Estávamos em uma festa social, que eu odiava com todas as minhas forças só pra deixar bem claro.
Era noite e as janelas estavam todas abertas por causa do calor da famosa Califórnia, o vento balançando o forro das mesas devagar e eu daria o meu skate só pra estar lá fora, mas em vez disso, estou com a Mary, uma mulher gentil e amorosa, que tinha 40 anos de pura elegância.
Tinha aquele olhar de "não seje estúpida o suficiente para fazer isso", eu a amo muito, mas as vezes ela podia ser bem insistente.
Estávamos em pé conversando com uma de suas amigas, quando ela finamente foi embora quase soltei um suspiro de alívio, só que tinha mais um problema,estava vindo a Tery. Uma "amiga" horrível de Mary ,e sua filha Kate, uma loirinha insuportável. Eu já tinha colado chiclete em seu cabelo no semestre passado, ela não deve ter ficado muito feliz com o incidente e me enche desde então.
Rodei meu olhar pela sala e lá estava o Anthony fazendo uma careta pra mim e rindo do meu desespero, ele só tem 8 anos, mais isso não muda o fato de que as vezes queria socá-lo na cara.
É meu irmão, mais ainda é um idiota. Fiz uma cara feia pra ele e olhei para o lado, conversando animado com as pessoas em sua mesa estava meu pai.
O grande Robert Mayfield era um homem muito ocupado, dono de uma empresa de carros que era muito famosa,está expandindo cada vez mais, ele conseguiu abrir uma lá em Nova York (assunto para outra hora), é um bom pai, e tentava tirar um tempo pra nós, mas... As vezes não se pode ter tudo não é?
Tery chegou com seu sorriso mais falso que suas lentes no dente, ela seria bonita eu acho, se não fosse pelo tanto de plástica que coloca.
-Mary querida! Tudo bem ? A quanto tempo não a vejo. E essa mocinha linda??
Ela falou tudo isso devagar como se estivesse debochando,Mary à respondeu elegantemente como sempre fazia com todo mundo. Quando foi falar comigo tentei sorrir e parecer educada, mais ela apertou minhas bochechas e quis dar um tapa forte na sua mão para tirar ela dali, talvez isso não fosse muito educado. Olhei pra ela, que de repente pareceu se lembrar que tinha uma filha ao lado.
- Ah Mary como essas meninas estão crescidas, Max estudou com você no semestre passado, não se lembra querida?
Ela tocou no seu cabelo loiro que antes grande,agora estava no ombro, me olhou como se quisesse dar um soco e devolvi o olhar, se ela viesse seria ótimo,essa festa já tava cansativa mesmo.
- Por que você se veste assim?
Kate perguntou me olhando de cima a baixo como seu eu fosse um bixo de 7 cabeças.
Que pena que eu não tenho outro chiclete aqui, talvez se eu colasse direto na cabeça ela aprenderia uma lição.
-Assim como meu bem?
Mary deve ter visto que eu não estava de bom humor e chamou a atenção de Kate pra ela.
-Como se estivesse indo a um funeral.
A loira insistiu,e eu estava prestes a falar algo bem depravado quando Mary interviu sorrindo pra Kate.
- Bobagem querida, eu mesmo escolhi o seu visual.
Isso era mentira, eu havia preparado tudo, do vestido preto até o All Star da mesma cor,mais claro que eu não iria contradizer ela.
Todo mundo achava que ela era minha mãe de verdade,e alguns estranhavam pelo fato de eu não chama-la assim ,eu sempre a via como uma tia ou 2° mãe.
A minha mãe de verdade me deixou com meu pai quando eu era bem bebê, não me lembro dela,e tento não pensar muito pra não me chatear, é melhor assim pra todo mundo.
-Sabe Kate, Max está na idade que só pensa em uma coisa.
Kate me olhou estranho e a senhora dentes cegantes se abaixou pra falar comigo,e disse numa voz bem sebosa:
-Garotos!!
-Homicídio.
Falei olhando bem no fundo dos seus olhos castanhos,dando um sorriso.
Seu sorriso cegante se desmanchou,ela olhou pra mim como seu eu tivesse acabado de dizer que o cabelo da sua filha era um ótimo lugar pra se pregar chicletes, parecia um pouco abismada.
- Depois eu te ligo pra colocarmos o papo em dia,até mais Mary.
- Até Tery, depois conversamos é claro.
Ela esperou que a sebosa estivesse longe pra pegar meu braço com um pouco de força.
-Sério Max, você não tem jeito, não pode ficar um minuto sem falar besteira?
-Você viu como Kate me olhou?Eu só não disse mais porque você estava perto.
- Eu sei bem disso, vou chamar a Cindy pra vocês tomarem um ar.
Ela me levou até uma garota que estava com Erik Verman, um play boy metido, estavam trocando sorrisos cafonas até me verem chegar.
-Verman,poderia nos dar licença meu bem?
-Claro senhora Mayfield.
Ele olhou pra Cindy, piscou e saiu andando.
Ugh!! Que nojo, quis por tudo pra fora mais me segurei.
Cindy olhou pra mim com raiva, o que ela fazia desde que eu tinha uns 9 anos.
- Mãe!! Não acredito que você vai fazer essa fedellha estúpida estragar minha noite!
-A fedellha estúpida está bem na sua frente, por que você não repete isso mais perto dela?
-Hey vocês duas,tenham classe! Vão para fora e Cindy, creio que o que aconteceu nessa noite entre você e Erik é suficiente.
Christine Mayfield, minha estúpida irmã mais velha, a senhora perfeitinha, sempre educada e boazinha com todo mundo mundo, menos comigo é claro.
Ela parece me odiar pra valer e obviamente não é só aquela implicância normal entre irmãos.
Ela também não era filha de Mary mais a chamava de mãe, a sua verdadeira á abandonou igual a minha.
Tirando a aparência, acho que isso é a única coisa que temos em comum, não fomos suficientemente interessantes para que nossas mães quisessem ficar conosco.
Quando me toquei,Mary já tinha ido sentar na mesa com meu pai.
Percebi que tinha alguém estralando os dedos na minha frente, era Cindy.
-Hey! Vai ficar olhando pro nada que nem uma trouxa ou vai me seguir até lá fora? É melhor a gente ir logo antes que a mamãe venha encher meu saco.
E saiu pisando duro até lá fora, resolvi seguir,por mais que a ideia não seje mais tão animadora. Cheguei lá e ela tava se escorando na bancada com um cigarro na boca, que ela tirou não sei de onde, talvez eu nem quisesse saber de qualquer jeito.
-Você é um peso pra mim tem ideia disso? Eu estava tendo uma noite incrível com o Erik e...
- Eu não quero saber o que você estava fazendo Cindy, não quero estar aqui tanto quanto você. Por que está insistindo em falar comigo?
Me virei pra ela, aproximei devagar e falei:
- Se eu sou um peso pra você, seria mais fácil se fingisse que não me conhece, e que não somos irmãs. Mas em vez disso quando estamos na frente dos outros você me abraça, e sorri pra mim como se tudo estivesse certo, só que é falso, como tudo em você ultimamente.
Estávamos cara a cara,azul no azul, eu vi seus olhos lacrimejarem, ela sempre foi a mais sensível de nós duas e em quase todas as brigas eu tinha o horrível dom de fazer ela chorar.
Me afastei depressa não suportando mais ver aquilo, ela jogou o cigarro fora depois de um tempo pra falar:
- Tá sabendo da novidade?
Olhei pra ela sem acreditar, ela era bipolar ou o que?
- Ah?
- O que o papai me disse, que está pensando em se mudar .
- Disso eu já sabia.
- Sabia também que ele só esta esperando na segunda pra ir na escola ver se você não foi reprovada? E é claro,o telefonema de Nova York pra ver se dá certo.
Chegou perto do meu ouvido e falou baixinho:
- E é por isso que eu queria curtir mais com o Erik essa noite, talvez seje a última vez que o vejo. Mas você tinha que dar um jeito de atrapalhar isso também, como todas as outras vezes . Você é uma piralha mimada e egoísta, que faz de tudo pra chamar a atenção do papai!
Como eu queria dar um soco no seu rosto nesse momento, felizmente eu não o fiz.
Meu pai teria ficado uma fera.
Ela foi pra porta para voltar lá dentro, não antes de parar, e falar a última coisa que falaria pra mim em um bom tempo.
- Você vem pra dentro em 15 minutos ou eu faço a mamãe vim te buscar.
Meus dedos apertavam a bancada com força os deixando brancos,minha respiração tava acelerada, isso não podia estar acontecendo.
Califórnia era o meu lugar, ali eu me sentia eu mesma, andando com meu skate, jogando dig dug ,e comendo bala fine até me empanturrar.
Me sentia feliz, segura,não podia deixar tudo isso pra trás, nunca tive amigos ou amigas, não tive coragem de deixar ninguém se aproximar o suficiente pra isso.
Achei que meu pai não iria se mudar mesmo, essa ideia já era velha, faz anos que pensa em fazer isso, mas parece que ele finalmente vai levar essa ideia pra frente.
A segunda chegou e com ela o meu matinal mal humor, no carro com papai no volante, Cindy ao seu lado, eu e Anthony atrás, as coisa estavam um pouco tensas.
Talvez pelo fato de Cindy me olhar como se fosse me estrangular viva, ou Anthony com muita expectativa,( eu tinha prometido ao piralho de avisá-lo primeiro se a gente fosse mesmo embora).
- Até mais crianças, boa aula!
- Boa aula... Não sei pra quem.- Cindy murmurou,e foi na frente resmungando.
Anthony só acenou levemente com a mão,e me lançou mais um olhar antes de entrar na escola.
Parei pra esperar já que ele ia comigo até a diretoria,o encarei e percebi como ele tava feliz demais,pra ir saber se a filha tinha sido reprovada. Estranhei, mais andei em silêncio ao seu lado pela escola, com todos me olhando como se estivesse cometido um crime talvez esperassem que eu fosse expulsa ou algo assim,grande piada.
"Toc, toc"
-Senhora Olívia? Sou eu senhor Mayfield, podemos entrar?
Minhas mãos começaram a suar de nervosismo,senti que estava tensa demais.
Ouviu -se um "entre" abafado, meu pai sorriu, apertou meu ombro e me puxou pra dentro.
-Bom dia senhor Mayfield, Max.
Ela abaixou o óculos que usava, tinha uma cara larga, postura rígida e era bem irritante.
- Bom dia diretora, como combinamos quero ver o histórico da Max por favor.
-Claro senhor,creio que não é dos melhores.
O papel foi passado para meu pai, que lia tudo com a testa franzida, enquanto isso a diretora desabestou a falar.
- Ela socou o rosto de um aluno...
- Que tentou pegar meu braço sem a minha vontade!
Sem perceber lá estava eu,retrucando a cada frase que saía da boca dela.
-Colou chiclete no cabelo da colega...
- Que teve a audácia de falar que skate era só pra garotos!
-Colocou Coca-Cola e mentos pra explodir na cara de uma professora...
-Isso não foi por querer ,e ela me deixou sem grupo só porque descordei dela na frente da classe!
-Além de não prestar atenção nas aulas...
- Eu tenho TDH, senhora.
-Não parar quieta...
- Sou hiperativa também,obrigada.
-E de não respeitar os mais velhos enquanto eles estiverem falando!!
- O que é extremamente irritante de ouvir por sinal.
Essa frase saiu sem pensar, eu vi como se tivesse em câmera lenta seus olhos se arregalarem pra mim.
Ia falar alguma coisa mais meu pai, que estava assistindo tudo como se fosse um belo jogo de pingue pongue pediu licença pra ela e me puxou pra um canto.
-Max!Olha, por mais que eu não esteje surpreso com tudo isso e um pouco desapontado também. Conversaremos sobre isso, mas tenho algo pra te contar agora.
" Conversaremos sobre isso"? Sério? Talvez se essa conversa fosse realmente sobre diálogos e não sobre tirar algo que eu goste, funcionasse.
Ele virou o papel pra mim e em cima da minha foto que tirei pro anuário, tava escrito com todas as letras em vermelho: EXPULSA.
- Eu recebi a ligação hoje de manhã filha,amanhã iremos pra Nova York!
Ele falou tudo isso muito rápido como quando ficava animado, quase não entendo o que ele disse, fiquei estática por alguns segundos pra depois soltar algo como:
-Sinto muito pai...Tenho que ir falar com o Anthony.
E sai apressada da diretoria.
Andando pelos corredores pensei sobre a ideia,eu vou sair daqui pela 1° vez, conhecer pessoas novas, lugares, novos,talvez tenha alguma loja que tenha dig dug por lá, não é o fim do mundo repeti pra mim mesma,olhei pra porta na minha frente A-12.
Apareci na porta, aproveitei que a professora tava de costas, e esperei o bobão olhar pra mim e fiz um sinal,me encostei na parede e esperei. Pareceu horas, mas não passou de 1 minuto, escutei ele pedindo pra ir no banheiro, assim que saiu, o puxei para o refeitório.
- O que deu,Max?
- Eu fui expulsa, papai recebeu a ligação, e nós vamos pra Nova York.
Ele suspirou e me abraçou,acabei ficando surpresa, não era essa a reação que eu esperava.
-Você...Você não tá bravo?Querendo me empurrar da escada ou algo assim ?
-Não!!
Ele riu o que fez com que seus olhos quase fecharem,uma das coisas que eu mais acho fofo nele ( não o conte que disse isso).
- Por que eu estaria bravo? Talvez lá eu encontre amigos mais espertos que os daqui.
Falou revirando os olhos, tive que sorrir com isso, as vezes acreditava que ele era bonzinho demais para ser meu irmão.
Não dá para negar que ele é um Mayfield.
Na terça às 12:00 já estávamos na estrada, meu pai e Mary cantando JIM CROCE-you don't mess arrroud with Jim, a música era incrível, Anthony tentava acompanhar aos tropeços, não pude deixar de dar boas gargalhadas com aquilo,no canto Cindy estava chorando com uma foto dela e de Erik na mão, tão patética!
Ela troca de namorado mais rápido que Mary troca de bolsa.
Estávamos saindo de Los Angeles e indo pra Manhattan em Nova York, temos 4.5031km e 42h de carro no mínimo, fiz essa conta de cabeça e percebi que talvez estivesse ficando obcecada com números igual meu irmão.
Ouvi Cindy soluçar,os 3 tentarem fazer os efeitos sonoros da música e sorri.
Essa seria uma viagem muito longa.
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Maxine Mayfield - O ladrão de raios
FantasíaMax sempre morou na Califórnia ,mas uma visita na diretoria com seu pai faz a sua vida mudar completamente. Tendo que ir para Nova York ela encontra Percy Jackson, a primeira pessoa que ela vai conversar nessa cidade esquisita, juntos eles enfrent...