Decision

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•Braco•

Desde que decidimos morar todos juntos na casa do lago, as coisas tem sido mais tranquilas e seguras. Ery não havia dado notícia desde o dia do ataque, então supus que estivesse chateada pela decisão que tomamos de deixá-la aos cuidados do tio.

Nergo e eu passávamos muito tempo estudando maneiras de libertá-la da vista dos Amaterasu, mas aquela cabeça dura não daria o braço a torcer e continuaria lutando contra a assembléia para tomar seu lugar de direito. Ela estava certa, de fato, mas continua sendo uma missão suicida da parte dela.

Meu irmão buscava alguns artigos de magia demoníaca e híbrida. Nergo possuía opiniões muito radicais com relação a decisões que deveriam ser tomadas.

- Pare de me olhar com essa cara de julgamento, sabe que estou certo. - ele dizia sem tirar os olhos do livro.

- E se ela se perder para sempre?

- Ela já se alimenta magicamente das almas de seus sacrifícios, não vai ligar de fazer aquelas coisas no despertar. - Nergo finalmente se virou para mim - Nem sabemos se é lenda ou realidade, então teremos que testar.

- Isso é perigoso demais, Nergo. - levantei um pouco a voz - Ela pode machucar os outros moradores da casa e jamais se perdoaria por isso.

- Slenderman a pararia, sem dúvidas. Infelizmente ela não sairia intacta dessa interrupção.

- Meu irmão, você sabe bem que Ery tem muito mais poder do que o homem sem face. Blader e ela poderiam acabar com a criatura em poucos minutos, mas menosprezam os poderes demoníacos.

- Ery tem o sangue demoníaco dos dois lados, acho que é hora de avisarmos a ela sobre isso. - Nergo parecia entediado.

- Nenhum de nós é puro, afinal de contas. - ri pelo nariz - Não entendo como ela nunca perguntou pela avó, parece não se lembrar da mesma... - meu irmão arqueou uma sobrancelha - Você mexeu nas memórias dela, não é?

- Você é lerdo demais, Braco. - revirei os olhos ao ver o sorriso debochado - Por que acha que nunca a deixei chegar perto de magia demoníaca? Ery acha que é uma bruxa de cura até hoje e que seus poderes de fogo vieram de Offenderman.

- Certo. - suspirei profundamente e me encostei na poltrona - Deixo o plano com você, meu coração mole vai atrapalhar tudo.

- Mantenha esse seu lado molenga para quando tiver que me culpar pela minha insensibilidade. - ele carregava um pouco de mágoa em sua voz - Ainda teremos que esperar um longo tempo, ela precisa superar o trauma para iniciarmos o processo.

- Acho que deveríamos falar com ela sobre isso.

- O momento ainda não é propício. Talvez Slenderman não vá gostar do que estamos planejando. - o olhei com dúvida - Não consegue controlar a própria filha, quem dirá Ery.

- Conheço dois caras que vão conseguir domar bem aquela fera. - arqueei uma sobrancelha - Vamos, se sairmos agora chegamos na casa de Offenderman antes do anoitecer.

- Vá ligar o carro, vou chamar Miriam e Raya. - assenti ao vê-lo subir as escadas com pressa.

Nossa prima havia deixado o carro conosco após se hospedar na mansão e voltar para seu antigo trabalho, então usamos para viagens mais longas por ser maior e mais confortável. Abri as janelas após rodar a chave e encarei a imensidão da floresta por algum tempo, até uma silhueta chamar minha atenção: um rapaz de máscara azul e cabelos castanhos andava calmamente até mim, parando ao meu lado como se fosse uma situação completamente normal.

- Você deve ser o Braco, estou certo? - ele se inclinou na porta e aguardou minha resposta.

- Quem deseja saber? - respondi com dificuldade, pois tentava evitar o cheiro putrefato do líquido preto em seus olhos.

- Me chamo Jack, sou morador da mansão de Slenderman.

- O canibal? Veio aqui pra me comer? - disse em tom de brincadeira.

- Eu não como porcaria. - respondeu com seriedade, me fazendo rir amarelo - Trouxe uma carta de Ery, talvez eu volte de tempos em tempos para trazer outras.

- Certo... - peguei o papel que ele esticou para mim e a letra era realmente dela - obrigado.

Jack saiu sem dizer mais nada, então guardei o papel no bolso para ler mais tarde. Os demais chegaram e entraram rapidamente, fazendo-me empurrar o freio de mão imediatamente e iniciar nosso trajeto.

Todos foram em silêncio até o local, Miriam parecia extremamente ansiosa com tudo que estava acontecendo. Raya roía as unhas enquanto mantinha o olhar perdido no vidro da janela. Nergo mantinha os músculos tensionados e eu apertava o volante com uma força exagerada. Foram seis longas horas de carro e, por coincidência, Offenderman estava sentado em um banco de madeira perto das roseiras quando chegamos, como se estivesse esperando por nós.

- Acho que sei a quem Ery puxou a expressão que faz quando está nervosa, vocês parecem até que estão diante de uma criatura de quase três metros que pode matar vocês a qualquer momento. - o sorriso dele se alargou - Entrem, vamos deixar as brincadeiras para depois.

Nos entreolhamos e o seguimos até a sala de estar, onde Offender nos pediu para que sentássemos.

- Consegue fazer com que Brian venha para cá? Precisamos que ele esteja presente na conversa. - Nergo disse.

A criatura assentiu e chamou por um nome estranho, fazendo um rapaz de moletom preto, cachecol listrado e uma máscara preta e branca aparecer ao seu lado. Imediatamente, ele pediu que fosse até o de casaco amarelo e o trouxesse para cá.

Em cerca de uma hora, o garoto dos olhos esverdeados estava conosco.

- Tenho medo de perguntar, mas o que tá rolando? - Brian parecia perdido.

- Muito bem, precisamos falar sobre Ery. - Nergo levantou-se e iniciou seu discurso - É hora de saberem a verdade sobre o motivo dela estar sendo caçada. Há muito tempo, nosso avô Edgar se deitou com uma mulher que se chamava Celynne - vi o sorriso de Offender se desfazer, talvez ele já a conhecesse - e logo depois descobriu que ela era ninguém menos que o braço direito de Lillith, a mãe dos demônios. Celynne engravidou de Clara e pediu para que Edgar cuidasse dela.

- Depois de tudo isso, foi descoberto pela assembléia bruxa de que Clara havia gerado um demônio perfeito, mas não sabiam qual dos filhos era. - continuei - Nosso avô seria o próximo ancião da assembléia por ser o mais forte, entretanto não era imortal e acabou falecendo por um câncer. Tentamos fazer com que Ery não assumisse a liderança para não se expôr, mas ela sempre quer tomar a frente e exigir o que é seu por direito. Éramos a próxima família a liderar todo o convento, entretanto a suposta mestiçagem de Ery não nos permitiu, então foi passado para a família Amaterasu. - massageei as têmporas e limpei a garganta antes de continuar - O problema é que nenhum deles é imortal, então estão atrás disso a todo custo, mas descobriram uma maneira fácil de conseguir o feito.

- Sangue de demônio... - Miriam sussurrou.

- Estão dizendo que querem matá-la para tomar seus poderes? - Offenderman perguntou e assentimos - Qual o motivo de não contarem isso a ela?

- Porque Garthos foi morto no lugar dela. - Brian arregalou os olhos com meus dizeres - Ele sabia que a caçavam, então colocou o manto que ela deveria usar e morreu em seu lugar, mas ela nunca soube disso, acha que o tiro que recebeu foi acidental.

- E se souber disso, vai extinguir toda a raça bruxa por vingança. - o loiro afirmou.

- Precisamos que ela desperte sua verdadeira forma e para isso, vamos precisar de ambos. Offender, cuide para que seu irmão não descubra e Brian - me virei para ele - vamos lá fora, sua parte é um pouco mais delicada. - ele assentiu e me seguiu - Preciso que parta pra cima dela e cure seu trauma.

- Estou trabalhando nisso, tem sido difícil.

- Eu imagino. Precisamos dela curada, pois depois do despertar, ela será uma súcubo completa e, bem...

- Ery vai sugar todas as minhas energias em sua primeira alimentação. - sorriu de canto - Por sorte, sou imortal.

- Devo avisar que ela deve se saciar, então terá que ser no tempo dela. - a conversa já estava me deixando desconfortável - Apenas esteja preparado.

Me virei de costas e pude ouví-lo rir pelo nariz. Que Ery tenha piedade desse pobre garoto.

Ery | Slender's ProxyOnde histórias criam vida. Descubra agora