Capítulo 47

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Aquela madrugada havia sido cálida, com a temperatura amena e agradável, no entanto o friozinho das cinco horas da manhã atingiu o quarto de Rafaella e Gizelly, fazendo a mais nova se encolher na cama, já que Rafaella não estava nela. A mais velha a olhou se aninhando em seu próprio corpo e suspirou, ignorando a vontade de abrigá-la em seus braços e voltou ao trabalho. A cada peça colocada dentro da mala preta a maior se via mais confusa. Como poderia estar indo contra seu instinto? Gizelly parecia tão sincera ao dizer que não havia lhe enganado.

Sentia o efeito do álcool desaparecendo conforme as horas iam passando e por fim colocou a última peça de Gizelly na bolsa, fechando o zíper da mesma e voltando a olhar para a menor. Se aproximou da cama e se permitiu admirar a beleza de Gizelly sem a presença de nenhuma maquiagem.

O nariz combinava com o formato de seu rosto e seus cílios. Sua boca rosada, o furinho no queixo era o toque final para aquela vista purificada de uma Gizelly ressonando pacificamente, com alguns fios de cabelos jogados sobre seu rosto. Quem a visse assim jamais diria que havia dormido entre soluços de um choro contido, enquanto abraçava sua esposa após uma foda intensa.

Rafaella entortou a boca ao lembrar do que Gizelly havia proposto e, apesar de ter aceitado, sabia que não importava o jeito ou as palavras usadas. Com Gizelly sempre faria amor; mesmo na agressividade de palavras de baixo calão; mesmo nos apertos intensos e excesso de sensualidade; mesmo preenchida de raiva e de dor; mesmo trepando, ainda assim faziam amor. Porque ela a amava, da forma mais pura e sincera que alguém poderia amar uma pessoa.

A pele bronzeada estava exposta e por isso Rafaella se inclinou, puxando o lençol mais para cima, tratando de cobrir sua esposa vagarosamente para não acordá-la. Suspirou ao lembrar de como havia conquistado Gizelly paulatinamente no passado e se questionou o fato de se realmente tinha realizado tal proeza.

Colocou um roupão felpudo no lugar de seu robe, afinal estava friozinho àquela hora da noite e vestiu suas pantufas, olhando mais uma vez para Gizelly antes de sair do quarto.

Desceu as escadas que davam na cozinha, ouvindo ainda o som da música vinda do salão principal. Aquele horário geralmente só sobrava ali os bêbados deprimidos e Rafaella pensou que poderia se encaixar bem nesse termo.

Adentrou a cozinha e dali pôde ouvir o barulho dos grilos que vinha do lado de fora. Sentiu um aperto no coração ao lembrar da risada de Gizelly sempre que comentava sobre como amava tal ruído.

Caminhou até o fogão e tomou um susto ao ouvir a voz conhecida ressoar no lugar.

– O que faz acordada a essa hora, minha filha? – Genilda perguntou, puxando uma cadeira e se sentando.

– Apenas... Acho que perdi o sono. – Rafaella disse sorrindo fraco para sua mãe. As olheiras e os olhos avermelhados fizeram Genilda perceber que sua filha havia chorado.

– O que houve, meu amor? – Genilda perguntou preocupada.

– Nada, mãe. O que faz aqui a essa hora? – Perguntou lhe encarando.

– Eu que limpo a bagunça, se lembra? -- Ela perguntou rindo. – Agora sente aqui e me conte o porquê de estar parecendo um pedaço de lixo ambulante. – Rafaella suspirou e caminhou até ela, se sentando ao seu lado.

– Acho que bebi demais. Vim tomar um pouco de café para ver se me ajuda a recobrar a completa sobriedade. – Disse sem ânimo evidente.

– Tudo bem, agora me conte o motivo de ter se embebedado. – Genilda disse segurando uma das mãos de sua filha e começou uma carícia confortante. Sabia que Rafaella não era do tipo que bebia até perder as botas.

– Gizelly nunca me amou de verdade. – Falou baixinho. – Mas qual a novidade, não é? Quem amaria? – Perguntou sentindo um nó se formar em sua garganta.

Over the Rainbow (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora