Nanami 10

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Nanami estava sentado na tampa do vaso sanitário, de cabeça baixa, na pia ao seu lado estava o teste de gravidez que S/n havia lhe empurrado no peito antes de sair. Ele teria que contar, não tinha mais como fugir disso, teria que contar tudo.

Para qualquer outra pessoa olhando isso de longe, é bem claro que tudo isso deveria ter sido esclarecido no início, assim que os sentimentos começaram a surgir, mas foi tudo tão rápido, todo dia ela dizia pra si mesmo que deveria contar, falar sobre a parte da sua vida que ocultou todos esses meses, e todo dia ele sentia que não era o dia certo. Então foi assim que aconteceu, sempre amanhã, nunca hoje, e nada munca foi dito. Agora ele teria um filho, e a mãe dele nem se quer sabe onde se meteu, não faz ideia em que tipo de mundo aquela criança cresceria e o tipo de coisa que ela veria, S/n nem teve a chance de escolher se queria fazer parte disso pra início de conversa.

Quando a porta do banheiro bateu, em um baque cauteloso, S/n sabia que Nanami caminhava em sua direção. Não o olhou, encarou suas unhas como se suas cutículas fossem muito mais interessantes do que sua caminhada até a cama.

— Não pensei que você fosse odiar tanto — ela diz — nenhum de nos planejou isso, mas somos dois adultos transando a meses, assumimos esse risco desde a primeira vez, por mais surpreendente e assustador que fosse, eu não achei que você odiaria tanto.

Depois disso não houve mais nada, só silêncio, ela não tinha muita coisa pra falar também, principalmente se ele não dizia nada. Nanami sabia que precisava dizer algo, e tinha uma coisa especificamente que precisava ser dita, ele sabia qual era.

— Como isso aconteceu? — mas ele disse a coisa errada.

— Como?

S/n parou de cutucar as cutículas e o encarou incrédula. De tudo que ele podia falar, era isso que ele tinha a dizer?

— Você estava tomando o anticoncepcional direito?

— É isso que você vai fazer?

— O que eu estou fazendo?

— Colocando a culpa em mim.

— Apenas me diga se o tomou corretamente — as palavras continuavam saltando de sua boca e ele não sabia como as impedir.

Nanami não se lembrava da última vez em que agiu como um completo idiota, ele sempre foi razoável, nunca foi um dos mais bem humorados mas ele era um homem adulto responsável, nem mesmo durante sua adolescência ele havia agido de forma tão covarde.

— Eu não acredito nisso — suspira exasperada.

— Apenas..

— Sim! — gritou — eu as tomei corretamente, Nanami, eu tomei as malditas pílulas em todos os malditos dias na porcaria da hora certa, todos eles, todos, feliz?

— certo.

Ele baixou a cabeça e encarou os pés, estava envergonhado do que havia feito, em todas a sua vida nunca tinha se sentindo tão estúpido, não havia algo pra justificar sua atitude.

Não importava as suas intenções, S/n estava magoada, e com razão, o silêncio dele só piorou tudo. Ela saiu batendo a porta, ele pode ouvir a porta da frente batendo não muito depois. Teve um tempo de sua vida que Nanami ansiava por um amor, mas era difícil amar e ser amado quando não se sabia se estaria vivo no dia seguinte, com o passar dos anos ele apenas decidiu que isso não era pra ele. Agora ele amava e era amado, mas estragou tudo na primeira oportunidade, tudo por que não queria abrir mão do mundinho que ele construiu em volta dessa relação. Existia o mundo real onde Kento batalhava contra seres amaldiçoados e que todo dia poderia ser o último, e existia o mundo dentro das paredes dessa casa, onde ele tinha um abraço quente pra dormir e beijos molhados que lhe davam vida, contar a verdade para S/n significava trazer ela para o outro mundo e destruir o conto de fadas que haviam criado juntos. Não existiria mais um lugar pra fugir quando as coisas ficassem difíceis, apenas a dura realidade. Quando ele se tornou tão miserável?

Imagine, Nanami!Onde histórias criam vida. Descubra agora