– Se saiu melhor do que nas outras vezes. – Rafaella disse rindo enquanto Gizelly olhava emburrada para a corda em que tentara subir mais uma vez. Fazia vários dias desde que Manu lhes havia feito uma visita.
– Obrigada por jogar na minha cara que continuo ruim. – Gizelly disse cruzando os braços e fazendo um bico adorável.
– Isso leva tempo, hm? Não seja impaciente. Ninguém aprende algo que leva tempo e prática em apenas algumas vezes treinando. – Rafaella disse, se jogando no chão ao sentir as gotas começarem a cair do céu. Estava abafado demais havia dias, finalmente a chuva lhe presenteou com sua unânime presença.
– Está chovendo, vamos entrar. – Gizelly pediu ao sentir as gotas tocarem sua pele.
– Não. Pode entrar você, eu gosto da chuva. – Rafaella disse parecendo nostálgica. Gizelly, por ser curiosa como sempre, apenas se deitou no chão ao lado de sua esposa e tocou-lhe a mão. Algum daqueles guardas poderia estar vendo e ela não queria complicar a vida de Rafaella, afinal de contas, a mesma só se casou com ela porque ela praticamente implorou.
– O que a chuva tem de tão especial? – Gizelly perguntou fitando o céu, agora nublado por um cinza escuro. Nuvens carregadas avisavam que choveria, no mínimo, umas boas horas. Rafaella a olhou antes de voltar a encarar o céu.
– Lembro de ter esses sonhos... Esses onde minha mãe aparecia em dias de chuva enquanto eu dormia. Sempre de madrugada e eu tinha por volta dos quatro anos quando sonhava, mas parecia tão real.
– Ela te dizia algo? – Gizelly perguntou.
– Ela cantava para mim. – Rafaella disse sorrindo genuinamente. – Só consigo lembrar dos olhos verdes, assim como os meus e de que eu perguntava por que ela não podia ficar comigo. – Falou. – Ela falava que sempre estaria comigo e eu dormia com seus carinhos e seu canto.
– Tem certeza de que... hm, de que isso foi sonho? – Gizelly perguntou e Rafaella forçou um lábio no outro.
– Não sei, mas prefiro pensar que sim. Eu não gosto de me iludir com sonhos. – Confessou e Gizelly apertou sua mão em forma de conforto.
– Apesar do que você sabe sobre ela...
– Gosto de pensar que ela é ou era uma mulher boa. – Rafaella a interrompeu e Gizelly assentiu. A mais velha não tirava conclusões precipitadas nem mesmo de alguém que diziam ser uma prostituta e isso surpreendeu Gizelly. Sua esposa era melhor do que ela imaginava.
– Pois bem, vamos tomar um banho e comer algo, não vou te deixar aí para ter uma gripe. – Gizelly disse se levantando e puxando Rafaella pela mão. Rafaella sorriu e apenas concordou, se levantando e tomando a mão de sua esposa entre a dela.
[...]
Os raios e trovões não deixavam Gizelly dormir naquela noite. Ela não era do tipo de pessoa que temia qualquer um dos dois, só estava realmente sem sono e não conseguia parar de pensar em Talles. Não era justo com Rafaella isso e nem com ela mesma, e por essa razão tentava pensar em outra coisa. Qualquer coisa, desde que essa coisa lhe fizesse esquecer de Talles, afinal, já levava um mês casada.
Sentiu o braço esquerdo de Rafaella ser jogado por cima dela e por um instante congelou no lugar. Pensava em se levantar e fechar as grandes cortinas, quem sabe assim os clarões dos raios não parassem de lhe tirar o sono? Mas, após o movimento de Rafaella, não teria como sair dali. Pensou duas vezes em acordar sua esposa, afinal ela parecia cansada, mas optou por acordar ela mesmo assim.
– Rafaella? – Disse suavemente, cutucando-lhe o braço. – Rafa? -- Insistiu ao ver que Rafaella não havia acordado.
– Hmm... – Respondeu ainda meio imersa no sono.
– Não consigo dormir. – Confessou temerosa de que Rafaella lhe xingaria por lhe acordar apenas por isso, porque... oras, o que Rafaella poderia fazer para ajudar em sua insônia? Mas, ao contrário do que pensava, os olhos verdes se abriram vagarosamente e seu braço, o qual estava por cima de Gizelly, puxou Gizelly contra seu peito. A menor prendeu a respiração pelo repentino gesto, mas tratou de relaxar ao sentir Rafaella acariciando seu couro cabeludo.
O cheiro natural da pele de sua esposa era suave e bom e estar nos braços de Rafaella fazia Gizelly se sentir segura e protegida, como se nenhum pensamento que não envolvesse Rafaella pudesse invadir a barreira que seu cérebro criara por estar ali.
Seus olhos começaram a fechar e percebeu que o sono finalmente estava chegando. O carinho de Rafaella alternava entre seu couro cabeludo e suas costas, até a altura de sua escápula. Sentia um leve arrepio cada vez que a mão de Rafaella acariciava suas costas e subia para sua cabeça, relando propositalmente sua nuca. Sentiu vontade de aplicar um beijo na região do pescoço de sua esposa, que cheirava tão bem e onde a pele era tão macia, mas se conteve e deixou apenas sua cabeça enfiada entre o vão do pescoço dela. Afinal, o que ela estava pensando? Beijar o pescoço de Rafaella soaria como uma provocação e Gizelly não via Rafaella com esses olhos. Nem de garotas ela sabia se gostava. Queria apenas inalar mais de perto e sentir o sabor da pele de Rafaella em seus lábios, mas não de uma maneira provocativa, senão curiosa. Tudo o que queria era...
Balançou a cabeça para espantar tais pensamentos. Pensar nisso só estava piorando as coisas, aumentando sua vontade e confundindo mais a garota.
– Obrigada. – Sussurrou. Pensou que Rafaella já tivesse dormido de novo por não obter nenhuma resposta imediata, mas devido ao carinho que ainda recebia constatou que não. Para se ajustar melhor na posição das duas, colocou sua perna direita entre o meio das pernas de Rafaella, não fazendo a mesma tocar a intimidade da outra menina, tratou de manter tal distância.
– De nada. – A voz rouca saiu baixa e meio falhada e Gizelly esperou Rafaella reclamar do que havia feito, mas parece que a posição havia deixado a ambas mais confortáveis, já que Rafaella não reclamou. Suspirou aliviada e alguns minutos depois caiu no sono, não havia resistido ao carinho de Rafaella.
Por outro lado, fora Rafaella quem perdera o sono. Sorria feito idiota e deu graças a Deus de estarem no escuro, assim não corria risco de Gizelly ver o quanto um simples abraço podia significar para ela. Ela tratava Gizelly com respeito, mas isso não significava que conseguia mandar no próprio coração.
E, bem, seu coração havia escolhido Gizelly antes mesmo de saber que se casariam, seu coração havia a escolhido meses atrás. Só esperava que aquele mesmo brilho nos olhos que sua esposa costumava ter antes voltasse, porque certamente Gizelly feliz era a melhor versão de Gizelly.
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A Rafa é tão boiola 🥰
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Over the Rainbow (Girafa)
FanfictionOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Gizelly, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Talles Gripp, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Márcia, deseja que a filha co...