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Gizelly acordou no dia seguinte com batidas estrondosas na porta. Abriu um de seus olhos só para constatar que Rafaella se mexia inquieta na cama.
– Já vai. – Gizelly disse cobrindo sua esposa, que tinha suas costas inteiramente livres, com um lençol. Aplicou um beijo no rosto dela antes de se enrolar em seu robe, porque vestia apenas uma camisola curta e se dirigiu até a porta.
– Como ela está? – Bianca perguntou apavorada.
– Está bem. Eu passei pomada em seus hematomas ontem e, além do tiro, não tem nada fundo em seu corpo. Tudo superficial.
– Como sabe? – Bianca perguntou arqueando uma sobrancelha. – Ela te disse? Não sabia que estavam se falando de novo.
– Eu, hm, passei pomada no corpo dela ontem, por isso sei. – Bianca ergueu o pescoço, olhando por cima do ombro de Gizelly, vendo sua amiga dormindo como um bebê e coberta por um lençol.
– Eu tentei impedir, mas falhei. -- Bianca disse decepcionada consigo mesma.
– Hey, ela vai ficar bem. – Gizelly disse.
– O tiro foi superficial ou fundo? Ela já passou em um médico? – Gizelly suspirou antes de responder.
– Eu, hm, não sei. -- Confessou.
– O tiro foi superficial, passou de raspão e sim, ela já passou no médico da família antes de vir para cá para ele checar a ferida e se não tinha nada mais grave em seu corpo. – Jenna apareceu ali se intrometendo. – Ela já acordou?
– Ainda não. – Gizelly disse ríspida.
– Deixe-me vê-la. – Jenna ordenou em tom arrogante e Gizelly se segurou para não baixar de nível.
– Mais tarde. Agora minha esposa se encontra descansando.
– Vaza daqui que não quero gastar meu pingo de bom humor matinal com você, Satanás. – Bianca falou e Jenna revirou os olhos.
– Pois fique sabendo que depois eu volto. – Falou, saindo a passos pesados dali.
– Bianca? – A voz rouca de sono de Rafaella vinda dentro do cômodo fez ambas se virarem para ver Rafaella acordada. Gizelly correu para pegar sua camisa no mesmo lugar que havia deixado na noite passada e ajudá-la a vestir com cuidado. Os olhos de Bianca acompanhavam cada movimento, Rafaella não havia contado o porquê de estar magoada com Gizelly, mas Bianca esperava que voltassem a se falar logo.
– Bom dia, cabeçuda. Como se sente?
– Parece que mil tratores passaram por cima de mim. – Respondeu rindo, deixando Gizelly terminar de abotoar os botões de sua camisa.
– Eu não sabia como você estava, entrei em desespero. Desculpe vir atormentar tão cedo, eu só... precisava saber como você estava. – Falou e Bianca assentiu.
– Vou ficar bem, não se preocupe, mas obrigada por vir. – Falou calma.
– Imagina, vou poder comer as gostosuras da Rosália, então valeu a pena. – Brincou, logo reparando a tensão entre o olhar de Rafaella com Gizelly. – Eu... vou deixar vocês se trocarem. Lhes espero lá embaixo.
Gizelly e Rafaella acompanharam o corpo de Bianca se locomover e sumir do campo de vista quando encostou a porta. O silêncio que se instalou ali foi incômodo para ambas.
– Será que poderíamos conversar depois de comermos? – Gizelly perguntou sem jeito.
– Não temos nada para conversar.
– Temos sim. – Gizelly disse. – Preciso me desculpar. – Os olhos de Rafaella, que antes fitavam a janela, foram de encontro com os de Gizelly.
– Não precisa fazer isso. A gente pode se separar, se quiser. Ou continuar mantendo as aparências, o que para mim seria vantajoso, assim não teria que ficar explicando o porquê de ainda ser solteira aos vinte e dois anos. Enfim, mas não precisa pedir desculpas por dizer o que todos pensam.
– Eu não penso assim. – Se retratou rapidamente, segurando a mão de Rafaella que encarou os dedos de sua esposa sobre os dela e se viu confusa. Gizelly realmente não parecia ter nojo dela na noite passada, mas preferiu não pensar nisso. – Eu só estava chateada, Rafinha. Eu tentei te atingir de alguma forma, tentei fazer você se sentir como eu para experimentar a sensação, mas me perdoa. – Pediu com sinceridade. – Eu não tenho nojo de você e você é fantástica, qualquer uma se apaixonaria por você em um piscar de olhos. – Rafaella fitou por longos segundos os olhos de sua esposa, travando uma batalha interna consigo mesma.
– Posso ao menos saber quem é Talles? – Perguntou o que rondava sua mente havia dias. Gizelly abriu e fechou a boca várias vezes, mas não encontrou como explicar quem era ele. Como assim Rafaella não sabia quem era Talles?
– O homem que você e mamãe me fizeram crer ser casado com outra. – Rafaella bufou.
– Lá vem você com suas acusações. – Disse revirando os olhos. – Seja lá quem for ele, é um cara de sorte. - Disse se levantando e indo até suas roupas, pegar algo para vestir na parte de baixo, o short da noite passada era curto demais para andar pela casa e já nem o usava mesmo. Colocou com cuidado a peça enquanto Gizelly procurava um jeito de pôr em palavras o que se passava em sua mente.
– Você... – Começou, mordendo seu lábio inferior. – Você não ajudou minha mãe a tramar um plano me fazendo acreditar que o cara que eu namorava era casado só para que eu me casasse com você? – Perguntou ao ver que Rafaella não parecia entender do que ela estava falando.
– O único plano que fiz com sua mãe foi o de lhe prometer que te faria feliz. – Falou frustrada. – E de proibir a entrada de um cara que te perseguia... – Falando arregalando os olhos ao perceber que Márcia lhe havia enganado também.
– Por acaso esse homem que me perseguia se chamava Talles?
– Eu não sei. Pedi para sua mãe não me contar porque eu não sei o que faria com ele. Ela quem passou o nome para os guardas, mas provavelmente deve ser ele mesmo então. – Falou olhando para o chão por um longo tempo. – Desculpe arruinar seu namoro. – Finalmente disse em um murmúrio.
– Desculpe te acusar. – Gizelly disse se levantando. – Oh meu Deus, me desculpe. Eu falei coisas...
– Deixa. – Rafaella disse mordendo o interior da bochecha para não demonstrar que queria chorar.
– Não. Você sempre me tratou do melhor jeito possível, com gentileza e respeito e na primeira oportunidade eu te acuso de algo que não fez.
– Deixa, Gizelly. – Rafaella disse, sentindo Gizelly entrelaçar os dedos nos seus. – Eu vou cancelar o bloqueio da entrada desse homem na cidade e quando quiser te concedo o divórcio. Posso comprar uma casa para vocês e....
– Rafa! – Gizelly chamou, tocando seu polegar e indicador no rosto de sua esposa, fazendo Rafaella lhe fitar. – Eu não quero ficar com ele.
– Mas...
– Mas nada! Só... Me deixe cuidar de você e tudo voltar a ser como antes entre nós. Por favor... – Sussurrou.
– Por quê?
– Eu sinto sua falta. – Confessou com a voz falhada e mordeu seu lábio inferior. Seu olhar alternava entre os lábios de Rafaella e os olhos. – Eu sinto muito a sua falta e eu sei que eu fui uma idiota, mas por favor...
– Vocês vão descer logo? Bianca está devorando o café da manhã. - A voz de Rosália, seguida de batidas na porta, fez ambas suspirarem.
– Continuamos mais tarde? – Rafaella perguntou e Gizelly assentiu, indo seguir Rosália escada abaixo com a expressão branda, porém, em seu mais profundo interior pedia para que Rafaella a perdoasse por ter sido tão imbecil.
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A sorte da Gizelly é que a Rafa é muito boa.
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Over the Rainbow (Girafa)
FanfictionOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Gizelly, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Talles Gripp, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Márcia, deseja que a filha co...