pra Percy.
Ele como sempre estava tentando entender a situação, falava algo,mas eu sabia que isso já não ia da em nada.
- Quem eu... espere um minuto, o que você quer dizer?
O estranho rugido ergueu-se novamente em algum lugar atrás de nós, mais perto do que antes. O que quer que estivesse nos perseguindo ainda estava na nossa cola, logo depois ouvimos algo em cima do carro como se fossem garras, com certeza deu um belo estrago na lataria, Sally desviou depressa, e acelerou o carro, os garotos deram um grito,  eu me segurei nos bancos da frente.
- Percy - disse Sally- Há muito a explicar e não temos tempo suficiente. Precisamos pôr você e Max  em segurança.
- Em segurança como?
- Isso Percy, finalmente fez uma pergunta interessante.
Ele  me lançou um olhar muito ruim.
-E quem está atrás de nós?-completei
- Ah, nada demais - disse Grover, obviamente ainda ofendido com o comentário sobre o burro que Percy fez. - Apenas o Senhor dos Mortos e alguns dos seus asseclas mais sedentos de sangue.
- O senhor dos mortos? Você tá dizendo que HADES,apenas um dos deuses mais poderosos da mitologia está na nossa  cola?-disse eu
Comecei a me desesperar, Percy pareceu entender um pouco da gravidade da situação.
- Isso é alguma brincadeira de mal gosto,cara?-disse Percy
- Grover!
- Desculpe sra. Jackson. Poderia dirigir mais depressa, por favor?
Sally  fez uma curva fechada para a esquerda. Desviamos para uma estrada mais estreita, passando
com velocidade por casas de fazendas às escuras, colinas cobertas de árvores e placas que diziam :
COLHA SEUS PRÓPRIOS MORANGOS
Sobre cercas brancas.
- Aonde estamos indo?-Percy perguntou.
Segurei a resposta que tinha na ponta da língua, e fiquei calada, queria que ele morresse de curiosidade um pouquinho.
- Para o acampamento de verão de que falei. -Sally estava nervosa, mas parecia estar aguentando as pontas por bem maior.
- O lugar para onde seu pai queria mandá-lo.
- O lugar para onde você não queria que eu fosse.
- Por favor, querido - implorou ela. - Isso já é bem difícil. Tente entender. Você está em perigo.
- Porque umas velhas senhoras cortaram um fio de lã.
- Talvez sejam mais que velhas senhoras.-eu disse
Ele se virou pra mim e perguntou:
- O que quer dizer?
- Quer dizer que aquilo não eram mesmo velhas senhoras - disse Grover. - Eram as Parcas. Você sabe o que significa... o fato de
elas aparecerem na frente de vocês? Elas só fazem isso quando vocês estam prestes a... quando alguém está prestes a morrer.
- Epa! Você disse vocês!
Eu disse assustada porque logo depois que vi as velhas,minha boca se encheu de sangue.
- Não, eu não disse. Eu disse, alguém.
- Você quis dizer vocês. Ou seja, nós-Percy falou apontando pra nós dois.
- Eu quis dizer vocês como quem diz alguém. Não vocês dois bobocas, mas você, ou  qualquer um.
- Pessoal!! - disse Sally
Ela puxou o volante com força para a direita e eu tive um vislumbre de um vulto do qual ela se desviara uma forma escura e ondulada, agora perdida na tempestade atrás de nós.
- O que foi aquilo?- Percy perguntou.
- Algo terrível que quer nos matar! - disse eu com convicção.
Ele me lançou mais um olhar irritado.
- Como você é pessimista!
- Não, eu sou realista! É diferente.
-Estamos quase lá - disse Sally  ignorando a nossa discussão.- Mais um quilômetro e meio. Por favor. Por favor. Por favor.
Eu não sabia onde, porém me vi inclinando-me para a frente na expectativa, querendo que
chegássemos logo.
Do lado de fora, nada além de chuva e escuridão, o tipo de campos vazios que a gente vê quando vai
para o extremo de Long Island.
Pensei na na moça doida que enfrentei, suas mãos pareciam com garras e seu pé com o de uma galinha.Ela realmente não era humana. E pretendia me matar.
De repente,os cabelos de minha nunca se arrepiaram. Houve um clarão ofuscante, e BUM!!
De fazer bater o queixo, e o carro capotou muitas vezes até parar, não contei exatamente quantas por causa do meu estado crítico.
Lembro-me de ter me sentido sem peso, como se estivesse sendo esmagada, frita e lavada com uma
mangueira, tudo ao mesmo tempo.
Levantei minha cabeça e senti algo descer dela, encostei a mão lá e grunhi de dor, parecia ter um corte enorme. Não olhei pra ver se alguém tinha desmaiado mais ouvi Percy dizer:
- Ai.
- Percy! - Sally.
- Estou bem...
Tentei sair do carro a porta estava travada. Percebi que  tínhamos caído em uma vala. As portas do lado do motorista estavam enfiadas na lama. O teto se abrira como uma casca de ovo e a chuva se derramava para dentro.
Um raio. Era a única explicação.
Tínhamos voado pelos ares, para fora da estrada. Ao meu lado no assento traseiro Grover tinha desmaiado.
- Grover!- gritei mais ele não respondeu.
Ele estava caído de lado, com sangue escorrendo do canto da boca. Sacudi seu quadril peludo.
Então ele gemeu:
- Comida - e me dei por satisfeita, ele não tinha morrido, por enquanto.
- Percy, Max!- disse Sally -Temos de... - Ela titubeou.
Olhei para trás. Num clarão de relâmpago, através do pára-brisa traseiro salpicado de lama, vi um vulto andando pesadamente na nossa direção no acostamento da estrada. Aquela visão fez minha pele formigar. Era a silhueta de um sujeito enorme, como um jogador de futebol americano.
Parecia estar segurando uma manta por cima da cabeça. A metade superior dele era volumosa e indistinta.
As mãos erguidas davam a impressão de que ele tinha chifres.
Engoli em seco.
- Quem é...
- Max, Percy. - disse Sally  extremamente séria. - Saiam do carro.
Ela se jogou contra a porta do lado do motorista. Estava emperrada na lama. Tentei a minha. Emperrada também. Desesperadamente, ergui os olhos para o buraco no teto. Poderia ser uma saída, mas as bordas
estavam chiando e  fumegando, poderíamos nos cortar nas extremidades também.
Saiam pelo lado do passageiro! - disse Sally. - Vocês tem que correr. Estam vendo aquela árvore grande?
- O quê?- Percy perguntou.
Outro clarão de relâmpago e pelo buraco fumegante no teto eu vi a arvore a que ela se referia: um enorme pinheiro, do tamanho de uma arvore de Natal da Casa Branca, no topo da colina mais próxima.
- Aquele é o limite da propriedade - continou ela- Passem daquela colina verá uma grande casa de fazenda no fundo do vale. Corram e não olhem para trás. Gritem por ajuda. Não pare enquanto não chegar à porta.
- Mamãe, você também vem.-disse Percy.
O rosto dela estava pálido, os olhos tristes, aquilo não estava certo,  não íamos deixar ela, nem ninguém para trás.
- Não! - gritou Percy- Você vem comigo. Max! Me ajude a carregar o Grover.
Eu segurei de um lado e Percy do outro.
- Comida! - gemeu Grover, um pouco mais alto.
Conseguimos colocar ele em cima de uma pedra grande, Percy estava ofegante do meu lado e Sally olhava para o vulto grande assustada.
A coisa  com a manta na cabeça continuou indo em nossa direção, grunhindo e bufando.
Eu sabia algumas coisas sobre a mitologia grega e reconheci o mostro.
O minotauro claro, mais ele devia estar morto, a muitos anos, desde quando Teseu o matou no labirinto pra ser mais exata.
- Ele não quer Grover nem eu. - disse Sally  - Ele quer vocês. Além disso, não posso ultrapassar o limite da
propriedade.
- Porque? - perguntei
- Não temos tempo, querida ,vão. Por favor.
Antes que eu respondesse senti algo nas minhas costas, que parecia estar perfurando minha pele.
  Soltei um berro alto e me virei, olhando pra trás horrorizada notei que era a moça doida galinha, a sua irmã no caso, porque a outra tinha virado pó.
- MAX!! - Percy gritou.
- Corra Max!! Agora!-Sally gritou pra mim
Eu não pensei em mais nada e saí correndo mata a dentro.
Pensei no minotauro que Percy e Sally estavam enfrentando mais logo tirei isso da cabeça, tinha que me concentrar em ficar viva, eu iria voltar pra eles, sei que sim .
Aquela galinha iria me furar, de novo,  se eu não ficasse esperta.
- Achou que poderia escapar de mim?! A idiota da minha irmã pode ter caído em seu papinho semideusa!!
- Mas eu não! Você morre hoje.
Ela acelerou seus passos mais eles não pareciam fazer barulho pelo chão, então eu olhei pra cima, percebi que ela voava, e agora mergulhava em minha direção.
Errando suas garras por pouco.
Me escorei atrás de uma árvore, com a respiração acelerada, ouvi ela rindo atrás de mim, imaginei que pra ela, isso de algum modo era diversão.
Eu vi ela se aproximando e fiquei com raiva, estava cansada de fugir o tempo todo, de ter medo, eu já estava cansada dessa merda de meio sangue,e tinha o pressentimento que ela nem tinha começado.
- Cadê você garotinha? Venha para mim, isso será menos doloroso,eu prometo!
De algum modo eu sabia o que fazer, peguei meu colar do meu pescoço e o tirei, a espada se esticou na minha mão, pela luz da noite, sua cor ficava com um ar lindo e   sobrenatural.
- Vai se danar sua galinha!!
Berrei quando ela estava perto e  fui com a espada pra cima dela, era pra a ter cortado em cheio, mais ela conseguiu desviar e esticou as garras em direção ao meu rosto.
Eu levei o braço para me proteger e ele foi rasgado, com três unhas gigantes da velha, por causa da dor deixei a espada cair, a galinha a chutou longe e me prensou contra uma árvore.
Ela levou um de seus dedos até meu rosto onde tinha o sangue, passou seu dedo ali e depois o colocou na boca, meu estômago se revirou, era agora que ela cortava minha garganta de vez.
- Tão doce...- sussurrou ela.
Consegui dar um soco em seu estômago, antes de me preparar pra dar outro ela me jogou no chão, e suas mãos se fecharam na minha garganta, as unhas gigantes que ela tinha, entrando na minha pele, ardendo como se tivessem jogado brasa.
Consegui avistar minha espada do outro lado, estiquei minha mão mais ela estava longe de mais.
De repente, não sei como, senti a mesma carga de energia, igual mais cedo, e ela foi parar em minha mão, assim que a peguei enfiei bem no coração da velha seus olhos congelaram e ela parou de apertar meu pescoço.
- Você e sua irmã nojenta, conseguem ser mais chatas que a minha!
Enfiei mais a espada e ela transformou-se em pó na minha frente.
Me levantei,minha cabeça girando pra todos os lados, ouvia de longe bufos parecidos com os de um animal, arragalei os olhos.
- Percy!
E sai correndo na mata atrás dos barulhos.
Assim que cheguei, vi que Grover ainda estava desmaiado, Sally tinha sumido, não tinha mais monstro e Percy estava com um chifre na mão.
Ele olhou pra mim e seus olhos se encheram de lágrimas.
- Percy!!
Corri pra ele e o abracei com força, ele me abraçou de volta afundando a cabeça em meu ombro.
- Max... Você tá bem?!
Lhe dei um sorriso fraco, eu não chamaria aquilo de bem, estava com cortes por todo o corpo e tonta, mas respondi:
- Já estive melhor.-olhei ao redor e perguntei:
- Cadê a tia Sally?
Ele olhou pra mim de novo, vi lágrimas saindo dos seus olhos e entendi de cara, lhe dei mais um abraço gigante, me afastei pra limpar suas lágrimas e disse:
- Vem, temos que  seguir o caminho que ela disse, me ajude com Grover.
A chuva já tinha parado,mais ainda tinham relâmpagos pelo céu, carregamos Grover pelo matagal a fora, sentia minha garganta se fechar e cair algumas lágrimas pelo meu rosto, Sally era uma mulher incrível, não merecia um final assim.
Chegamos em uma varanda de madeira, tinha  um ventilador de teto que girava acima de nós,mariposas voando em volta de uma luz amarela, e as expressões austeras e familiares de um homem barbudo e uma menina com cabelos loiros encaracolados, bonita, mais com cara de metida.
Os dois olharam para nós, vi Percy desmaiar no chão do meu lado.
- Vocês podem nos ajudar?-perguntei
Não conseguia ver seus rostos direito, minha cabeça doía como nunca.
Eles me ignoraram, olhavam para eu e Percy, que estava no chão, como se fossemos bilhetes de loteria.
Por fim o cansaço me  abateu, e eu ia cair de cara no chão mais a menina me segurou.
- É um dos dois. Tem de ser.
- Silêncio, Annabeth - disse o homem.- Eles agora estão inconscientes. Traga-os para dentro.

Maxine Mayfield - O ladrão de raios Onde histórias criam vida. Descubra agora